Em entrevista à TV NBC, o pai do suspeito descartou motivações religiosas e apontou para a homofobia. “Isso não tem nada a ver com religião”, afirmou, acrescentando que seu filho ficou transtornado, há mais ou menos dois meses, quando viu dois homens se beijando durante uma viagem a Miami. “Peço desculpas pelo incidente. Não éramos conscientes de que estivesse premeditando algum tipo de ação. Estamos em estado de choque da mesma forma que todo o país”, disse Mir Siddique, pai de Omar Mateen.
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Posteriormente, vários antigos frequentadores da boate relataram que viram Omar na Pulse. “Às vezes ele ia para um canto, sentava e bebia sozinho, outras vezes ele ficava tão bêbado que falava alto e ficava agressivo”, afirmou uma dessas testemunhas, Ty Smith, ao jornal Orlando Sentinel.
Esse foi o maior massacre nos Estados Unidos desde o atentado de 11 de setembro de 2001 ao World Trade Center. O número de mortos ainda pode subir devido à gravidade do estado de saúde de alguns feridos. A Pulse tornou-se conhecida não apenas como ponto de balada, mas também por promover festas e eventos de conscientização e ativismo de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT).
O presidente norte-americano Barack Obama afirmou que o massacre poderia ter ocorrido em qualquer comunidade dos Estados Unidos e disse que “este é um dia especialmente doloroso para os nossos amigos que são gays, lésbicas, bissexuais ou transgêneros”. Em pronunciamento feito neste domingo após os ataques, Obama acrescentou que foi um ato “de terror e de ódio”. O presidente voltou a condenar a livre comercialização de armas no país, alertando para o fato de que os armamentos usados – um fuzil AR-15 e uma pistola semiautomática – pelo assassino foram obtidos legalmente.
Desde dezembro de 1791 a Segunda Emenda da Constituição dos Estados Unidos assegura o direito de portar armas, algo cada vez mais questionado na sociedade americana. Segundo a GunPolicy, ONG que mantém na internet o maior acervo de informações sobre a disponibilidade e utilização de armas de fogo no mundo, há cerca de 270 milhões de armas nas mãos de civis no território norte-americano, onde vivem aproximadamente 316 milhões de pessoas.
As autoridades estadunidenses também investigam possíveis laços entre o assassino e grupos extremistas islâmicos. No passado, Omar Mateen foi alvo de investigação nesse sentido, mas à época os órgãos de segurança concluíram que tais ligações inexistiam. Horas depois da divulgação do atentado, ativistas radicais comemoraram o massacre em redes sociais como uma vitória do Estado Islâmico e uma derrota da “decadente civilização ocidental”, ao qual tais organizações frequentemente associam a homossexualidade.
O Estado Islâmico publicou uma foto do autor do crime em sua conta no Twitter, mas não assumiu responsabilidade pelo ato.
Um porta-voz do FBI disse que o caso está sendo investigado como possível ato de terrorismo. As autoridades, porém, apuram se foi um ato de terrorismo doméstico ou internacional ou ainda se foi a ação de um “lobo solitário”, isto é, de um terrorista agindo por conta própria.
Em qualquer hipótese, o massacre reacende a discussão sobre a homofobia. As 50 mortes representam o ápice de uma tragédia anunciada que espalha sangue e terror por todo o mundo. O Brasil é considerado, por exemplo, a nação que mais mata travestis e transexuais em todo o globo. Foram 600 mortes em seis anos, de acordo com relatório da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.
Segundo levantamento feito pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), sob a coordenação do antropólogo Luiz Mott, somente no ano passado foram mortos 318 homossexuais no país. De acordo com o GGB, mais antiga entidade brasileira de defesa dos direitos LGBT, 52% das vítimas foram gays, 37% travestis ou transsexuais, 16% lésbicas e 10% bissexuais. Conforme reportagem do jornal baiano A Tarde, o número é um pouco menor que o verificado em 2014, quando foram registrados 326 homicídios.
Conforme o GGB, 2016 começou “ainda mais homofóbico” no Brasil. A entidade registrou 30 assassinatos de LGBT em apenas 28 dias, ou seja, um a cada 22 horas. Especialistas identificam conteúdo homofóbico em toda morte de homossexuais. No caso brasileiro, tal conteúdo é explícito na esmagadora maioria das situações, que costumam ser marcadas por atos de violenta extrema, tais como muitos tiros ou facadas, morte antecedida de tortura ou espancamento, esquartejamento, exposição pública da vítima etc. Mesmo quando o homicídio é cometido por integrante da população LGBT, também se atribui conteúdo homofóbico, dada a dificuldade que o preconceito e a rejeição social impõem a muitos gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros para se aceitarem – ou aceitarem outros LGBT – como são.
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Matéria atualizada às 2h38 de 16 de junho de 2016 para incorporar novas informações sobre o autor do atentado, Omar Mateen, e sobre as vítimas da homofobia no Brasil.