Alguns dos principais fiadores da gestão Michel Temer, denunciado por corrupção passiva e fragilizado no Palácio do Planalto, já dão sinais de que a saída do presidente pode estar mais próxima do que parece. Próceres de partidos como PSDB e DEM, dois dos principais partidos da base governista, já falam abertamente na substituição do peemedebista, que participa da reunião do G-20 na Alemanha. A solução para o impasse, a menos de um ano do impeachment de Dilma Rousseff, foi apontada pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que mantém o comando tucano depois do afastamento temporário do colega Aécio Neves (PSDB-MG) – presidente licenciado do PSDB, Aécio foi alvejado no mesmo caso que ameaça Temer, as delações de executivos do Grupo JBS.
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Antes comedido ao falar sobre uma nova troca no Planalto, o senador cearense já diz acreditar que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), agora primeiro na linha sucessória presidencial desde a queda de Dilma, pode significar uma transição de governo viável – que Temer dá sinais de não ser mais – até as próximas eleições, em 2018. “Rodrigo Maia tem condições de juntar os partidos ao redor de um nível mínimo de estabilidade que o país precisa. Estamos chegando na ingovernabilidade e tem que haver agora um acordo para dar estabilidade mínima para se chegar a 2018”, declarou o cacique tucano, ontem (quinta, 7), a jornalistas em seu gabinete no Senado. As declarações foram veiculadas na edição de ontem (quinta, 6) do Jornal Nacional, da TV Globo.
Sabedor de que a tendência da bancada do PSDB é cada vez mais de desembarque do governo Temer, Tasso já vislumbra um futuro próximo com o DEM, partido que é principal parceiro dos tucanos no Congresso, no comando do país – nesse sentido, o tucano tem dito que o problema é Temer e seu entorno de ministros e auxiliares investigados, mas não sua política de governo, a ser apoiada desde que com pessoas livres de problemas com a Justiça.
“A equipe econômica tem que ficar e o governo tem que ser o mais próximo possível do intocável na postura ética”, acrescentou Tasso, para quem a cada “fato novo”, seja ou não na Operação Lava Jato, a crise política fica mais insolúvel e a gestão peemedebista vai “chegando à ingovernabilidade”. Defensor da gestão Temer desde o pós-impeachment, até o vice-presidente do Senado, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), agora diz que o PSDB paga preço “altíssimo” por apoiar a gestão peemedebista e já reconhece que o governo está “próximo do fim”.
“Se for ouvir o grito rouco das ruas, o partido já não estaria mais no governo. O partido tem pagado um preço político altíssimo por ter muita responsabilidade com o país e manter, até aqui, o apoio a um governo que é o mais impopular da história”, observou o tucano.
Com a ida de Temer para a reunião do G-20, que junta na Alemanha as 20 mais importantes economia, Maia recusou assumir a Presidência da República e, em missão oficial, partiu para a Argentina. Entre outros compromissos, o deputado participou do Fórum de Relações Internacionais e Diplomacia, com direito a foto nas suas redes sociais e declarações sobre o momento do país – fala costumeira de chefes de Estado em visita ao exterior.
“Precisamos ter muita tranquilidade e prudência neste momento. Em vez de potencializar, precisamos ajudar o Brasil a sair da crise”, escreveu Maia em sua conta no Twitter, ao lado de uma foto do evento. “Temos que estabelecer o mais rápido possível a agenda da Câmara dos Deputados. Não podemos estar satisfeitos apenas com a reforma trabalhista. Temos Previdência, Tributária e mudanças na legislação de segurança pública”, acrescentou.
Xadrez na CCJ da Câmara
A mudança de postura dos principais aliados de Temer vem na esteira da escolha do relator da denúncia por corrupção passiva que ameaça o presidente na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. De perfil independente, o deputado Sérgio Zveiter (PMDB-RJ), ex-presidente da seccional fluminense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), já afirmou não temer pressão do governo e que seu parecer será estritamente técnico, e não político.
Enquanto os tais fatos novos continuam a assombrar Temer nas páginas policiais – como a iminente delação premiada do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do operador financeiro do PMDB Lúcio Funaro, ambos condenados e presos na Lava Jato –, líderes da base aliada de Temer na Câmara troca membros titulares na CCJ por deputados dispostos a assumir a defesa do presidente. Mas, com a tendência de que todos os seis tucanos no colegiado votem pela procedência da denúncia, o apoio governista tem diminuído nos últimos dias.
Caso a CCJ aprove a continuidade da denúncia contra Temer, um parecer com o resultado da deliberação será encaminhado ao plenário, onde o conjunto dos 513 deputados se reúnem. sob o comando de Rodrigo Maia, para a decisão final. São necessários ao menos 342 votos para que a Câmara autorize o Supremo Tribunal Federal (STF), onde Temer é um dos diversos políticos investigados na Lava Jato, a levar adiante a acusação da Procuradoria-Geral da República, com provável transformação do caso em ação penal – estágio do processo em que o presidente estaria na condição de réu. O peemedebista precisa, em ano pré-eleitoral, de 172 votos para se salvar do afastamento por 180 dias, quando estaria sob julgamento no STF.
Fator PMDB
Até mesmo dentro do próprio partido Temer tem visto parlamentares antes alinhados ao governo se juntar aos dissidentes para reforçar o coro por sua saída do Planalto. Um dos fundadores do PMDB, o deputado Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) – que, aliás, foi à Argentina na comitiva parlamentar de Maia – já declarou que votará a favor do acolhimento da investigação por parte da Câmara.
“Em toda minha vida pública eu fui a favor de que se investiguem denúncias graves, que é o caso. Sou do partido do presidente, mas voto como minha consciência. Por isso voto para que se prossiga a investigação. Que defesa e acusação possam se colocar com propriedade”, disse o deputado veterano, segundo a edição online do Jornal do Commercio da última quarta-feira (5). Jarbas disse ainda que esperou por explicações convincentes de Temer sobre a acusação de corrupção, mas viu o presidente apenas atacar a pessoa do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, responsável pela denúncia.
“Eu sigo aguardando as explicações legais e formais do presidente Michel Temer, que ao longo do processo deve fazer isso. No pronunciamento feito na tarde desta terça-feira [27/jun], o presidente se concentrou em desqualificar o trabalho e a pessoa do procurador Rodrigo Janot. De forma que sigo na expectativa de ele rebater tecnicamente, e nos termos da lei, o mérito das denúncias feitas e apresentadas ao STF”, concluiu o parlamentar pernambucano, referindo-se ao discurso em que Temer classificou a denúncia de Janot como um “ataque injurioso, infamante”.
Levante em Minas
Nesta sexta-feira (7), em reunião da executiva estadual, o PMDB de Minas Gerais protagonizou o que pode ser a maior debandada do governo dentro do próprio partido do presidente. Durante o encontro, a grande maioria dos peemedebistas manifestou descontentamento com os rumos do governo Temer, com a recorrente queixa de que a bancada de seis deputados mineiros na Câmara não é devidamente contemplada – um dos postos pretendidos pelo grupo é o Ministério da Cultura, mas não há sinalização de que o comando da pasta vá para o PMDB.
Um das principais lideranças do PMDB de Minas, o ex-governador Newton Cardoso, pai do deputado Newton Cardoso Júnior (PMDB-MG), liderou na reunião a corrente de críticas à gestão Temer. Em maio de 2016, depois que Temer tomou posse interinamente, Newton Jr chegou a postar foto com o presidente anunciando que seria o ministro da Defesa – o que, como se sabe, não aconteceu, irritando o pai do parlamentar. Em contrapartida, Temer foi defendido no encontro da executiva pelo 1º vice-presidente da Câmara, Fábio Ramalho, um dos poucos peemedebistas de Minas ainda no apoio ao governo.
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