Fábio Góis
Pré-candidata do PV à Presidência da República, a senadora Marina Silva (AC) recebeu há pouco em seu gabinete a presidente de honra do Psol, a ex-senadora Heloisa Helena (AL), para anunciar a costura do que pode ser uma aliança entre os partidos para as eleições do próximo ano. Nos próximos dias, ambas as legendas formarão comissões para “formalizar o processo de discussão com o Partido Verde”, como adiantou Marina em entrevista coletiva concedida ao lado da provável aliada. Em 2006, Heloisa Helena teve 6,8% dos votos na eleição presidencial. Na última pesquisa CNT/Sensus, divulgada no dia 23 de novembro, Marina aparece com 5,9%.
“Estou recebendo pela primeira vez, oficialmente, essa manifestação por parte da presidente do Psol, minha amiga Heloisa Helena, de que desejam que possamos aprofundar as questões de parte a parte, para que possivelmente possamos caminhar juntas, e juntos os partidos”, disse Marina, antes de abraçar Heloisa. “A partir de agora, o PV vai estabelecer a sua comissão, para que a gente possa aprofundar esse diálogo.”
Marina lembrou que, a partir de agora, as conversações serão conduzidas pelas comissões partidárias. Ainda restam questões e diferenças programáticas partidárias a serem resolvidas, lembrou Heloisa. A despeito do acordo preliminar, as duas negaram a hipótese de, uma vez concretizada a aliança, Heloisa vir a ser a candidata a vice-presidente na chapa de Marina.
“Sabemos que temos algumas diferenças, em termos programáticos, e mesmo a visão de partido, mas esperamos que o diálogo viabilize a superação dessas dificuldades”, completou Marina, acrescentando que, informalmente, as conversas entre as duas já vinham acontecendo.
“É uma alegria estar aqui”, disse Heloisa, sublinhando os “laços afetivos respeitosos” que a unem a Marina e brincando ao dizer que a imprensa havia tirado o caráter informal da reunião. “Lógico que a decisão de caminhar juntas em 2010 não é pessoal, porque, se fosse, tenho certeza de que a aliança já estava constituída. Mas respeitamos as instâncias partidárias.”
Amigas
A iniciativa partiu do Psol. Segundo Heloisa Helena, o partido primeiro formou uma comissão e sugeriu ao PV que fizesse o mesmo, para que então fossem iniciados os diálogos. Obviamente, questões ambientais, econômicas, legislativas e partidárias estarão em pauta. Com ênfase nos “pontos de identidade”, como frisou a ex-senadora. O diretório nacional do Psol se reúne nos dias 5 e 6 de dezembro, ocasião em que já deve receber as primeiras deliberações das comissões.
“Gostaríamos que alguns pontos já pudessem estar sendo discutidos nessa reunião, embora, pela nossa dinâmica de Congresso e estatuto, essa é uma decisão que dar-se-á na Conferência Nacional Eleitoral do Psol, em janeiro”, adiantou Heloisa.
“Da minha parte, quero agradecer. A Heloisa tem se emprenhado muito nesta empreitada para que o Psol e o PV possam superar as dificuldades e possamos caminhar juntos”, emendou Marina, agora dirigindo-se à aliada.
“É uma alegria tê-la aqui. É claro que somos amigas, nos respeitamos e temos trajetórias parecidas. Ainda há pouco, nós dizíamos que esse país de tantas riquezas e belezas precisam aprofundar as soluções. Ela [Heloisa] vem de uma realidade semelhante à minha, onde faltava água. E eu venho de uma realidade semelhante à dela, onde tem muita água”, comparou Marina, em referência ao fato de o clima árido de Alagoas e a abundância de águas da Região Amazônica terem resultado para ambas na mesma situação de pobreza.
Em relação à candidata do presidente Lula à sucessão presidencial, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), Marina evitou polemizar. Questionada pela reportagem se o reforço de Heloisa representaria uma ameça a Dilma, a ex-ministra do Meio Ambiente se limitou a dizer que as eleições de 2010 têm um caráter diferencial.
“Tenho dito o tempo todo, e eu espero isso sinceramente, que essas eleições possam recuperar a necessidade e a capacidade de discutir projetos, ideias. Infelizmente, os partidos que têm força foram virando máquinas de ganhar poder. É fundamental que eles se reconstruam e se reconstituam como espaços de debater idéias para que o poder seja uma ferramenta”, criticou Marina.