Ao silenciar sobre o novo depoimento de Marcos Valério Fernandes, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pretende não “contaminar” a nova frente de apuração com um processo que está quase finalizado. Entretanto, essa nova investigação pode não acontecer. Um desses investigadores acredita que o depoimento de Valério – por mais valores e datas que tenha fornecido – é inferior a outras colaborações prestadas anteriormente. “Todas as outras vezes, ele trazia documentos, trazia um cheque. Agora, ele só falou”, disse ao site.
Depoimento de Valério opõe PF e Ministério Público
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O ex-procurador-geral da República Antônio Fernando de Souza, responsável pelo início das investigações do mensalão, compartilha dessa opinião. “Não sei o que o Ministério Público Federal tem a fazer, mas pelo que vi não tem nem o que fazer porque não tem documentos, não tem a data”, disse ele ao portal G1. “Só tem a fala, sem indicação de como confirmar isso, pelo que sondei”, afirmou Antonio Fernando de Souza.”
Procuradoras que tomaram o depoimento de Valério também não confiam totalmente nas declarações dele, segundo a Folha de S.Paulo. Ao jornal, o empresário mineiro diz ter entregue documentos para comprovar o que disse.
Ninguém menciona isso como motivo para um arquivamento. Mas é fato que a presidenta Dilma Rousseff defendeu abertamente o ex-presidente Lula assim que foi divulgado o teor do depoimento de Valério. Isso nunca aconteceu em nenhum episódio do mensalão, quando os ministros foram proibidos de se envolverem com o julgamento, fazendo críticas ao Supremo, aos réus e ao Ministério Público. Esse trabalho coube à máquina partidária do PT e à militância. A assessoria da PF não retornou os pedidos de esclarecimentos feitos pela reportagem.
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Nos últimos dias, policiais e procuradores voltaram a associar o depoimento de Valério à Proposta de Emenda à Constituição que limita os poderes de investigação do Ministério Público. O depoimento do empresário foi prestado em 24 de setembro. Se a PEC estivesse em vigor, dizem os policiais, Gurgel já teria mandado o caso para a Polícia Federal, que, a essa altura, estaria levantando provas, como as quebras de sigilos e analisando os dados recebidos dos bancos.
Os procuradores contestam e chamam essa associação de ingênua. Na avaliação deles, o silêncio de Gurgel é estratégico: tem como objetivo evitar que o clima do julgamento do mensalão seja tomado por novas revelações envolvendo o ex-presidente Lula.