Daqui a pouco mais de dois anos, o Brasil sediará a maior competição do esporte mais popular do mundo, no qual já foi cinco vezes campeão e se tornou uma das suas maiores potências. Deveria ser motivo só de alegria, não fosse uma preocupação: diante das imposições feitas pela Federação Internacional de Futebol Associação (Fifa), o Brasil saberá manter a sua soberania e tirar as vantagens de ser a sede da Copa do Mundo de 2014? Essa dúvida, que paira sobre a cabeça de muitos, é compartilhada por um dos maiores esportistas brasileiros de todos os tempos: o tenista Gustavo Kuerten. Em entrevista ao Congresso em Foco e à Rádio Câmara, Guga Kuerten disse que o país enfrenta uma “queda de braço” com a Fifa. Ele, porém, disse confiar na habilidade brasileira para vencer a disputa.
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Kuerten esteve na Câmara na tarde de 26 de outubro, quando conversou rapidamente com o Congresso em Foco. Na ocasião, ele recebeu o Prêmio Darcy Ribeiro, anualmente concedido pela Comissão de Educação e Cultura da Câmara a três pessoas ou entidades que tenham se destacado na defesa da educação e cultura no país. Guga estava acompanhado da mãe, Alice, e de dois deputados catarinenses, Esperidião Amin (PP) e Jorginho Melo (PSDB). Posou para fotos com parlamentares, assessores e visitantes.
No meio do tumulto entre atender fãs e seguir para a premiação, Guga, como ficou conhecido nacionalmente, teve tempo para uma conversa rápida com o Congresso em Foco e com a Rádio Câmara (ouça a íntegra da entrevista). Ao mesmo tempo em que mostrou um jogo de cintura para responder às perguntas, o tenista deixou clara sua atenção aos desdobramentos dos projetos relacionados ao esporte.
Apesar de ressaltar que não tem “interesse especial” em nenhum projeto atualmente em tramitação no Congresso, Guga reconheceu que a proposta de Lei Geral da Copa é uma “queda de braço” complicada para o governo brasileiro. “Acho que é uma queda de braço bastante difícil”, avaliou. “A Fifa tem as suas imposições, mas da mesma forma o Brasil já tem seus critérios estabelecidos, e o povo está acostumado com essa conduta”, afirmou.
Ouça aqui a entrevista com Guga Kuerten
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A resposta acima veio após a pergunta sobre uma das maiores polêmicas contidas no projeto que regulará, com critérios excepcionais, a Copa do Mundo: a possibilidade de não haver meia-entrada para estudantes e pessoas com mais de 60 anos. Enquanto o benefício para o primeiro grupo está previsto em leis estaduais, o Estatuto do Idoso garante o desconto de 50% em todo o país para espetáculos culturais e eventos esportivos aos mais velhos.
Apesar de considerar essa queda de braço complicada de resolver, Guga mostrou-se esperançoso sobre a possibilidade de um acordo ser alcançado. Para ele, é preciso ter bom senso na discussão. “O nosso país tem essa qualidade, normalmente se adapta bem a essa diversidade de encontrar uma solução pelo bom senso. Não vejo grandes problemas”, disse.
Fifa está cedendo
Por enquanto, o governo brasileiro e a Fifa não chegaram a um acordo quanto à meia-entrada. Porém, a entidade que rege o futebol mundial mudou sua concepção inicial. Antes, não abria mão de preços uniformes para todos os jogos. Agora, já admite a criação de uma categoria com preços mais baixos, destinados especificamente para jovens estudantes, idosos e pessoas com deficiências.
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Guga começou a jogar tênis ainda criança, com seis anos. Profissionalizou-se em 1995. Dois anos depois conquistou o primeiro dos três títulos do torneio de Roland Garros, na França, um dos quatro que compõem o Grand Slam da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP). No total, o catarinense venceu 20 torneios, chegando a ser número 1 do mundo em 2000.
Oito anos depois de chegar ao topo do tênis mundial, Guga se aposentou. Ele declarou na época que não conseguia mais render nas quadras por conta de uma contusão no quadril. Desde então, tem se dedicado ao Instituto Gustavo Kuerten, que foi homenageado com o Prêmio Darcy Ribeiro em outubro.
O IGK trabalha com crianças carentes, desenvolve programas de defesa dos direitos da cidadania e também apoia entidades que trabalhem em prol da sociedade. Na solenidade do prêmio, em discurso, Guga lembrou das recentes denúncias no governo com os contratos celebrados com organizações não-governamentais (ONGs).
“Está se tendo muitas dificuldades porque o próprio nome dessas organizações está sendo muito comentado e julgado por oportunismo e má fé. Um momento delicadíssimo porque, ao mesmo tempo que uma parcela desse setor age em benefício próprio, outra trabalha muito sério”, destacou. Para o ex-tenista, as entidades hoje são alvo de uma desconfiança geral da sociedade, mesmo as que trabalham dentro da lei.
Na visão de Guga, o esporte transforma as pessoas. Boa parte dos projetos do IGK são de inclusão social com base em práticas esportivas para crianças e adolescentes da periferia de Florianópolis. O ex-tenista lembra que chegar ao topo, como ele, é para poucos. Mas é possível se transformar. “Ele consegue fazer a criança sonhar, mas também colocar num grau de normalidade, de regras de conduta, de disciplina”, disse.