Pressionado a divulgar a lista dos suspeitos mortos em confronto com a polícia, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo recuou ontem e apresentou novos números. A secretaria passou de 109 para 110 o total de suspeitos mortos pela polícia, mas reduziu a 79 o número de mortos em represália aos ataques que aterrorizaram São Paulo na semana passada.
Outras 31 mortes ocorreram nas ações policiais em atos criminosos sem ligação com os ataques e classificados pelo comandante da Polícia Militar, coronel Elizeu Eclair Teixeira Borges, de "resistências normais, provenientes de roubos a padarias, casas ou bancos".
Pela nova classificação, dos 79 mortos nos ataques dos criminosos, 62 morreram em "confronto imediato" com policiais. Desses, 40 teriam ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa. Outros 17 suspeitos foram mortos em ações qualificadas como preventivas, casos em que a PM foi chamada pelo telefone. Nove desses 17 mortos teriam ligação com a facção.
"Os cadáveres não sumiram, só sofreram uma alteração na classificação", alegou o secretário de Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, ao explicar a mudança nos números.
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Explicações contraditórias
O secretário da Segurança Pública e o comandante-geral da Polícia Militar, Elizeu Eclair Teixeira, deram explicações contraditórias para a diferença dos dados em entrevista no Palácio dos Bandeirantes.
Saulo afirmou que o governo havia divulgado um dado "bruto" sobre as mortes, com todos os casos de violência ocorridos no período no Estado. Ou seja, haveria casos de mortos que não teriam ocorrido em confronto com a polícia. "Num primeiro momento, nós computamos lesão corporal seguida de morte, suicídio, não importa. Toda morte que não foi natural, portanto foi ao IML, computa."
Já o comandante-geral da PM afirmou que todos foram mortos pela polícia, mas que a diferença se deu em razão de confrontos em casos de crimes comuns. "Casos de resistência seguida de morte normais em assaltos a padarias, bancos e residências", afirmou. Na semana passada, o coronel havia declarado que a criminalidade comum sofrera uma redução de 50% durante a crise provocada pela onda de violência do PCC.
O governo paulista até amanhã para divulgar a relação com o nome dos mortos pedida pelo Ministério Público. O não-cumprimento da ordem implica crime de desobediência, sujeito a pena de 15 dias a seis meses de detenção.
Apesar da pressão, o secretário de Segurança Pública resiste a divulgar a lista. "As informações vão chegar quando estiverem prontas. Quando vão estar prontas? Quando o perito terminar. Pode ser agora, pode ser amanhã, em 72 horas, 90 horas ou mais. As informações estão nos boletins de ocorrência, que podem ser acessados pelos promotores. Se eles precisam de ajuda para pesquisar, podemos ajudar", disse Saulo.