Com a leitura do requerimento de criação da CPI formada só por senadores, para investigar os gastos com cartões corporativos (leia mais), a disputa travada agora pelos senadores será pela presidência e relatoria da comissão. Governistas reivindicam os dois postos de comando.
A líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), deu o tom dos próximos passos das negociações. "Não tenho nenhuma dúvida de que nós vamos ficar com os dois cargos, até porque na CPI Mista [dos Cartões Corporativos] nós negociamos com eles [oposição] o compartilhamento, e mesmo assim eles não se deram por satisfeitos", advertiu a petista.
Para Ideli, a oposição age como se tivesse vencido as eleições presidenciais e tivesse a maior bancada no Senado. "Estranhamente, o conceito de democracia da oposição é o de quem é minoria manda. Não, democracia não é assim. Na democracia, quem tem voto ganha eleição e quem tem voto, na hora do impasse no Parlamento, também vai pra votação. Aquilo que tem mais voto vigora", argumentou a senadora", explicando um dos motivos da objeção governista à instalação de mais uma CPI dos Cartões.
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"O que o governo quer é que o Senado funcione, que a gente possa trabalhar, votar as matérias. Estamos a quatro meses tratando aqui única e exclusivamente desta questão", desabafou Ideli, referindo-se ao tema que domina a pauta "negativa" no Senado e dizendo que "o país está andando".
Ainda de acordo com a petista, a CPI dos Cartões exclusiva do Senado não poderia ser criada, uma vez que, de acordo com o Código de Processo Penal e o Superior Tribunal de Justiça, dois juízes não podem cuidar do mesmo inquérito. Segundo ela, cabe ao juíz mais antigo, no caso a CPI Mista, cuidar das investigações.
Desqualificados
Já o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), refutou entregar os dois cargos para o governo. "Se o critério é de bloco, o principal bloco é o nosso [PSDB-DEM]. Se o critério é de partido, o segundo maior partido é o DEM. Então não há critério nenhum, a não ser da violência, que justifiquem tirarem uma das posições diretivas da CPI da oposição", disse.
Antes da leitura, senadores da base governista e de oposição trocaram farpas sobre a conveniência de criar uma nova comissão de inquérito. O líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), acusou a oposição de quebrar o acordo feito quando a atual CPI dos Cartões, formada por deputados e senadores, foi instalada.
"Entendo isso como uma quebra de compromisso, como uma quebra de entendimento e, havendo quebra de entendimento, não haverá nenhum compromisso do governo para a instalação e funcionamento da CPMI", afirmou.
Demóstenes Torres (DEM-GO) rebateu o governista. "O que está dizendo o senador Romero Jucá não é verdade. O acordo que foi feito foi para que se instalasse a CPMI e que a CPMI objetivamente fizesse a investigação e investigação não aconteceu. Não fizemos acordão algum para que não pudéssemos investigar. O que fez o governo? Colocou a sua tropa de choque, alguns deputados, os mais desqualificados possíveis, alguns que não têm biografia e que, portanto, não se preocupam com ela, com o único objetivo de obstruir as votações", respondeu. (Tatiana Damasceno e Fábio Góis)