Na sessão deliberativa da CPI dos Correios de ontem pela manhã, predominaram as disputas políticas, críticas à CPI do Mensalão e questionamentos sobre qual será o foco da comissão a partir de agora.
Após ouvir em São Paulo o doleiro Antônio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, que disse poder provar o envolvimento de petistas com lavagem de dinheiro, a oposição queria convocar o ex-ministro-chefe da Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência, Luiz Gushiken, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, para explicar suas remessas de recursos para o exterior. O governo, contudo, barrou essas investidas.
Em seguida, os oposicionistas tentaram quebrar os sigilos bancário, telefônico e fiscal do presidente do Sebrae, Paulo Okamoto. A idéia era apurar se Okamoto pagou ou não os empréstimos feitos pelo presidente. Em vão. Tentaram, também sem sucesso, aprovar a convocação de Toninho da Barcelona para novo depoimento – desta vez, no plenário da comissão.
“Mandaram os nomes para a CPI do Abafão”
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Os governistas da CPI dos Correios transferiram ainda a responsabilidade para a CPI do Mensalão sobre futuros investigados. Entre eles, o banqueiro Daniel Dantas, que fez depósitos milionários nas contas do empresário Marcos Valério, o ex-diretor de Engenharia de Furnas Dimas Toledo, o deputado petista José Mentor (SP), relator da extinta CPI mista do Banestado.
Os pefelistas, vencidos, disseram que a comissão do “mensalão” não investigará essas pessoas. “Mensalão é o buraco negro. O que for pra lá será esquecido”, afirmou Onyx Lorenzoni (RS). “Mandaram os nomes para a CPI do Abafão”, completou Antonio Carlos Magalhães Neto (BA).
PublicidadeComissão define próximos depoimentos
Entre outros pedidos, ao final da reunião, foram convocados doleiros suspeitos de terem realizado operações para Marcos Valério, o funcionário dos Correios Maurício Marinho, acusado de corrupção, e o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), que alega ter denunciado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva o esquema de pagamento de mesada a parlamentares ainda no ano passado.
Veja quais foram os requerimentos aprovados ontem:
– Convocação dos doleiros mineiros Jader Kalid e Haroldo Bicalho e Adalberto Youssef;
– Convocação do ex-diretor comercial dos Correios Carlos Eduardo Fioravante da Costa;
– Reconvocação do ex-chefe do Departamento de Administração e Compras da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos Maurício Marinho;
– Transferência de uma série de requerimentos de quebras de sigilos bancário, fiscal e telefônico e audiências públicas para a CPI do Mensalão, como os pedidos para ouvir o ex-vice-governador do DF Benedito Domingos, os deputados Raquel Teixeira (PSDB-GO) e Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO), além do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).
Cerco aos fundos de pensão
Ontem à noite, o presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), acertou com os parlamentares da comissão que vai criar uma nova relatoria para tratar de investigações em relação aos fundos de pensão. A tarefa deve ficar com o deputado ACM Neto.
A idéia é que os trabalhos da CPI sejam divididos a partir de agora em três linhas de investigações: a corrupção nos Correios; as apurações em relação ao esquema montado por Marcos Valério, que incluirá os seus contratos de publicidade com o Banco do Brasil, e os fundos de pensão de empresas estatais.