Fábio Góis
O líder do governo na Câmara, Cândido Vacarezza (PT-SP), convocou entrevista coletiva há pouco para declarar que o chamado “blocão” – grupo partidário formado por PMDB, PTB, PP, PR e PSC –, anunciado ontem (terça,16) para impedir que o PT tenha prioridade na disputa pela presidência da Casa, não existe. Segundo o deputado petista, ainda não houve registro do grupo junto à Mesa Diretora, o que caracteriza a inexistência formal do bloco – que, uma vez mantido, reunirá 202 deputados, número suficiente para derrubar os 88 deputados do PT em uma votação para escolher o novo presidente.
“Você sabem que não existe esse bloco. Existe intenção dos líderes de formar um bloco. O PT não vai entrar nesse bloco. Até agora, a formação desse bloco é uma manifestação de intenção que pode ser efetivada ou não”, declarou o Vacarezza, acrescentando que, segundo o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), a formação extra-oficial do grupo servirá para “apaziguar” a disputa entre os partidos da base aliada. “O que existe é um bloco PMDB-PSC. Só.”
Na verdade, o governo trabalhou desde a manhã de hoje (17) para implodir a tentativa peemedebista de formar o bloco. Foi o primeiro confronto político claro entre os dois principais aliados no futuro governo Dilma Rousseff. Para tentar impedir que o PT, por ter eleito a maior bancada, tenha primazia na disputa pela presidência da Câmara no ano que vem, o PMDB buscou unir-se a outros partidos para se fortalecer. Logo pela manhã, o governo foi a campo para tirar o PP e o PL do bloco peemedebista. O processo teve sucesso. Ficou, porém, dado, o recado do PMDB de que não irá ceder nada facilmente na disputa por poder com o PT na era Dilma.
Implodido, pelo menos momentaneamento, o “blocão”, Vaccarezza procurou pôr panos quentes para diminuir a força do episódio. “O que eu posso garantir para vocês é que não haverá confronto, divergências, entre o PT e o PMDB, e nem entre outros partidos da base aliada. Nós queremos construir um consenso aqui na Casa. Agora, esse bloco é legítimo, como eu disse quando fui informado. É legítimo partidos que quiserem formar blocos manifestarem suas intenções”, completou o deputado petista, negando que tenha lançado seu nome para disputar a Presidência da Câmara.
“Não sou nem candidato do PT ainda. Eu sou um dos nomes cogitados, ainda temos tempo pela frente”, acrescentou Vacarezza. Na verdade, a eleição para as Presidências de Câmara e Senado, quando também serão definidas as composições de ambas as Mesas Diretoras, será realizada em pouco mais de dois meses, no início de fevereiro.
Nada sem Dilma
A reunião que levou ao anúncio da formação extra-oficial do blocão não incluiu o PT. Ao anunciar a iniciativa, o líder Henrique Eduardo Alves disse que não há intenção de “confrontar nem conflitar”, e que nada será feito sem que a presidenta eleita da República, Dilma Rousseff, seja informada. Para Vacarezza, o movimento não pode ser encarado como um “recado” do PMDB – maior partido da base aliada, tanto na Câmara quanto no Senado, com o exercício das duas Presidências.
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“Essa é uma interpretação que estão fazendo. Nós não entendemos como um recado, mas como um direito deles. Mas vamos pensar na hipótese de recado: nós recebemos o recado”, ponderou o petista. “O PT não se movimentará. É claro que isso é mais próprio para que o líder do partido [Fernando Ferro, PE] fale. Estou falando como deputado, não sei qual é a posição política da bancada. No que depender da minha posição, o PT não se movimentará na direção de formar blocos. O PT deverá para se movimentar para formar um consenso na Câmara dos Deputados.”
A despeito das declarações de contemporização do líder peemedebista – ele mesmo um dos nomes mais fortes para suceder Michel Temer (PMDB-SP) no comando da Câmara –, partidos como PP e PR chegaram a considerar a saída do superbloco em tempo recorde, de ontem para hoje (quarta, 17).
Mas, em conversas de bastidor, integrantes dos partidos que aderiram à “intenção” de que fala Vacarezza mantiveram a decisão de fortalecer uma candidatura do PMDB – disposição esta que foi acentuada com a declaração do secretário-geral do PT, José Eduardo Cardozo (SP), um dos coordenadores da equipe de transição entre os governos Lula e Dilma Rousseff, ao lado de figuras como o próprio Temer. “O governo é outro. A conversa agora é outra”, disse o dirigente petista.
“Daqui a pouco, estamos brigando entre nós. E a pior coisa para a Dilma é iniciar um governo com uma divisão como essa. Pode causar sequelas e ressentimentos. Portanto, vamos nos respeitar e fazer um pacto de não agressão”, ponderou mais cedo Henrique Eduardo Alves.
Conhecimento de causa
Ex-presidente da Câmara (2005), o agora prefeito do município de João Alfredo (PE), Severino Cavalcanti (PP), compareceu nesta quarta-feira ao Congresso para visitar alguns colegas. Antes de entrar no gabinete do presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), ele falou ao Congresso em Foco sobre a disputa na base aliada. Segundo Severino, isso atrapalhará a governabilidade na Casa.
“Posso dizer isso com conhecimento de causa, porque eu derrotei o governo. E em todos os cargos que eu ocupei na Mesa – e eu ocupei quase todos, inclusive corregedor-geral –, sempre havia uma fraqueza do governo. Tem de haver uma unidade, senão todos serão derrotados. É preciso que haja consenso”, completou o ex-deputado, que aproveitou para defender o governo Lula.
“Nós temos de pensar mais no país. A Nação precisa que se faça alguma coisa para que ela continue nesse desenvolvimento que o presidente Lula vem fazendo para o país. Nós conseguimos atravessar sem grandes dificuldades uma crise que atingiu o mundo todo, porque havia seriedade no atual governo”, completou o ex-deputado, para quem essa discussão deveria ser travada na próxima legislatura, em 2011.