Fábio Góis
A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), convidada para ocupar a vaga deixada por Antonio Palocci na Casa Civil, disse que fará o que for determinado pela presidenta Dilma Rousseff à frente da principal pasta do governo. ?A presidenta Dilma quer um funcionamento da Casa Civil na área de acompanhamento de processos e projetos do governo. Tive oportunidade de trabalhar com ela em diversos projetos, quando fui diretora financeira de Itaipu. Ela disse que o meu perfil se adequa àquilo que ela pretende?, enfatizou a petista, primeira mulher em 30 anos a exercer uma diretoria da poderosa empresa binacional do setor elétrico.
Antonio Palocci pede demissão do governo
Mesmo com demissão, oposição quer ouvir Palocci
Ao lado do líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), e acompanhada de senadores petistas, Gleisi foi concisa em seu primeiro pronunciamento após a demissão de Palocci ? enfraquecido pelas denúncias de que enriqueceu muito rapidamente no período em que era deputado federal (2006-2010) e coordenador da campanha de Dilma à Presidência. Em menos de dez minutos de fala, Gleisi não quis comentar o enfraquecimento da articulação política do governo ? papel desempenhado principalmente por Palocci ante à ?inércia? demonstrada pelo ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, comentada reservadamente por interlocutores do Planalto e do próprio Congresso.
Questionada sobre o assunto pelo Congresso em Foco, Gleisi disse apenas que fará um trabalho de gestão, ao estilo da própria presidenta Dilma à época da gestão Lula. ?A presidenta Dilma me encomendou um trabalho de gestão na Casa Civil. É esse o trabalho que eu vou fazer?, resumiu, em entrevista coletiva concedida há pouco em uma das comissões do Senado. Ele disse ainda não temer a ?maldição? da pasta ? durante a gestão petista, três ministros já caíram (José Dirceu, Erenice Guerra e, agora, Palocci). ?Não há maldição. Há um projeto extraordinário de transformação desse país. Um país que inclui e muda a vida das pessoas. É com esse projeto que estou comprometida.?
Sorridente, a petista disse que, antes de tomar posse na Casa Civil ? cerimônia prevista para as 16h de amanhã (quarta, 7) ?, subirá pela última vez à tribuna do Plenário do Senado para despedidas e para dar mais detalhes sobre o trabalho que fará.
?Recebi da presidenta Dilma um convite que me honrou e orgulhou muito. Quero agradecer a ela a confiança em minha capacidade de trabalho?, discursou a senadora, dizendo estar consciente do ?desafio grande? que a espera. ?O desafio é muito grande. Vou me dedicar e trabalhar muito para que eu possa entregar o produto que ela quer do meu trabalho, que é o compromisso com a presidenta que eu tenho e o compromisso com o meu país. Sei do tamanho de minha responsabilidade nesse processo.?
Com 45 anos, Gleisi foi chefe de gabinete do então deputado e hoje ministro Paulo Bernardo (Comunicações) antes de os dois se casarem, há cerca 15 anos. Especialista em orçamento, montou uma das primeiras estruturas de fiscalização no Congresso sobre as contas do governo, por meio do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi).
Menção honrosa ao antecessor
Depois dos agradecimentos e dos elogios a Dilma, Gleisi fez uma ?deferência, uma menção especial? ao agora ex-ministro-chefe da Casa Civil. Lamentando o afastamento um dia depois de o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, arquivar procedimento investigativo contra Palocci, a senadora lembrou ter acompanhado o trabalho do correligionário durante transição do governo do presidente Lula. Para ela, Palocci ?foi muito importante no projeto de transformação do Brasil?.
?Para nós também é um momento triste. É uma pena perder o ministro Palocci nesse governo, pela qualidade que ele tem?, declarou Gleisi, deixando a expressão sorridente do início da entrevista.
A despeito da impressão de alguns parlamentares sobre o estilo incisivo de Gleisi na defesa do governo Dilma, em geral a indicação de Gleisi bem recebida no Senado. Como disse o senador Pedro Simon (PMDB-RS), um dos dissidentes da base governista, a senadora ?melhora a imagem da Casa Civil em todos os aspectos?.
?Na prática, ela vai ser a Dilma da Dilma?, comentou Humberto Costa, referindo-se ao perfil técnico de Gleisi. O líder petista lamentou a saída de Palocci, classificando-a como uma perda do governo, ?pior ainda em um momento em que Palocci consegue provar que praticamente tudo o que está sendo dito é ilação?. ?Ele cumpria um papel fundamental no governo. É um companheiro que temos na maior conta.?
Com a saída de Gleisi, a bancada do PMDB, que já é a maior no Senado, cresce ainda mais. O primeiro-suplente da petista é o peemedebista paranaense Sergio Souza, advogado de 40 anos que assume a vaga tão logo sua posse seja formalizada na Secretaria Geral da Mesa. Agora são 20 os representantes do principal parceiro congressista do PT, que passa a ter 14 senadores com a saída de Gleisi.
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