Uma das principais aliadas do ex-presidente Lula no Congresso, a líder do PT no Senado, Gleisi Hoffmann (PR), foi ao plenário nesta segunda-feira (8) para fazer duras críticas à atuação do juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato na 13ª Vara Federal de Curitiba, em relação a um dos processos em que o petista é réu. A dois dias do interrogatório em que Lula e Moro se encontrarão pela primeira vez, Gleisi se referiu ao vídeo, registrado por este site no último sábado (6), em que o magistrado pede para seus “simpatizantes” não irem até ao local do depoimento, diante da possibilidade de confronto entre grupos a favor e contra o ex-presidente – para parlamentar, conduta de quem age como “animador de torcida” (veja íntegra do discurso ao final desta matéria).
Leia também
Leia mais:
Lula e Moro acirram batalha antes de depoimento
“Vossa senhoria é parte, está quase como chefe de torcida, ou melhor, está como chefe de torcida, porque, reiteradamente, tem dito que precisa ir à imprensa, que precisam ser divulgados todos os atos da Operação, todos os atos do Judiciário, para que tenha o apoio da opinião pública. Ora, o seu papel não é buscar apoio da opinião pública, o seu papel é buscar a verdade. Se vossa senhoria precisa inflamar a opinião pública, é porque não tem certeza da verdade, sabe que essa verdade que busca não existe e transforma isso num processo político. É vergonhoso para uma democracia o que nós estamos assistindo nesse processo contra o presidente Lula”, reclamou Gleisi, ela mesma alvo da Lava Jato, mas no Supremo Tribunal Federal (STF).
Para Gleisi, Moro age de maneira tendenciosa ao se dirigir a apenas um dos lados da população. “Por que vossa senhoria gravou um vídeo só dirigido aos apoiadores da Lava Jato? Por que não gravou um vídeo dirigido a todos os cidadãos e cidadãs, à população de Curitiba e do Brasil, fazendo este apelo, para não irem à Curitiba se manifestar? Na realidade, a Lava Jato é conduzida por vossa senhoria, o comandante da Lava Jato. Portanto, vossa senhoria pediu para que não fossem se manifestar em Curitiba os seus apoiadores?”, provocou a senadora.
Além de pedir a suspensão do processo sobre o triplex no Guarujá (SP), a defesa de Lula vai recorrer da decisão do juiz Sérgio Moro de impedir os advogados de gravarem o depoimento do petista nesta quarta-feira (10). O advogado Cristiano Zanin Martins classificou o ato de Moro como “mais uma ilegalidade”. Na manhã desta segunda-feira (8), o juiz também rejeitou o pedido dos advogados para alterar o sistema de captação das imagens, com câmera fixada somente no depoente.
Gleisi reclamou também do fato de Moro ter negado aos defensores de Lula o direito de gravar seu interrogatório. “Tem um ditado no movimento social, de que eu gosto muito, que diz o seguinte: quem não pode com as formigas, não pisa no formigueiro. Então, que agora o juiz Sérgio Moro tenha pelo menos a dignidade de deixar o presidente Lula falar ao vivo no seu depoimento!”, defendeu.
Aécio, PowerPoint, provas
No discurso, Gleisi também fez menção à acusação, com o auxílio de um projetor de imagens em PowerPoint, conduzida em 14 de setembro do ano passado pelo procurador da República Deltan Dallagnol, por meio do qual a força-tarefa da Lava Jato acusa Lula de ser “o grande general” do petrolão. O método escolhido pelos acusadores do ex-presidente como este site mostro na época, virou piada nas redes sociais.
“E esse fato politizado com o presidente Lula não é de agora. Começou com o PowerPoint ridículo, que colocou a situação no Ministério Público a ser motivo de chacota no meio jurídico, e não só jurídico – aquele PowerPoint do doutor Dallagnol, que colocava o presidente Lula como chefe de quadrilha. Por que ele não coloca agora o Aécio Neves [PSDB-MG] como chefe de quadrilha? Por que ele não coloca agora os outros dirigentes de PMDB, de outros partidos? Mas o presidente Lula ele colocou, porque era uma perseguição política”, fustigou a senadora, referindo-se ao colega de Senado que também é investigado no STF por suspeita de envolvimento no petrolão.
Para Gleisi, delatores têm dito que Lula sabia e comandava o esquema de corrupção na Petrobras, e que os orientava a destruir provas, fazem relatos sem apresentá-las. “Chega de falação! Cadê as provas? Nós queremos ver as provas. Cadê a prova de que o presidente Lula é dono de apartamento? Cadê a prova de que ele é dono de sítio? Cadê a prova de que ele pediu terreno ou tem terreno para construir o Instituto Lula? Onde estão as provas? Não estão”, concluiu a senadora, para quem há um movimento dos adversários de Lula no sentido de que seu interrogatório “não saia da sala do Sérgio Moro, a não ser para aqueles momentos de vazamento – que vão acontecer, obviamente”.
Confira a íntegra do discurso:
“Srª Presidenta, Srªs e Srs. Senadores, quem nos acompanha pela TV Senado, pela Rádio Senado e também pelas redes sociais, eu venho hoje a esta tribuna para falar de um dos fatos políticos mais relevantes que eu considero desta semana: o depoimento do Presidente Lula ao Juiz Sérgio Moro, em Curitiba. Digo fato político não da parte do Presidente Lula nem da parte do PT, mas da parte da Operação Lava Jato, do próprio Juiz Sérgio Moro, que politizou esse processo, do início ao fim.
Então, o Presidente Lula vai depor na quarta-feira. A politização do processo gerou uma movimentação de pessoas para acompanhar o depoimento do Presidente Lula. De lado a lado, gente a favor de Lula, gente contra Lula.
O próprio Juiz Sérgio Moro e outras autoridades paranaenses e também autoridades do Judiciário estão preocupadas com o nível de politização e com as manifestações que nós podemos ter em Curitiba. O Juiz Sérgio Moro chegou a gravar um vídeo caseiro, agora no final de semana, pedindo que os apoiadores da Lava Jato não fossem a Curitiba se manifestar.
Eu queria pergunta ao Juiz Sérgio Moro: por que V. Sª gravou um vídeo só dirigido aos apoiadores da Lava Jato? Por que V. Sª não gravou um vídeo dirigido a todos os cidadãos e cidadãs, à população de Curitiba e do Brasil, fazendo este apelo: para não irem à Curitiba se manifestar? Por que V. Sª se refere apenas àqueles que apoiam a Lava Jato? Na realidade, a Lava Jato é conduzida por V. Sª. V. Sª é o comandante da Lava Jato. Portanto, V. Sª pediu para que não fossem se manifestar em Curitiba os seus apoiadores?
Aí, eu tenho outra pergunta a V. Sª: se V. Sª trabalha com o conceito de ‘apoiadores da Lava Jato’ e, portanto, seus apoiadores, poderia por acaso V. Sª estar julgando o Presidente Lula? Como alguém que está ligado, que está dentro do caso, que está no embate do caso pode julgar?
É como se nós tivéssemos um confronto, uma luta livre em que o juiz fosse um dos lutadores. Isso não poderia.
Eu faço essa pergunta porque as revistas que nós temos de final de semana, as revistas semanais, que são todas pró-Lava Jato, enaltecedoras do Juiz Sérgio Moro, contrárias ao Presidente Lula, manifestamente contrárias, com seu editorial contrário, todas tiveram nas suas capas a figura de Sérgio Moro, de um lado, e do Presidente Lula, de outro, lutando, seja com luva de boxe, seja estilo MMA. O mais interessante é que o calçãozinho do Presidente Lula é vermelho, porque vermelho é a cor do PT; e o calçãozinho do Sérgio Moro é amarelo e azul, que é a cor do PSDB, dos tucanos. Então, essas revistas que são apoiadoras de V. Sª, Juiz Sérgio Moro, estão colocando, nas suas capas, V. Sª brigando, com o Juiz Sérgio Moro lutando. Então, eu pergunto: quem está lutando pode julgar? V. Sª, no mínimo, teria que se considerar incapacitado de fazer esse depoimento do Presidente Lula, de estar à frente desse julgamento; V. Sª é parte, está quase como chefe de torcida, ou melhor, está como chefe de torcida, porque, reiteradamente, V. Sª tem dito que precisa ir à imprensa, que precisam ser divulgados todos os atos da operação, todos os atos do Judiciário, para que tenha o apoio da opinião pública.
Ora, o seu papel não é buscar apoio da opinião pública, o seu papel é buscar a verdade. Se V. Sª precisa inflamar a opinião pública, é porque V. Sª não tem certeza da verdade, sabe que essa verdade que busca não existe e transforma isso num processo político. É vergonhoso para uma democracia o que nós estamos assistindo nesse processo contra o Presidente Lula, e, mais vergonhosa ainda, a postura de juiz que teria que ser isento, que teria que ser julgador, estar imiscuído no meio do processo como um lutador, como um animador de torcida, como alguém que quer condenar sem ter as provas, apenas trazendo para o seu lado a opinião pública.
E esse fato politizado com o Presidente Lula não é de agora. Começou com o PowerPoint ridículo, que colocou a situação no Ministério Público a ser motivo de chacota no meio jurídico, e não só jurídico – aquele PowerPoint do Procurador, do Dr. Dallagnol, que colocava o Presidente Lula como chefe de quadrilha. Por que ele não coloca agora o Aécio Neves como chefe de quadrilha? Por que ele não coloca agora os outros dirigentes de PMDB, de outros partidos? Mas o Presidente Lula ele colocou, porque era uma perseguição política.
Depois, o senhor, Juiz Sérgio Moro, vazou, vazou para Rede Globo as gravações que mandou fazer da Presidenta Dilma e do telefonema que fez ao Presidente Lula. Aliás, já havia suspendido quando gravou, na íntegra, até a parte que havia suspendido. V. Sª fez isso! Pode um juiz de direito, que julga, que tem que ser isento fazer algo desse tipo?
Agora, V. Sª pede para que seus apoiadores, os apoiadores da Lava Jato não vão à Curitiba. É muita parcialidade, é muita perseguição, isso é uma afronta à democracia e à Constituição da República.
Eu concedo um aparte ao Senador Humberto Costa.
[…]
Obrigada, Senador Humberto.
O Presidente Lula tem dito reiteradamente: ‘Eu não estou acima da lei, mas também não estou abaixo dali. Quero ser tratado como qualquer cidadão’. É isso o que nós pedimos, só que infelizmente é isso o que não acontece desde o início do processo.
Eu lhe pergunto: se o juiz tem lado, como está mostrando que tem, como pode o acusado esperar algo do processo, a não ser a sua condenação? Só pode esperar isso. Se nós tivéssemos um juiz isento, nós não teríamos essas manifestações, a politização do processo com eles – com o PowerPoint, com os vazamentos de delação, com as entrevistas coletivas dadas. Um juiz não tem que fazer entrevista coletiva, um procurador não tem que fazer entrevista coletiva. Quer fazer política, venha para a seara política. Vai lá, pega o voto do eleitor e vem fazer o debate.
Tem um ditado no movimento social, de que eu gosto muito, que diz o seguinte: quem não pode com as formigas, não pisa no formigueiro. Então, que agora o juiz Sérgio Moro tenha pelo menos a dignidade de deixar o Presidente Lula falar ao vivo no seu depoimento. Porque sabe, Senador Humberto, o Presidente Lula, os advogados do Lula pediram para que fosse gravado na íntegra o depoimento do Presidente, inclusive com eles advogados gravando. Negaram para o Presidente Lula, negaram. Vai ficar a fita com o Moro – porque ele grava, o Juiz Sérgio Moro –, para ele soltar os pedaços que lhe interessam ou para fazer uma linha direta com o site O Antagonista?
O senhor sabe quem é. V. Exª sabe de quem é esse blog, esse site do Antagonista. Um povo de direita, que coloca, dia sim e o outro também, todo mundo do PT para avacalhar e para criticar. Gente que fica lá ditando regras, como se fossem os maiorais e conhecessem tudo, que não aguentam o embate, que aliás quando disseram que um deles ganhou dinheiro do Aécio Neves, vindo de repasse da Odebrecht, endoideceu.
Então é essa gente que fica vazando os pedaços que o juiz Sérgio Moro, que se pretende o maior moralista da história do nosso País, vaza. Quer dizer, não pode ter dois pesos e duas medidas. A conduta tem que ser uma só. Como que o Juiz pode fazer uma coisa dessas? Não dá para aceitar. Não dá para aceitar com o Presidente Lula e não dá para aceitar com ninguém, com nenhum cidadão brasileiro. É isso. Todo mundo tem direito a um julgamento com o devido processo legal e ninguém pode ser condenado antes das provas apresentadas.
Chega de falação! Cadê as provas? Nós queremos ver as provas. Cadê a prova de que o Presidente Lula é dono de apartamento? Cadê a prova de que ele é dono de sítio? Cadê a prova de que ele pediu terreno ou tem terreno para construir o Instituto Lula? Onde estão as provas? Não estão. Aí fizeram toda essa ação midiática, política, que nós nunca vimos no nosso Judiciário, e não aguentam agora com o tranco, querem que o Presidente Lula fique isolado e que o depoimento dele não saia da sala do Sérgio Moro, a não ser para aqueles momentos de vazamento, que vão ter obviamente.
Então eu acho que tem que ter coerência, tem que ter altivez, tem que ter isenção. Que o juiz Sérgio Moro garanta a gravação por parte dos advogados do Presidente Lula do seu depoimento. Ou melhor, se tem tanta certeza da verdade com que lida a acusação, que deixe o depoimento do Presidente Lula ser ao vivo.
Quem sabe faz ao vivo. Ele não sabe tanto? Não é tão senhor da verdade, da razão, do que está no processo? Deixe ser ao vivo. Porque isso é de interesse nacional agora. Nós estamos falando de um Presidente da República que governou este País por oito anos, reconhecido internacionalmente, que tirou o Brasil da miséria, da fome. É desse Presidente que estamos falando. Desse Presidente que está em primeiro lugar nas pesquisas, apesar de ter sua imagem desconstruída todos os dias, por essa mídia que apoia tanto essa Lava jato politizada, como o golpe que retirou a presidente Dilma. É desse Presidente que nós estamos falando.
Então de novo, vou repetir, ‘quem não pode com as formigas, não pisa no formigueiro’. Não pisa no Formigueiro. E a situação é tão esdrúxula que uma juíza lá de Curitiba, atendendo a um pedido do Prefeito de Curitiba, deu um interdito proibitório para as pessoas não se movimentarem em determinados locais da cidade, dizendo o seguinte: que soube que o MST, o Movimento Sem Terra, ia fazer um acampamento nas regiões perto da vara federal onde o Presidente Lula ia depor. Aí disse assim: aqui não, não vai fazer acampamento nenhum. E delimitou um espaço para não fazer. Aí quando o MST disse: bom, então nós vamos acampar na cidade. Também está dizendo que não pode ter manifestação nas praças públicas da cidade. O que é isso? A que tempo nós voltamos, que uma juíza dá uma sentença como essa proibindo manifestação? Que eu saiba nós estamos numa democracia, não estamos numa ditadura. Com que direito ela faz isso, negando a Constituição? Só que nós temos gente que está do lado da democracia. E a Defensoria Pública no Paraná já impetrou um habeas corpus coletivo preventivo contra o estado de sítio que foi definido por essa juíza.
Está aqui no site O Cafezinho, que divulgou agora: ‘(…) Defensoria Pública impetra habeas corpus coletivo preventivo contra Estado de Sítio em Curitiba’. Ou seja, nós vamos ter os direitos da população que quer se manifestar resguardados. A praça é pública! A praça é pública! Ninguém está indo lá para fazer coisa errada. O direito de se manifestar e de protestar é um direito previsto na Constituição.
Só que a situação é pior, Senador Humberto, sabe por quê? Porque essa juíza, que deu essa sentença do interdito proibitório – o nome dela é Diele Denardin Zydek –, é uma militante política. No seu Facebook, há várias manifestações contra o Presidente Lula. Quando o Presidente Lula foi impedido de tomar posse na Casa Civil, a convite da Presidenta Dilma, e o juiz Sérgio Moro, esse juiz isento, divulgou as gravações do Presidente Lula, ela escreveu em seu Facebook: ‘E hoje a casa caiu para o Lula’ – e aplaudiu.
Depois, não contente com isso, fez um outro post, dizendo que a ida do Presidente Lula para a Casa Civil ‘era uma situação vergonhosa, mas não significava que ele ficaria impune, porque a investigação segue, tem possibilidade de prisão’, olha o que ela escreve: ‘É triste ver esse tipo de manobra criminosa’, falando da Presidenta Dilma. E quando ocorreu a condução coercitiva do Presidente Lula, ela aplaudiu e fez um post no Facebook.
São esses os juízes e as juízas com quem estamos lidando neste País. Quer fazer política? Este País é um País democrático. Faça política, mas venha para a cena política. Se é juiz, não tem que fazer militância política, nem em Facebook, nem na imprensa. Não tem que ficar dando coletiva, não tem que ficar incitando, não tem que ficar pedindo apoio. Ou cumpre a Constituição e o devido processo ou pede demissão, porque não é certo isso! Como é que nós asseguramos o Estado democrático de direito neste País?! Como que as pessoas vão se sentir seguras?!
Estou dizendo isso que se faz com um Ex-Presidente da República. Imagine o que esse pessoal faz, o que esses juízes, esses promotores fazem com aqueles que não têm referência nenhuma na sociedade, que não têm cargos, como agem? É vergonhoso isso! Vergonhoso! Não têm moral para criticar inclusive o sistema político.
Eu acho que nós temos que tomar medidas aqui. Sem dúvida nenhuma, o CNJ [Conselho Nacional de Justiça] tem que se manifestar a respeito dessa juíza. Não pode uma juíza que faz militância política dar uma sentença dessa, de interdito proibitório, para as pessoas não se manifestarem a favor do Presidente Lula. Não fomos nós que politizamos esse processo. Não foi o PT. Não foi o Presidente Lula. Quem politizou esse processo foi o Judiciário. Tem nome e endereço: foi o juiz Sérgio Moro. Portanto, tem que responder por isso. E se acontecer qualquer coisa em Curitiba, amanhã, antes que digam que fomos nós, que foram os militantes do PT ou de Lula, são eles os responsáveis por terem, desde o início, politizado esse processo, por terem conflagrado a opinião pública brasileira, por terem colocado uns contra os outros.
Eu lamento muito, mas queria deixar registrada, desta tribuna, a responsabilidade do Judiciário e do Ministério Público brasileiro em relação a essa situação que acontece hoje, no Brasil.
Obrigada, Sr. Presidenta [Regina Souza, PT-PI]”