A minha geração é a dos que nasceram no final da grande guerra e sabedora dos sacrifícios do povo das nações envolvidas no conflito. De lá para cá, o mundo conseguiu sobreviver com enfrentamentos localizados, mas sem entrar no horror da guerra global. No Brasil, neste período, só tivemos quatro governos que conseguiram começar e terminar mesmo que suando a camisa: Getúlio, JK, Sarney, FHC e Lula.
Getúlio, depois de ditador, voltou eleito democraticamente e se matou em meio a denúncias; JK mudou o país e saiu perseguido pela ditadura; Sarney assumiu com a morte de Tancredo e, até hoje, é criticado; FHC fez o Plano Real e, parece, não ter saído do governo; e, finalmente, Lula, o menino pobre e iletrado do sertão pernambucano que chegou com fama de pai do povo, vive às voltas com a polícia e a Justiça, tentando se livrar de tantas acusações de corrupção.
Muitos de nossa geração foram às ruas contra o regime de exceção e, com a anistia, assumiram as rédeas da política juntamente com alguns que, mesmo não saindo do país, fizeram os seus papéis de líderes. É uma grande parcela dessa gente que está encurralada pelo Ministério Público a quem, na Constituinte, deram independência e poder.
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Naquela época, – até hoje o mistério não foi desvendado – Jango fez a viagem sem nem saber o que faria por lá. Retornou para assumir o cargo, cedeu poderes, e acabou no Uruguai.
Temer corre o risco de ter que ficar nas terras geladas e ver, de longe, seus mais próximos auxiliares removidos do palácio por ordem judicial e levados à Papuda em prisão preventiva. Lá, poderão ter a companhia do presidente do PSDB, Aécio Neves, igualmente acusado de ilícitos.
PublicidadeO Palácio do Planalto pode estar vivendo a mesma sina do Palácio Guanabara. Sérgio Cabral, o mago das finanças que, mascarando as suas investidas aos cofres públicos, criou as UPPs para mandar a concorrência para fora do estado e, em silêncio, abarrotar seus esconderijos de reais, jóias, dólares e pouca vergonha.
Nas declarações de autoridades, uma palavra tem sido proferida com constância: ingenuidade. É o presidente resmungando que o tal “Boi da Cara Preta” o assustou, e ele, ingenuamente, o recebeu na calada da noite para conversar sobre “inaudíveis” assuntos. Foi, também, com ingenuidade que Aécio pediu um empréstimo ao mesmo boi que o acabou chifrando.
Esta semana, deve explodir a delação de Palocci com provas das falcatruas dele e de seus companheiros. A denúncia de Janot contra Temer estará disputando audiência com Palocci enquanto o juiz Sérgio Moro deverá encerrar o primeiro processo contra Lula, condenando-o e determinando a sua prisão. Ele irá de punho fechado, cercado de policiais para protegê-lo da sanha de povo ingênuo que o elegeu e que come o pão que o diabo amassou.
Não se sabe como sairemos da crise, especialmente ao assistirmos políticos que, renomados e com mandato, sobem à tribuna do Congresso Nacional bradando que o país não tem líderes que possam assumir o governo; outros se calam, temerosos com denúncias com algum fundo de verdade.
Enquanto isto, na República de Curitiba, torcedores ensandecidos gastam suas energias agredindo seus adversários futebolísticos em vez de se unirem em paz para combater o inimigo comum que são os ladrões sem armas que nos roubam dia e noite.
Neste Brasil de tantas almas puras, ingênuo também fui eu ao acreditar nos políticos que conheci, admirei, votei, colaborei, elegi e, hoje, os vejo na penumbra do ocaso presos dentro deles próprios, aguardando a chamada diária dos presídios.