Fábio Góis
O senador Pedro Simon (PMDB-RS) leu há pouco na tribuna do plenário uma carta endereçada à presidente em exercício do PMDB, Íris Araújo (GO), com um pedido de explicações sobre o envolvimento de “figuras de destaque” do partido, como o do presidente da legenda e da Câmara, Michel Temer (SP), no chamado mensalão do DEM – esquema de pagamento de propina a parlamentares da base aliada, assessores e empresários que, desbaratado na última sexta-feira (27) pela operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal, implodiu o governo do Distrito Federal e pôs o governador, José Roberto Arruda, no epicentro do escândalo. Arruda corre o risco de ser afastado do DEM e já é alvo de sete pedidos de impeachment.
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“Grandes jornais noticiam, hoje [quinta, 3], que existiria um vídeo gravado pela Polícia Federal em 17 de setembro passado, com autorização da Justiça, que envolve figuras de destaque do PMDB, citados pelo pivô das denúncias de Brasília, o ex-policial e ex-secretário [de Relações Institucionais] Durval Barbosa, e o empresário Alcir Collaço, dono do jornal Tribuna do Brasil”, diz trecho da carta, que tem a “companheira Íris” no remetente e considera os diálogos nos vídeos, alguns destacados na missiva, “absolutamente inquietantes”.
“Numa única cena, acabam envolvidos os nomes do presidente nacional do PMDB, Michel Temer, do líder da bancada na Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves [RN], e do deputado fluminense Eduardo Cunha”, diz Simon, acrescentando que não bastam as ameaças de processos dos acusados contra os detratores.
Em discurso contundente e, por vezes, proferido aos gritos, Simon disse nada esperar do atual Parlamento quanto à luta contra a corrupção.
“Não se pode esperar nada deste Congresso. Perdoe, senador Cristovam [Buarque, PDT-DF], mais falo com quase 60 anos de vida pública. Eu não tenho o direito de ter esperança”, disse, acrescentando que também o presidente Lula e o Supremo Tribunal Federal não inspiram esperança, porque nada fariam para combater o mal. “A impunidade é o mal de todos os males.”
Confira a íntegra da carta de Pedro Simon:
“Brasília, 3 de dezembro de 2009
Ilmo. Sra.
Deputada Íris de Araújo
M.D. Presidente em exercício da Executiva Nacional do PMDB
Brasília – DF
Companheira Íris,
O Brasil está estarrecido, desde o final da semana passada, com as imagens exibindo políticos, governantes e parlamentares embolsando maços de dinheiro vivo em cenas de corrupção explícita no âmbito da ‘Operação Caixa de Pandora’ da Polícia Federal, centrada nos gabinetes e nos homens mais influentes do Distrito Federal.
São imagens revoltantes, transmitidas pela TV para todo o país, que provocam indignação na população honesta e brasileira e deixam todos nós, políticos, deprimidos com o despudor a que se pode chegar no trato do dinheiro público desviado por corruptos e corruptores.
O constrangimento é geral, suprapartidário. E atinge, desde ontem, o próprio PMDB, ferido com o envolvimento de nomes ilustres de seu comando nacional com as notícias que agora transbordam os limites do Distrito Federal e da paciente opinião pública brasileira.
Grandes jornais noticiam, hoje, que existira um vídeo gravado pela Polícia Federal em 17 de setembro passado, com autorização da Justiça, que envolve figuras de destaque do PMDB, citado pelo pivô das denúncias de Brasília, o ex-policial e ex-secretário Durval Barbosa, e o empresário Alcir Collaço, dono do jornal Tribuna do Brasil. Agora, os termos das conversas são absolutamente inquietantes.
– Arruda dá R$ 1 milhão por mês para Filipelli – diz Barbosa, citando o governador José Roberto Arruda, principal personagem denunciada, e o deputado Tadeu Filipelli, atual presidente do PMDB brasiliense. O dono do jornal corrige:
– São 800 pau (sic). R$ 500 mil para o Filipelli fazer… vai R$ 100 mil para o Michel, R$ 100 mil para o Eduardo e R$ 100 mil para o Henrique Alves. São 800 paus.
Assim, numa única cena, acabam envolvidos os nomes do presidente nacional do PMDB, Michel Temer, do líder da bancada na Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, e do deputado fluminense Eduardo Cunha.
No mesmo dia, Presidente Íris, em ouras circunstâncias e outros jornais, o presidente Temer é citado numa denúncia de outra investida da Polícia Federal, a ‘Operação Castelo de Areia’, que investiga evasão de divisas e lavagem de dinheiro da empreiteira Camargo Correa. Em 25 de março passado, a PF apreendeu documentos na casa em São Paulo de um alto executivo da empreiteira, Pietro Francisco Giavina Bianchi. Numa planilha de 54 folhas, que aponta a doação não contabilizada de R$ 178 milhões a mais de 200 políticos e vários partidos entre os anos de 1995 e 1998, aparece o nome do companheiro Temer, identificado com nome de Michel ‘Themer’, com 22 cifras registradas com dólares, datas, taxas de câmbio e as conversões para o real. No total, ele seria beneficiário de R$ 410 mil reais de doações naquele período.
Como poderíamos esperar, o presidente Temer nega com veemência a acusação, informando que teve uma única doação de R$ 50 mil da Camargo Correa, oficialmente contabilizada no TRE paulista, na campanha de 2006.
Temer e todos os companheiros do PMDB negam, enfaticamente, o envolvimento nestas operações escusas e anunciam processos na Justiça para contestar seus detratores.
Mas só isso não basta, Presidente Íris.
É preciso mais. Pela direção nacional, o PMDB precisa dar uma cabal satisfação à opinião pública brasileira, cada vez mais perplexa com o que ouve e vê em imagens e palavras eloquentes pelo conteúdo e despudoradas pelo que mostram.
O PMDB, na condição de maior partido brasileiro, hoje obriga as duas maiores bancadas no Congresso Nacional – 95 deputados federais e 19 senadores. Temos nove governadores e cinco vice-governadores. Temos 1.201 dos 5.564 prefeitos do país, dentre eles os governantes de cinco capitais. Temos 910 vice-prefeitos. E temos ainda 8.497 dos 51 mil vereadores espalhados pelo país.
Todos eles e os 190 milhões de brasileiros, dos quais 130 milhões farão fila nas seções eleitorais de outubro de 2010, merecem uma pronta satisfação do comando nacional do PMDB sobre o que há de verdade ou não nestas acusações.
Não podemos conviver com suspeitas, insinuações, dúvidas, maledicências.
Precisamos separar o que é verdade e o que é mentira.
Precisamos distinguir entre os bons e os maus políticos, os homens públicos de bem e os homens publicamente envolvidos com o mal.
Precisamos exaltar a boa política e execrar a política que virou caso de polícia.
É o que espera o Brasil do PMDB.
Confio nas suas providências.
Um abraço fraterno,
Pedro Simon”