O Governo do Distrito Federal, comandado por Agnelo Queiroz (PT), que hoje (13) presta depoimento à CPI do Cachoeira, renovou contrato com uma empresa da família de um ex-deputado filmado colocando dinheiro de propina nas meias, e que, de acordo com grampos da Operação Monte Carlo, tem ligações com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e a empreiteira Delta. A Serquip – Serviços Construções e Equipamentos Ltda. – faz a incineração de lixo em Brasília e 30% de seu capital pertence ao filho do ex-deputado distrital Leonardo Prudente (DEM).
Leia também
A Serquip ganhou o contrato porque participou sozinha da licitação – todas as concorrentes foram desclassificadas no certame. Só a Serquip apresentou proposta e fechou contrato de R$ 8 milhões por ano com o mesmo governo que, dias depois, romperia contratos com a Delta, que administra a coleta de lixo na capital. A confirmação da vitória foi publicada no Diário Oficial de Brasília no dia 1º de junho. Em nota, o governo do DF argumenta que a Serquip apresentou preço 45% inferior ao cobrado por ela mesma antes, quando atuava de forma emergencial para fazer o mesmo serviço. Em julho de 2010, 70% do capital da Serquip foi vendido para a empresa americana Sterycicle. O restante, porém, ainda pertence à família de Prudente.
Empresa de Prudente ganhou R$ 23 milhões em cinco anos
Veja na íntegra a nota do GDF
Aliados têm medo que Agnelo se enrole
GDF sabe há um ano das irregularidades da Delta
Tudo sobre a CPI do Cachoeira
Leia outros destaques de hoje no Congresso em Foco
O problema é que, baseado no que mostram diálogos telefônicos captados pela Polícia Federal, ter um contrato com a Serquip parece significar o mesmo que ter um contrato com a Delta e, consequentemente, com Carlinhos Cachoeira. A PF diz que o bicheiro é sócio oculto da empreiteira. Uma conversa captada no dia 19 de maio de 2011, às 10h45, aponta que a Delta seria parceira da Serquip.
No caso, o intermediário de Cachoeira era o ex-sargento da Aeronáutica e araponga Idalberto Martins de Araújo, o Dadá, responsável por cuidar da área do lixo para o bicheiro. No grampo, ele conta a Cachoeira que acabara de sair de uma reunião na Serquip. E fala claramente que a Delta seria parceira em um negócio. “Eu tô saindo de uma reunião aqui da Serquip, que a gente vai participar. A Delta vai participar aí daquela parceria aí com receita”, diz ele. E completa em seguida: “O negócio lá tá bom cara, tá bom pra caramba agora. Os caras começaram abrir o coração lá, tá bom pra gente”, explica. Cachoeira pergunta: “Já pode vir por aí então?”. E Dadá confirma.
Publicidade
Passaportes incinerados
A aproximação com a Serquip se dá, pelo que se depreende de conversas gravadas em fevereiro de 2011, quando Cachoeira e Dadá resolvem fazer uma “média” com um delegado da Polícia Federal que queriam conquistar. O delegado precisava de um lugar para incinerar passaportes velhos. Quando um passaporte vence e é trocado por um novo, a PF fica com o documento antigo, e depois de um tempo precisa se livrar dele. A ideia era oferecer de presente os serviços de incineração. Em 23 de fevereiro, Cachoeira cobra isso do araponga: “Você olhou com ele o negócio lá?”. Dadá responde que vai falar com “ele” daqui a pouco para tratar da incineração dos passaportes. “Só tem uma empresa aqui que faz incineração”, comenta o ex-sargento.
No dia seguinte, Dadá liga para um homem identificado pela Polícia Federal como Serjão, perguntando a ele onde encontrar um incinerador de lixo. Ele diz pretender fazer uma “média” com delegados da PF. O interlocutor de Dadá indica a usina de Ceilândia, operada pela empresa Serquip. Na conversa, os dois comentam que a empresa pertence a Leonardo Prudente, a quem mencionam pela alcunha com a qual ficou conhecido depois do mensalão do DEM em Brasília. “A Serquip é do rapaz do dinheiro na meia, né?”, questiona Dadá. Na Operação Caixa de Pandora, o então deputado distrital Prudente foi flagrado recebendo dinheiro do ex-delegado Durval Barbosa Rodrigues e guardando os volumes na meia. Durval, de acordo com a investigação, comandava um esquema de pagamento de propina em troca do apoio de parlamentares ao então governador José Roberto Arruda (ex-DEM). Serjão passa o contato de um tal de “Bené” para fazer a queima.
Ouça em 2min53seg: “A Serquip é do rapaz da meia, né?”, diz Dadá. “O próprio, o Leonardo Prudente”, responde Serjão
Em 1º de março de 2011, às 17h55, Dadá liga para Marcelo Ribeiro Lopes, o Marcelão, ex-assessor da Casa Militar do Governo do Distrito Federal e dono da agência de comunicação Plá. Na conversa, esclarece que conseguiu resolver o problema da queima de passaportes com a ajuda da Serquip. “Fui no incinerador da Serquip, gigante pra caramba”, comemora Dadá. Ele diz que Bené, indicado por Serjão, acertou com ele e que a incineração já está acontecendo.
A assessoria da Polícia Federal preferiu não se manifestar sobre as afirmações de Dadá de que houve incineração de passaportes nas instalações da Serquip.
Empresa de Prudente ganhou R$ 23 milhões em cinco anos
Aliados temem que Agnelo se enrole
Leia a íntegra da nota do GDF
Tudo sobre a CPI do Cachoeira