Fábio Góis
Em reunião de quase três horas encerrada há pouco na liderança do Senado, a executiva nacional do PSDB, em decisão unânime, resolveu retirar o apoio local ao governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM). Trata-se do quarto partido a desembarcar do governo Arruda (os outros foram PSB, PDT e PPS). Na última sexta-feira (27), a operação Caixa de Pandora, deflagrada na em Brasília pela Polícia Federal, desbaratou um esquema de pagamento de propina, com dinheiro público, que beneficiava parlamentares da base aliada, assessores diretos do governo e empresários locais. O escândalo ficou conhecido como “mensalão do GDF” (leia tudo sobre).
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“Nós consideramos absolutamente grave todas as irregularidades apontadas sobre o governo atual. Queremos a imediata apuração de todos os fatos e, ao mesmo tempo, determinamos que todos os membros do partido que participam do governo do Distrito Federal sejam afastados. O partido não terá mais representantes no governo de Brasília”, disse o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), ao final da reunião (leia nota abaixo).
O inquérito da PF foi analisado pelo ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Fernando Gonçalves, depois de anos de desdobramentos de uma investigação iniciada pela Polícia Civil de Brasília. Segundo o despacho assinado pelo magistrado, Arruda não só pagava propina, por meio de empresário do DF, a parlamentares da base, como também era beneficiado pelos mesmos recursos do mensalão local (leia e conheça a íntegra do documento). Vídeos, transcrição de diálogos e demais provas estão em intensa exposição na imprensa, tornando insustentável a situação de Arruda e aliados. Quatro assessores diretos foram exonerados.
Os desdobramentos do inquérito – cujo informante principal, o ex-secretário de Relações Institucionais do GDF Durval Barbosa, optou pela delação premiada (concede redução de pena) – chegaram ao envolvimento do presidente regional do PSDB e secretário de Obras do GDF, Márcio Machado, com o esquema. O PSDB não deliberou sobre a situação de Machado na reunião desta tarde, o que deve ser feito com o transcorrer das investigações.
Sobre a situação de Márcio, Sérgio Guerra evitou entrar em detalhes. “As denúncias são feitas a alguém que deverá explicar, durante uma investigação muito séria que tem de ser feita, porque os fatos são extremamente graves”, disse o parlamentar pernambucano, acrescentando que a cúpula da legenda ainda não trata do diretório distrital, encabeçada pelo secretário de Obras.
“Esse é um episódio local, que tem de ser resolvido. Não se trata de relação de partidos, mas de posição que os partidos tomam em defesa da democracia do Brasil. Nós queremos transparência, apuração e responsabilização”, finalizou o tucano.
Fora de pauta
O líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP), confirmou que o partido ainda não deliberou sobre Márcio Machado. Para Aníbal, a suposta ligação do secretário do GDF com o esquema de mal uso do dinheiro público não tem relação com as eleições presidenciais de 2010, uma vez que Arruda não teria influência significativa no processo.
“Desconheço isso. Arruda é governador do Distrito Federal, um personagem importante no plano nacional, do ponto de vista do Democratas”, declarou Aníbal, acrescentando que o partido vai aguardar o desenrolar das investigações para tomar as demais decisões.
Para o senador Alvaro Dias (PSDB-PR), a aliança PSDB-DEM ainda não está abalada, mas dependerá de como o Democratas vai lidar com a situação daqui em diante.
“Agora, cabe dar tempo à investigação, ao direito de defesa que as pessoas devem ter, procedimentos normais em um estado democrático de direito. O partido recusou fazer pré-julgamento”, disse Alvaro, também evitando falar sobre a situação de Márcio Machado.
Leia a íntegra da nota do PSDB:
“A Comissão Executiva Nacional do PSDB considera gravíssimos os fatos ocorridos no Governo do Distrito Federal, e espera que as denúncias sejam apuradas com toda a energia. Face ao exposto, determina o imediato afastamento do Governo do Distrito Federal de todos os membros do partido.
Brasília, 1º de dezembro de 2009
Senador Sérgio Guerra
Presidente Nacional do PSDB”