(Roosewelt Pinheiro/ABr)
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Eduardo Militão
Escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal durante a Operação Navalha mostram que a construtora Gautama – acusada de comandar a máfia das obras públicas – tentava agir com o apoio do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB). Há citações ao nome do peemedebista em oito ocasiões diferentes, segundo a papelada levantada pelos investigadores.
Geddel diz que seu nome foi usado indevidamente. “Como posso impedir que eles usem meu nome?”, questiona o ministro. Demonstrando indignação com as citações, ele reafirmou ao Congresso em Foco que sequer cumprimenta o dono da Gautama, Zuleido Soares Veras, quando o vê.
Apesar da revolta do ministro, o empresário se mostrou contente quando Geddel deixou a Câmara para assumir a Integração Nacional. Zuleido compareceu à posse do peemedebista, em 16 de março deste ano. E comentou com o seu funcionário, Flávio Candelot, quais eram suas expectativas em relação à ajuda que poderia receber do novo ministro. “Ave Maria, melhora tudo, Flávio”, respondeu Zuleido.
Em meio às negociações para conseguirem vencer uma licitação em Camaçari (BA), os representantes da Gautama citam freqüentemente um trabalho que buscam fazer em Ubaitaba, no litoral sul baiano. A negociação no pequeno município de 25 mil habitantes poderia ser facilitada com o apoio de Geddel, dizem os interlocutores nas escutas telefônicas.
Pelos grampos feitos pela PF, Candelot diz a Rodolpho Veras (filho de Zuleido) que o dono da empresa espera o apoio do então deputado federal para fazer o serviço em Ubaitaba. De acordo com o prefeito da cidade, Asclepíades Almeida (PMDB), o Bêda, o trabalho citado pelos investigados é uma rede de esgoto sanitário. Em 2003, a Gautama venceu uma licitação de R$ 14 milhões para executar a obra. “Mas o governo federal não deu nem um centavo”, reclama o prefeito, que é aliado político de Geddel, a quem é grato pelo apoio dado ao município. “Todo ano, ele sempre nos contempla com emendas parlamentares: quadras, casas populares, urbanização…”
Legal
O prefeito afirma que a licitação vencida pela Gautama foi legal e sem direcionamentos. Bêda diz que, durante a espera, chegou a ir a Brasília buscar os recursos, mas não obteve sucesso na Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Às vezes, disse, questionava Jorge Barreto, o engenheiro da Gautama, sobre a situação em que se encontrava o projeto. “Ele só me dizia: ‘Ainda não, ainda não’.”
Bêda nega a intervenção do então deputado e hoje ministro da Integração Nacional para liberar o dinheiro. Geddel, também. As próprias escutas reforçam a justificativa do ministro de que ele não gosta de Zuleido. Em 30 de junho de 2006, Candelot fala a Zuleido que um emissário identificado por Guiga lhe trouxe más notícias de Geddel. Ele teria ficado “puto” com a empresa. “Ele (Geddel) não estaria atendendo a Gautama e sim Ubaitaba”, informou Candelot ao dono da empreiteira. Guiga é o apelido do empresário Guilherme Sodré, o mesmo que pegou emprestada com Zuleido a lancha na qual passearam, no final do ano passado, o governador baiano Jaques Wagner e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.
O inquérito policial afirma que, em Camaçari, parte da propina foi paga com convites para os camarotes do Carnaval de Salvador deste ano. Em Ubaitaba, haveria a mesma proposta de suborno. Mas Bêda nega que ele ou seu subordinados tenham curtido o Carnaval patrocinados pela Gautama. “Eu fui no camarote do Planeta Oton. Estou pagando até hoje”, diz o prefeito de Ubaitaba.
Prestígio
Há outras ocasiões em que o grupo manifesta suas esperanças na atuação favorável de Geddel. Em 3 de julho de 2006, Candelot liga para o secretário-executivo do Ministério das Cidades, Rodrigo Figueiredo. Quer saber se ele obteve “alguma coisa de Ubaitaba”. Na seqüência, pergunta a Rodrigo se ele telefonou para Geddel em busca de ajuda.
Em 17 de fevereiro deste ano – antes da posse de Geddel como ministro, portanto –, Rodolpho liga para um interlocutor identificado apenas como Nonato. E Nonato lhe confidencia que, com o novo ministro da Integração Nacional, os rumos da política poderiam mudar em Camaçari (BA), onde a empresa, segundo a PF, direcionou uma licitação para si.
Em 12 de março, Rodolpho pergunta a um certo Val se “aquela moça” vai ocupar algum cargo no governo. O interlocutor lhe diz que, com sua influência, ela vai para o gabinete de Geddel, por ser sócio de um homem identificado como Aníbal. “Será um contato fundamental no segundo escalão”, completa Val. Rodolpho responde: “Esse pessoal é importante também”.
Ao Congresso em Foco, Geddel disse que – apesar de enviar emendas parlamentares a Ubaitaba e colaborar para que obras saiam do papel, como o trevo na BR-101 – desconhece qualquer empreendimento de esgoto na cidade. “Esses caras [Gautama] viviam cercando os prefeitos da Bahia”, reforça o ministro. A reportagem entrou em contato com a advogada da Gautama, Sônia Rao, mas não obteve retorno.
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Procurado pelo Congresso em Foco, Guilherme Sodré, o Guiga, não foi localizado em seus telefones em São Paulo, Brasília e Salvador.