Mesmo tendo recebido quase três mil votos a menos que o seu adversário, o ex-governador do Rio Anthony Garotinho derrotou o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, na consulta informal realizada ontem pelo PMDB para escolher o candidato do partido à presidência da República. Garotinho venceu pela regra da proporcionalidade dos estados, segundo a qual o valor do voto é proporcional ao número de votos que o estado deu ao partido na última eleição.
Por esse cálculo, definido na última convenção partidária, o ex-governador venceu a consulta, com 56,62% dos votos contra 43,8% de Rigotto. O total de votos válidos foi de 12.773. Estavam aptos a votar 23.288 militantes. Ao longo da apuração, os partidários do governador gaúcho reclamaram que a regra não estaria sendo aplicada corretamente.
Por causa do impasse, Garotinho e Rigotto se reuniram a portas fechadas com o presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), e saíram da reunião sem dar a entrevista que haviam combinado antes para anunciar o candidato vitorioso.
O resultado da consulta informal, que era para ter sido uma prévia, deixa o governador gaúcho em situação delicada: ou aceita a derrota ou abre um novo racha, desta vez entre os partidários da candidatura própria. Para se lançar candidato à presidência, ele precisa deixar o cargo até o dia 31 de março. O problema é que as prévias do PMDB estão marcadas para junho.
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Mesmo que a vitória de Garotinho seja reconhecida pelo PMDB, ele não tem garantia de que será de fato o candidato. A consulta nacional foi marcada por batalhas judiciais e o boicote de integrantes da ala governista, contrária à realização. Os diretórios de Alagoas, do Amapá, da Bahia e do Maranhão ignoraram a consulta. Além disso, os votos em alguns estados correm o risco de não serem computados, como os da Paraíba, Distrito Federal e Pará.
Ontem à noite, o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Edson Vidigal, indeferiu o pedido de reconsideração interposto pelos advogados do PMDB e manteve a liminar que suspendeu as “eleições prévias” do partido.
Em sua decisão, Vidigal diz não ter encontrado “nenhum argumento ou fato novo” trazido pelos advogados do partido “já tendo as questões aqui suscitadas sido analisadas quando do indeferimento do primeiro pedido de reconsideração”.
A briga interna para decidir se o partido lança ou não candidato ao Planalto será longa. Os governistas conseguiram assinaturas para convocar uma convenção para 8 de abril. A ala comandada pelos senadores Renan Calheiros (AL) e José Sarney (AP) defende a derrubada da tese de candidatura própria.
Ainda na noite da última sexta-feira, o ministro Hamilton Carvalhido, também do STJ, concedeu liminar aos oposicionistas, garantindo as prévias de domingo. Entretanto, os governistas recorreram e a decisão foi dada na noite deste sábado (18) pelo próprio presidente do STJ, que manteve sua decisão de suspender a realização das prévias do PMDB. Mais uma vez, os advogados do partido recorreram, mas não conseguiram que o pedido de reconsideração fosse aceito por Vidigal.
Garotinho ataca Sarney
Em meio à guerra de liminares, Garotinho disparou acusações contra o ex-presidente José Sarney (AP), apontado por ele como principal articulador da derrubada das prévias. Em discurso na Cinelândia, no centro do Rio, o ex-governador disse que comparar o sendor a Judas Iscariotes (o apóstolo que traiu Jesus Cristo) “é uma ofensa a Judas”.
O ataque Sarney ocorreu quando Garotinho falava sobre sua ida a Belo Horizonte ontem pela manhã, para acompanhar a votação. “Eu vi lá um Judas (boneco tradicional na Páscoa) do ex-presidente Sarney. Judas é um personagem lamentável, mas comparar Judas com Sarney é uma ofensa a Judas”, afirmou.
Garotinho também lamentou “que a Justiça tenha interferido na vida interna do partido” e defendeu punição para os peemedebistas que arquitetaram os recursos ao STJ para impedir a prévia. “As pessoas têm que ser severamente punidas pela instância partidária”, disse.
Em São Paulo, partidários de Garotinho ofereciam aos convencionais um abaixo-assinado para que pedissem a expulsão de Sarney e do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), do PMDB.
Em resposta aos ataques de Garotinho, Sarney afirmou que a convocação foi feita contrariando o estatuto do partido e que a média usada para o peso dos votos acabou dando muito poder a poucos estados. “Meu ponto de vista sempre foi coerente. Defendo o partido”, disse o senador. Segundo ele, a prévia é “precipitada” porque ainda não há definição sobre a validade da regra da verticalização para as eleições deste ano.
Em São Paulo, onde discursaram o ex-governador Orestes Quércia, Temer e Rigotto também não faltaram ataques à ala governista do partido e ao presidente do STJ, Edson Vidigal. Quércia disse: “Quero que o Vidigal vá para o diabo que o carregue. Ele não poderia ter feito essa sacanagem (cancelar a prévia) com o PMDB”.
Rigotto concentrou suas críticas à ala governista do partido. “As pessoas que vão à Justiça não têm voto no partido e estão mais interessados em cargos”, afirmou. “Essas pessoas querem apequenar o PMDB, deixando o partido a reboque de outros projetos”, concluiu.
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