Pré-candidato a presidente da República pelo PMDB, o ex-governador do Rio Anthony Garotinho disse a Plínio Fraga e Sergio Costa, da Folha de S. Paulo, que o partido resistirá à candidatura de Itamar Franco (MG) à sucessão presidencial se ficar claro que ela poderá “servir aos interesses do PT”.
Sobre o encontro que o ex-ministro-chefe da Casa Civil teve com Itamar na última quarta-feira, pouco antes de o ex-presidente anunciar a intenção de disputar com Garotinho a indicação do PMDB, o ex-governador fluminense afirmou: “Itamar deixou claro que não conversou sobre política. Disse que recebeu Dirceu como amigo pessoal. Não posso comentar uma reunião privada. Amigo cada um escolhe quem quer”.
Questionado se Itamar seria o candidato de Dirceu, respondeu: “Não acredito que ele se preste a esse papel. Mas, se é verdadeira a tese da candidatura de Itamar servir aos interesses do PT, o PMDB certamente terá clareza sobre isso e não se deixará ser usado. Resistirá. Desde dezembro de 2004 estamos numa luta contra as manobras do PT no PMDB. É uma corrida de obstáculos. Há um grupo resistente no PMDB. Se for verdadeira a tese de que o patrocinador da candidatura Itamar é Dirceu, o chefe do mensalão, o PMDB não vai aceitar isso”.
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Na entrevista, publicada neste domingo pelo jornal, Garotinho conta que Dirceu lhe disse que era o “lado mau” de Lula:
“Na semana que antecedeu sua cassação, um amigo pediu que eu recebesse o Dirceu. (…) Ele vem e me diz que sabe que eu tenho 26 votos da bancada evangélica. ‘Tenho procurado a todos e eles dizem que vão votar segundo sua orientação. São votos decisivos para mim.’ Eu disse que não. Ele falou que eu devia ter muita mágoa dele: ‘Mas saiba que tudo o que eu fiz, tudo, fiz porque o Lula mandou. Você acha que ia mandar bloquear o dinheiro do Rio e o Palocci iria obedecer? Todo político tem alguém que faz o lado mau. Estou pagando agora por ter feito o lado mau’. Eu disse: ‘José Dirceu, por que não convoca uma coletiva e fala isso? Como posso pedir que meu grupo político vote em você depois de tudo que você fez contra a gente. Quero te dizer mais: vou comemorar sua cassação. Porque se eu te ajudar e você sair dessa, a primeira coisa que você vai fazer é colocar um punhal em minhas costas. Porque é da sua natureza’. Ele ficou vermelho, levantou e foi embora”.
Perguntado a respeito de uma possível aliança com o pré-candidato do PSDB, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin, falou: “Ele é boa gente, mas essa conversa é para ter no segundo turno”.
Disse ainda que é vítima de “muita incompreensão”: “Acham que sou populista, assistencialista. Não sabem que tenho projetos de reformas estruturais. Fiz o restaurante a R$ 1, que Alckmin copiou. Mas ampliei de 40 mil para 400 mil os estudantes de escolas técnicas”.
José Dirceu não quis comentar as declarações de Garotinho. “Não vou bater boca com ele”, afirmou.
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