Acusado de ter recebido dinheiro irregular para financiar sua pré-campanha ao Palácio do Planalto, o ex-governador do Rio Anthony Garotinho (PMDB) deu início ontem a uma greve de fome. O anúncio foi feito às 17h15, quando Garotinho leu para a imprensa, na sede fluminense do PMDB, um documento intitulado “À Nação Brasileira”.
“Não destruirão a minha honra e minha vida dedicada ao povo brasileiro com suas mentiras. Ao contrário, ofereço o meu sacrifício para que o povo brasileiro conheça a verdadeira face de seus exploradores”, leu Garotinho, ao classificar a greve “como último recurso em defesa da verdade que tem sido escamoteada”.
Garotinho faz duas exigências para suspender a greve de fome: que seja instituída uma supervisão internacional no processo político-eleitoral brasileiro, assegurando a igualdade de tratamento a todos os candidatos, com acompanhamento de instituições nacionais que tradicionalmente defendem a democracia, e que os veículos de comunicação que o acusam “cedam o mesmo espaço para que a população possa conhecer a verdade dos fatos”.
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O ex-governador do Rio não quis responder às perguntas dos jornalistas. “O sistema financeiro, os bancos e a grande mídia, liderada pelas Organizações Globo e pela revista Veja – com o indisfarçável patrocínio do governo Lula – mentem e não me dão o direito de defesa”, disse ele.
Garotinho é alvo de uma série de reportagens, nos últimos dias, que apontam a relação entre o governo do Rio e organizações não-governamentais (ONGs) ligadas a empresários que doaram dinheiro à sua pré-campanha. Algumas das empresas doadoras, inclusive, estão em nomes de laranjas. O ex-governador usou duas vezes um jatinho que pertenceu a João Arcanjo Ribeiro, condenado a 37 anos por formação de quadrilha e apontando como o chefe do crime organizado no Mato Grosso.
O pré-candidato afirma que sofre perseguição da mídia, do sistema financeiro e do governo Lula, segundo a nota divulgada. “Tudo com um só objetivo: impedir que me torne candidato a presidente da República e rompa com este modelo econômico que, ao longo de anos, tem trazido desemprego, fome e miséria para milhões de brasileiros. Um sistema que vem destruindo a nacionalidade brasileira, humilhando as Forças Armadas, entregando nosso patrimônio à ganância estrangeira e, sobretudo, aviltando nossos valores éticos, morais e de amor ao Brasil.”
O pré-candidato anunciou sua decisão no diretório regional do PMDB no Rio de Janeiro, ao lado da governadora Rosinha Garotinho e de militantes do partido. A greve de fome será feita na sede do PMDB, acompanhada por uma equipe médica. Garotinho só bebe água e poderá usar soro, dependendo das recomendações do médico da família, que o acompanha.
Exigências ridículas
Em nota, a redação de O Globo classificou como “ridículas” as exigências do peemedebista. “Em vez de produzir uma resposta convincente, o ex-governador anuncia uma greve de fome.” A empresa afirma ainda, na nota, que o ex-governador tem tido “amplo direito de defesa” nas reportagens. E considera “saudosismo de quem não se preparou para enfrentar as novas exigências éticas da democracia no Brasil” a exigência do acompanhamento das eleições por um observador estrangeiro.”