Fábio Góis
O Senado tentou explicar por que omitiu dos registros históricos do ?túnel do tempo? o impeachment do ex-presidente da República Fernando Collor de Mello, hoje senador do PTB alagoano. Inaugurada nesta segunda-feira (30), a instalação no corredor que separa o plenário dos gabinetes e comissões deixou de fazer menção à queda de Collor em dezembro de 1992, quando o próprio Senado ratificou a decisão da Câmara e determinou a cassação do mandato presidencial ? a primeira da história do país.
Segundo a Subsecretaria de Projetos Especiais (Supres), a omissão do impeachment evidencia a orientação de destacar os feitos legislativos do Senado. ?A opção dos historiadores foi destacar os fatos marcantes da atividade legislativa?, alegou a Supres, acrescentando que apenas ?a discussão e a aprovação das leis? foram enfocadas na galeria.
Com base na argumentação da subsecretaria, a Lei da Ficha Limpa ? do ponto de vista da opinião pública, uma das mais bem avaliadas e importantes matérias aprovadas no Parlamento, embora tenha sido iniciativa da própria sociedade ? deveria ter sido mencionada com mais destaque na linha do tempo do corredor. Mas, além da mera menção à legislação, não há sequer uma linha sobre a trajetória da Lei Complementar 135/2010, aprovada por deputados e senadores no ano passado. Para o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), ?acidentes? como o impeachment de Collor não são dignos de registro na instalação, que recebe em média 15 mil visitantes ao mês.
?Talvez esse episódio seja apenas um acidente que não devia ter acontecido na história do Brasil. Mas [o impeachment] não é tão marcante como foram os fatos que aqui estão contados, que foram os que construíram a história e não os que de certo modo não deviam ter acontecido?, disse Sarney, em opinião não compartilhada pelo colega Cristovam Buarque (PDT-DF).
?Ele [Sarney] poderia ter dito que não havia espaço [no túnel do tempo], que não pode colocar tudo lá. O que me preocupa é que essa Casa é visitada por escolas, crianças que vêm aqui aprender um pouco sobre a História do Brasi?, apontou Cristovam, dizendo-se ?defensor da Comissão da Verdade, para tudo?. ?Um país que esconde sua história é um país envergonhado. E o Brasil não pode se envergonhar nem de ter eleito Collor nem do impeachment que o tirou do poder.?
Confira a nota da subsecretaria:
?Os fatos históricos da mais antiga Casa legislativa do país são narrados em dezesseis painéis, com textos e imagens, seguindo a linha cronológica da história do Brasil desde 1822. A partir da Constituição de 1988, a opção dos historiadores foi destacar os fatos marcantes da atividade legislativa. O foco da exposição é mostrar a produção legislativa do Congresso Nacional . A discussão e aprovação das leis é a essência do que faz o parlamento como poder republicano.?
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