Rudolfo Lago
Quanto tempo mais durarão os jornais impressos e a grande mídia tradicional? De que forma se organizará no futuro a mídia eletrônica? Quem sairá na frente na corrida pelos espaços na internet: as grandes corporações, ou os sites e blogs individuais têm espaço para crescer na nova mídia? Quem patrocinará? De que forma evoluirá o veículo internet como negócio? Como seguirá o jornalismo como profissão? Essas e outras questões estarão sendo discutidas até amanhâ (6) no II Fórum de Mídia Livre, na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em Vitória. Paralelamente, é realizado o I Encontro Nacional de Blogs de Política. O Congresso em Foco participa dos dois eventos.
Em termos gerais, uma das conclusões do encontro é que não há ainda respostas definitivas para qualquer uma das perguntas acima. “Vivemos uma transição. Sabemos que o modelo tradicional esgotou-se, mas ainda não sabemos exatamente como será o próximo modelo”, analisa o professor Fábio Malini, da Ufes, especialista em internet e novas mídias e um dos organizadores do fórum.
Foi Malini quem articulou a realização paralela do encontro de blogs de política, juntamente com o professor Júlio Valentim, mestre em Comunicação, também da Universidade Federal do Espírito Santo. A ideia é criar uma rede na qual esses blogs possam atuar em parceria com vistas à cobertura dos temas políticos, em especial nas eleições do ano que vem.
Arma contra os “factóides”
Convidado para mediar a discussão entre os blogs políticos, o jornalista Luís Nassif considera que o grande filão que poderá se abrir para essa mídia alternativa nas próximas eleições será o de “desfazer factóides”. Em 2006, considera ele, a mídia tradicional, ou “velha mídia”, como ele define, associou-se numa tentativa de evitar a reeleição do presidente Lula. “Mesmo ainda incipiente, foi através da rede social na internet que a maioria dos factóides criados para comprometer o governo foram sendo desmontados”, diz Nassif.
Em 2010, viveremos um novo patamar, considera ele. Factóides deverão surgir de todos os lados, de todas as candidaturas, num mundo sem mocinhos e bandidos: falsas denúncias, histórias parcialmente apuradas virão de todos os lados. “Há uma capacidade de desmonte, a partir da associação entre as pessoas, incomensurável na internet. Aquela ideia antiga do repórter solitário, apurando sozinho a informação, não se sustenta mais. O caminho na rede é essa associação”, analisa o jornalista.
Experiências concretas
Baseado na sua experiência de quase seis anos atuando na cobertura do Congresso Nacional e da política, o Congresso em Foco foi convidado para uma palestra. O objetivo proposto pelos organizadores do debate era passar três conselhos para melhorar a cobertura política em blogs e mídias sociais. Vencedor do Prêmio Esso de “melhor contribuição à imprensa” neste ano, o site, sobretudo a partir da cobertura da farra das passagens aéreas, passou a outro patamar de reconhecimento, inclusive por parte dos grandes veículos, TVs, rádio e jornais. Esse patamar, se tem suas vantagens, tem também seus ônus. Em cima dessa experiência, os conselhos sugeridos pelo Congresso em Foco foram:
1) Se você trabalha com isenção e seriedade, você não é menor que a chamada grande mídia.
2) Prepare-se para o fato de que você passará a ser visto como um concorrente a partir do momento em que grande mídia se vir obrigada a repercutir o seu trabalho.
3) Não durma sobre os louros. Na mídia eletrônica, a sina do jornalista continuará sendo a mesma: matar um leão por dia.
Responsável pelo blog Amazônia, o jornalista Altino Machado, do Acre, narrou como vem obtendo destaque realizando uma cobertura diferenciada da região amazônica. “Eu trabalhei em boa parte dos principais jornais do país, cobrindo a Amazônia. Sempre foi uma cobertura parcial e apressada, não por minha responsabilidade exatamente, mas porque é assim que os principais jornais, do Sul do país, cobrem a região. Eu me tornei famoso mesmo quando me tornei blogueiro”, conta ele.
Famoso para o bem e para o mal. A fama já rendeu a Altino desavenças e ameaças no Acre. Mesmo os governos de esquerda, após Jorge Vianna, têm dificuldades em aceitar o jornalismo independente que Altino pratica na região. “Eu sou da geração que, no movimento estudantil, rodava jornal em mimeógrafo e via um muro branco como a oportunidade de deixar ali publicado o meu recado. A internet é um imenso, enorme, muro branco”, compara Altino. A melhor forma de pichar esse muro. Eis a discussão que apenas começou no II Fórum de Mídia Livre.
Os debates podem ser acompanhados pelo Twitter.