Presidente do conselho de administração do grupo que leva seu sobrenome, o empreiteiro Emílio Odebrecht disse em acordo de delação premiada ainda em fase de negociação que a arena do Corinthians, construída pelo grupo para a Copa do Mundo, foi um presente para o ex-presidente Lula. A informação é da Folha de S.Paulo.
De acordo com Emílio, narra a reportagem, o agrado foi uma retribuição ao ex-presidente, torcedor fanático do clube, pelo crescimento que Odebrecht alcançou em seus oito anos de governo, de 2003 a 2010. Segundo a Folha, o faturamento do grupo cresceu sete vezes entre a posse de Lula e o último ano completo da gestão Dilma, em 2015: de R$ 17,3 bilhões para R$ 132 bilhões, em valores nominais (no período, a inflação foi de 102%).
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Pai do presidente do grupo, Marcelo Odebrecht, que está preso desde junho de 2015 e já foi condenado a 19 anos de prisão pelo juiz Sérgio Moro na Lava Jato, Emílio e cerca de 80 executivos da Odebrecht buscam um acordo de delação premiada. Considerado o principal interlocutor de Lula com o grupo, Emilio aposta na delação para salvar o grupo da falência.
PublicidadePalco da abertura da Copa de 2014, a arena do Corinthians foi construída pela empreiteira de 2011 a 2014 e custou R$ 1,2 bilhão, quase 50% acima da estimativa inicial do projeto, de R$ 820 milhões. Do total, R$ 400 milhões vieram do BNDES e R$ 420 milhões de títulos autorizados pela prefeitura de São Paulo, na gestão de Gilberto Kassab (PSD), atual ministro de Ciência e Tecnologia. O clube enfrenta sérias dificuldades financeiras para pagar a obra e manter a arena.
O presidente do Corinthians à época é o atual deputado federal Andrés Sanchez (PT-SP). “Quem fez o estádio fomos eu e o Lula. Garanto que vai custar mais de R$ 1 bilhão. Ponto. A parte financeira ninguém mexeu. Só eu, o Lula e o Emílio Odebrecht”, disse Sanchez à revista Época em 2011. Em resposta ao jornal paulista, o petista negou que o estádio tenha sido um “presente”. ”Dizem que [o estádio] foi dado de presente para o Lula, e o Corinthians tem que pagar um financiamento de R$ 950 e tantos milhões? Que tipo de presente é esse?”
Segundo a Folha, Emilio afirmou que nas reuniões que teve com Lula para tratar de negócios não eram mencionados pagamentos de propina. Repasses para o PT, conforme o patriarca da família, eram discutidos com o ex-ministro Antonio Palocci. Em um dos encontros, relata a reportagem, o empreiteiro contou que pediu e obteve aval de Lula para ajudar a empresa a crescer na América Latina e na África. O ex-presidente é réu em processo no qual é acusado de ter ajudado um sobrinho de sua primeira mulher a conseguir contratos com a empreiteira em Angola.
O advogado Cristiano Zanin Martins, que defende Lula, desqualificou o conteúdo das delações negociadas na Operação Lava Jato. “Se a delação já não serve para provar qualquer fato, a especulação de delação é um nada e não merece qualquer comentário”, disse o advogado em nota enviada à Folha.