Fábio Góis
Em cerca de oito horas de depoimento, duas estudantes usadas como funcionárias fantasmas no gabinete do senador Efraim Morais (DEM-PB) prestaram hoje (quinta, 20) esclarecimentos, separadamente, à Polícia Legislativa do Senado. Segundo a Polícia Federal, que recebeu denúncia contra Efraim por suspeita de contratação ilegal, as irmãs Kelriany e Kelly Nascimento da Silva recebiam R$ 3,8 mil para “exercer” o cargo de assistente parlamentar, mensalmente. Com o detalhe de que, mesmo registradas na folha de pagamento, nunca trabalharam na Casa.
A história começou a ser desvendada depois de um repasse em dinheiro para Kelriany e Kelly. Elas explicam que acreditavam receber mensalmente R$ 100 por meio de uma bolsa de estudos que duas amigas teriam conseguido junto à Universidade de Brasília (UnB). Para tanto, as irmãs assinaram procurações e entregaram à advogada Mônica da Conceição Bicalho, que trabalha para o parlamentar e as encaminhou para a universidade. Ao chegar ao depoimento (iniciado por volta das 15h), o advogado das estudantes, Geraldo Faustino, disse que as assinaturas são falsas.
No mês passado, Kelriany, até então sem emprego fixo, conseguiu um emprego e foi ao banco abrir uma conta. Foi quando descobriu que ela e a irmã já tinham contas correntes, e estavam empregadas no gabinete do senador paraibano.
Nos documentos entregues à Polícia Civil, onde as duas irmãs denunciaram o esquema fraudulento, Kelriany e Kelly não só aparecem na relação de funcionários do gabinete de Efraim, como têm registrados os descontos no imposto de renda e os saques em dinheiro referentes à restituição do tributo. Uma das amigas que pediram a procuração que propiciou a concessão da bolsa de estudos é Mônica Bicalho.
Por meio de nota (confira), Mônica afirma que Efraim não sabia da contratação das irmãs, e que elas prestavam serviços externos ao gabinete sem manter contato direto com o senador. A funcionária não foi localizada pela reportagem. A assessoria diz que a denúncia não é contra Efraim, e sim contra a advogada – sua irmã, identificada como Kátia e responsável pela tesouraria do gabinete, teria contratado Kelriany e Kelly para auxiliar nos serviços jurídicos prestados ao senador.
As irmãs saíram da Polícia Legislativa por volta das 23h30, sem dar declarações. Após o depoimento, Geraldo Faustino disse que, depois que o caso veio à tona na imprensa, Mônica tentou contato com elas.
Providências
O corregedor e o primeiro-secretário do Senado, respectivamente Romeu Tuma (PTB-SP) e Heráclito Fortes (DEM-PI), preferem esperar a conclusão das investigações para tomar providências, mas ambos concordam que a denúncia é grave. Já chefe da Polícia Legislativa, Pedro Ricardo Araújo Carvalho, diz que adotará o mesmo procedimento, mas lembrou que só quem pode investigar senadores é a corregedoria da Casa.
“Precisamos saber o que aconteceu para depois tomar providências”, ponderou Pedro, acrescentando que os investigadores legislativos ainda vão analisar os documentos registrados na Polícia Civil e confrontar versões dos envolvidos na fraude. Ele explicou porque não haverá acareação entre as irmãs e Mônica. “As duas [Kelriany e Kelly] são denunciantes.”
Os nomes de Kelriany e Kelly ainda constam da lista de servidores comissionados do Senado (confira). O gabinete de Efraim informou que o pedido de desligamento de ambas seria feito nesta quinta-feira (20), mas até as 23h59 a reportagem verificou que as exonerações ainda não haviam sido publicadas no Boletim Administrativo Eletrônico de Pessoal.
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