A mira dos integrantes da CPI dos Correios e da imprensa teve ontem como alvo o publicitário Marcos Valério, acusado de ser o operador do mensalão. A edição de O Globo chegou às bancas com reportagem que mostra que o publicitário utilizou um ferroviário morto para fazer um saque da conta da SMPB, uma de suas empresas. No final da manhã, foi a vez de uma operação policial apreender documentos escondidos e quase incinerados de outra empresa dele, a DNA Propaganda. Já de tarde, a CPI ampliou o cerco sobre o publicitário ao quebrar os sigilos de empresas, sócios e funcionários dele.
Valério, entretanto, passou boa parte do seu dia conversando com o novo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza. Chegou no início da tarde à sede da Procuradoria-Geral da República (PGR), em Brasília, e só saiu de lá às 20h. Segundo a assessoria de imprensa da PGR, o publicitário conversou com Antonio Fernando por duas horas. Pediu proteção policial. A assessoria de imprensa de Valério contou outra versão. Ele depôs durante 8 horas, “trouxe documentos importantes” e disse que vai colaborar com as investigações do mensalão.
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De acordo com a legislação, essa ajuda de Valério à apuração do escândalo pode ser revertida, futuramente, numa redução de pena – caso ele se torne réu numa eventual ação penal. O procurador-geral da República, contudo, rechaçou a ajuda. “É inoportuna”, disse.
Na conversa com Antonio Fernando, ele teria dado informações sobre seu relacionamento com petistas e também com políticos da oposição, como PSDB e do PMDB desde o governo passado. A iniciativa de ir ao Ministério Público foi do publicitário. “Na minha interpretação não há nada de bombástico. Não sei se tem para vocês (da imprensa)”, limitou-se a dizer o procurador Antônio Fernando ao jornal O Globo. A investigação corre sob sigilo.
Documentos apreendidos
O publicitário, que deve depor novamente na CPI no início de agosto, terá ainda sua DNA Propaganda devassada. Quatro parlamentares da CPI viajaram ontem à noite para Belo Horizonte a fim de analisar os documentos da DNA, que agora estão em poder da Corregedoria da Polícia Civil mineira. Na ação que pretendia inicialmente apreender armas, a Polícia Civil de Minas e o Ministério Público prenderam o carcereiro aposentado Marco Túlio Prata queimando parte dos documentos da empresa.
A papelada da DNA estava distribuída em dois tambores e em pequenas caixas. A maioria foi preservada. Na casa de Marco Tulio, a polícia encontrou ainda armas, munições, granadas e explosivos. O carcereiro aposentado, acusado de homicídio doloso e preso preventivamente, é irmão do contador de Valério Marco Aurélio Prata, um dos donos da Prata Contabilidade.
Saque de um fantasma
Reportagem de O Globo ontem mostrou que o ferroviário mineiro Jonas de Pinho, morto em 31 de dezembro de 1999, aos 81 anos, fez um saque de R$ 152 mil da conta da agência SMPB, de Valério, três anos e sete meses após seu falecimento. A retirada realizada na agência do Banco Rural em Belo Horizonte consta do relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) entregue à CPI dos Correios.
A conta da agência SMPB foi aberta três meses depois da morte de Jonas de Pinho, e o saque no dia 16 de julho de 2003. O cidadão que retirou o dinheiro da empresa apresentou-se como o ferroviário e sacou o dinheiro em espécie. Por se tratar de soma de acima de R$ 100 mil, o fantasma justificou: os recursos seriam usados para “pagamento de folha de pessoal”.
A CPI investiga se os documentos de Jonas foram usados para fazer os saques. O ferroviário deixou dois filhos: Jonas de Pinho Júnior e Hércules de Pinho. A reportagem do Congresso em Foco ligou para o celular da mulher de Jonas de Pinho Júnior, Ailza Geralda Rosa. Um familiar, que não quis se identificar, disse que ela “surpresa” e “sem condições para falar”. Por telefone ao Jornal Nacional, Jonas de Pinho – que está em Nova Iorque – disse que não conhece Valério e não sabia desses saques feitos por um fantasma usando documentos do pai.
Sigilos quebrados
A CPI dos Correios aprovou ontem requerimentos de quebra de sigilos bancário, fiscal e telefônico de sócios, funcionários e empresas de Marcos Valério para os últimos cinco anos.
Estão na lista a funcionária do departamento financeiro da SMPB Geisa Dias dos Santos, o comerciante Alexandre Vasconcelos Castro, acusado de fazer saques de dinheiro em alto valor pela SMPB. Também foram quebrados os sigilos da empresa 2S, que estão no nome do chefe dos office-boys da SMPB, Orlando Martins, e da secretária Adriana Fantini Martins – apontados como laranjas de Valério. Os dois funcionários também terão seus sigilos abertos.
Mais um requerimento quebrou os sigilos do sócio do publicitário, Cristiano de Mello Paes. Cristiano foi convocado a depor. Os parlamentares ainda terão informações sobre dados sigilosos de contratos realizados entre os bancos do Brasil, Rural e de Minas Gerais com partidos políticos. Também foi quebrado o sigilo bancário de contas do empresário Marcos Valério no Banco Rural de Belo Horizonte.