Gabriela Salcedo
Em seu primeiro discurso após ser expulso do Psol, o deputado Cabo Daciolo (sem partido-RJ) afirmou que sua presença em plenário “era fruto de um milagre”. O parlamentar, que é evangélico e bombeiro, disse que o Psol nunca quis que ele se elegesse.
“Eu não tive, em momento algum, tempo de televisão. Eu não recebi nenhum prospecto ou papel quando era candidato. Mas Deus proporcionou que eu estivesse aqui,” disse Daciolo. O deputado contou que sua campanha eleitoral custou apenas R$ 35 mil e, mesmo assim, conseguiu votos para se eleger para “honra e glória do Senhor Jesus Cristo”.
No sábado (16), o diretório do Psol decidiu, por 53 votos a um, expulsar Daciolo do partido. O deputado foi acusado de contrariar o programa da legenda ao tentar alterar a Constituição por motivos religiosos. Ele desejava mudar trecho da Carta Magna para atribuir a Deus e não ao povo o poder soberano do país. Além disso, também defendeu a soltura de policiais suspeitos pelo desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza.
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O comando partidário considerou que seu comportamento e sua ideologia são incompatíveis com o programa do Psol. Ele já estava suspenso desde 26 de março. Por 31 votos a 24, a sigla resolveu não reivindicar na Justiça eleitoral o mandato do deputado. Dessa forma, a bancada do Psol na Câmara cai de cinco para quatro parlamentares.
Após a expulsão, o militar divulgou um texto, em sua página de rede social, em que acusava o Psol de persegui-lo e desrespeitar sua liberdade religiosa. Apesar de reiterar que gostaria de permanecer no partido, continuou afirmando que todo poder emana de Deus.
“Quando fui suspenso, apresentei minha defesa, sem abrir mão dos pontos que defendo, mas expressando a minha sincera vontade de continuar filiado. Hoje não é um dia para se comemorar. Todavia, a minha confiança está no Senhor e nos seus desígnios. (…)Nunca me envergonharei em declarar que Deus vem em primeiro lugar na minha vida. Todo o poder emana de Deus”, defendeu-se.
Veja abaixo a íntegra do discurso do deputado:
“Presidente, nobres companheiros! Boa tarde a todos!
Eu queria deixar bem claro aqui que eu sou o Cabo Daciolo, bombeiro militar do Estado do Rio de Janeiro. Todos sabem disso. E eu queria esclarecer que sempre vou defender os militares do meu País, tanto da segurança pública quanto da defesa nacional. Estou falando do grupo do QESA, do QE, dos militares que foram excluídos da Aeronáutica, no ano de 1994 a 2001, que fizeram um concurso para soldado especialista da categoria. Vou defender e sempre vou ser contrário ao sucateamento da defesa nacional. Precisamos valorizar os militares da defesa nacional.
Vou sempre defender os trabalhadores da Saúde, os trabalhadores da Educação, os trabalhadores da COMLURB, o gari, os trabalhadores do COMPERJ. Vamos fazer a defesa dos advogados da União, da AGU, que está sendo sucateada. Quem acusa tem seu valor, quem defende está sendo sucateado. Nós vamos sempre defender os trabalhadores do nosso País. Lutar por direitos não é crime, lutar por direitos não é crime.
E aí eu venho aqui trazer algo para todos. Em 2012, eu recebi uma ligação — alguns militares me ligam — de um juiz federal, cujo nome é José Barroso Filho.
Existia, naquele determinado momento, em 2012, um problema na Bahia com a segurança pública: a defesa nacional e a segurança pública estavam em confronto. Recebi uma ligação solicitando ajuda para resolver aquele problema. Fui até a Bahia, onde estive com um juiz federal e com o Deputado Mendonça Prado, que naquele momento era o Presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara Federal do nosso País. Ali fomos recebidos por diversos Parlamentares. Houve também um diálogo com o Vice-Governador da Bahia, Otto Alencar.
O General Gonçalves Dias havia perguntado ao Cabo Daciolo se ele poderia, com o juiz federal, ir até o foco do problema. E nós fizemos isso. Conclusão: resolvemos aquele problema. Nós havíamos dialogado diversas vezes com várias autoridades. Quando eu retornei ao meu Estado — lembrando a todos que eu saiodo meu Estado com autorização publicada em boletim interno do Corpo de Bombeiros —, fui retirado da aeronave, no Aeroporto do Galeão, e levado para Bangu 1, um presídio de segurança máxima.
Por que estou especificando isso tudo? Porque hoje eu tive uma triste notícia, uma triste informação. Hoje, foi atéo meu gabinete um oficial de justiça do Supremo Tribunal Federal, que me levou um mandado de intimação. O que se alega? Enquadram-me em crime contra a segurança nacional. Eu quero saber que crime é esse que eu cometi. Eu quero saber por que tanta perseguição. Éporque nós estamos lutando em prol dos militares, da defesa nacional? É porque nós lutamos em prol dos trabalhadores do País, dos garis da COMLURB, dos servidores da AGU? É por isso?
Eu quero deixar algo bem claro: eu sirvo a um deus vivo. As perseguições estão vindo, e a palavra de Deus diz: Bem-aventurados são aqueles que são caluniados, perseguidos e blasfemados por falar do amor de Deus. Eu tenho certeza absoluta de que todo o poder emana de Deus. Vou permanecer aqui falando em Deus, porque foi Ele que me colocou aqui.
Eu estou aqui fruto de milagre. Em momento algum, o partido em que eu entrei, que foi o PSOL, quis que eu viesse para cá. Eu não tive, em momento algum, tempo de televisão. Eu não recebi nenhum prospecto ou papel quando era candidato. Mas Deus proporcionou que eu estivesse aqui. Fizemos uma campanha com 35 mil reais, e o mais interessante, o detalhe que é primordial: saímos com 49.831 votos, para honra e glória do Senhor Jesus Cristo.
Vou permanecer lutando pelos trabalhadores. Lutar por direitos não é crime. Quero deixar algo bem claro: juntos somos fortes. Nem um passo daremos atrás. Deus está no controle.
Obrigado, Presidente.”