Mesmo após a divulgação da nota de esclarecimento do senador Joaquim Roriz (PMDB-DF) sobre a conversa telefônica entre ele e o ex-presidente do Banco Regional de Brasília (BRB), Tarcísio Franklin de Moura (leia mais), muitas perguntas continuam sem resposta como, por exemplo, por que um cheque do Banco do Brasil, nominal ao empresário Constantino de Oliveira, conhecido como Nenê e um dos sócios da Gol Linhas Aéreas, foi descontado por Roriz no Banco de Brasília.
Outra dúvida é por que alguém emprestaria R$ 300 mil dando um cheque de R$ 2,2 milhões para receber R$ 1,9 milhão de volta em espécie. Além disso, de acordo com as explicações de Roriz, o empréstimo havia sido solicitado para garantir um desconto de quase 50% na compra de uma bezerra cujo valor total havia sido orçado em R$ 532 mil.
O senador alegou, em nota de esclarecimento divulgada na tarde de hoje (25) que pediu o empréstimo de R$ 300 mil para pagar a Associação de Ensino de Marília, da qual Roriz teria comprado uma bezerra. Segundo o senador, caso não pagasse até o dia 14 de março, perderia um desconto de R$ 260.680. Com o desconto, Roriz teria comprado o animal por R$ 271.300.
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Ainda de acordo com o senador, o restante dos R$ 300 mil teria sido destinados a ajudar um amigo, Benjamim Roriz, que estaria com “problemas de saúde na família”.
Gravação
Na conversa gravada pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) em 13 de março deste ano, o ex-presidente do BRB, Tarcísio de Moura, um dos presos durante a Operação Aquarela, liga para Roriz e propõem: "Alô, oi senador. Posso sugerir um negócio?". O senador responde “pode” e Tarcísio continua: "Por que a gente não leva lá para o escritório do Nenê?". E Roriz concorda: "É pra isso mesmo". Então o ex-presidente do BRB diz: "E de lá sai cada um com o seu". Roriz conclui: "Ah, então tá ótimo. Nós pensamos a mesma coisa".
A versão do senador é de que Tarcísio estaria combinando onde seriam entregues os R$ 2,2 milhões referentes ao cheque nº 850023-1, do Banco do Brasil, emitido pela empresa Agrícola Xingu S/A e nominal a Constantino de Oliveira. A revista Veja, que divulgou a gravação, alegou que teve acesso a outras conversas entre o senador e o ex-presidente do BRB nas quais os dois discutiam como seria feito o transporte do dinheiro (leia mais).
Em nota divulgada no sábado, a assessoria da Gol confirmou a versão de Roriz e disse que os R$ 2,2 milhões eram provenientes da venda de uma fazenda de propriedade de Constantino de Oliveira para a Agrícola Xingu, que o senador havia ficado com R$ 300 mil como empréstimo e devolvido R$ 1,9 milhão ao empresário. Além disso, a assessoria ressaltou que Constantino de Oliveira não tem conta no BRB.
Lavagem de dinheiro
Como a Operação Aquarela investiga um esquema de lavagem de dinheiro envolvendo o BRB, a gravação foi considerada suspeita. A Polícia Civil, no entanto, diz que ainda está investigando o caso. “O cheque é de uma empresa [a Agrícola Xingu] que ainda não tinha sido mencionada nas investigações. Mas a operação é estranha e, por não ser claramente legal, é que a polícia vai investigar”, disse a assessoria da Polícia Civil do DF.
Desde sua deflagração, no final do ano passado, a Operação Aquarela cumpriu 40 mandados de busca e apreensão e 20 mandados de prisão temporária. O material apreendido, entre eles 158 discos rígidos de computador, encheu três caminhões. Os suspeitos presos foram ouvidos e liberados e as provas ainda estão sendo analisadas.
As investigações estão sendo feitas em conjunto entre a PCDF, o Ministério Público do Distrito Federal e técnicos da Receita Federal e da Coordenadoria de Administração Financeira (Coafi). Até o momento foram encontradas irregularidades em contratos com organizações não governamentais e com diversas empresas, em especial de tecnologia. O esquema consistia, basicamente, na assinatura de contratos que eram pagos, porém não eram cumpridos. (Soraia Costa)
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