Demitido nessa sexta-feira após defender uma “chacina” por semana dentro dos presídios brasileiros, o ex-secretário nacional da Juventude Bruno Júlio é acusado de agredir a ex-companheira e de assediar sexualmente uma ex-funcionária. Filho do ex-deputado federal e atual deputado estadual Cabo Júlio (PMDB-MG), condenado por envolvimento com a máfia das ambulâncias e por violência contra a mulher, Bruno perdeu o cargo após a repercussão de suas declarações à coluna do jornalista Ilimar Franco, do Globo.
“Eu sou meio coxinha sobre isso. Sou filho de polícia, né? Tinha era de matar mais. Tinha de fazer uma chacina por semana”, declarou. “Os santinhos que estavam lá dentro que estupraram, mataram [chamam de] ‘coitadinho’, ‘ai, meu Deus, eles não fizeram nada’, ‘foram [mortos] injustamente’… Para, gente!”, continuou o secretário.”Esse politicamente correto que está virando o Brasil está ficando muito chato.” Segundo ele, está “havendo uma valorização muito grande da morte de condenados, muito maior do que quando um bandido mata um pai de família que está saindo ou voltando do trabalho”. Só esta semana, 91 presidiários foram mortos em confronto entre facções rivais nos estados do Amazonas e Roraima.
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Reportagem publicada pela coluna Expresso, da revista Época, em junho do ano passado, logo após a nomeação dele para a secretaria, mostrava que havia dois boletins de ocorrência registrados contra Bruno por Vitoria Abreu Alves, sua ex-companheira. Ela o acusou de não aceitar o fim do relacionamento e atacá-la com socos, chutes, pontapés, chegando ao ponto de ameaçá-la com uma faca. Depois de declarar não conhecer Vitória, Bruno voltou atrás e reconheceu, inclusive, ter uma filha com ela.
Em outra ocorrência, ele foi acusado por uma ex-funcionária de assédio sexual, em 2015. De acordo com a revista, havia no boletim relatos de propostas íntimas de viagens, encontros, seguidos por ameaças de demissão devido à recusa da vítima. Na ocasião, Bruno divulgou nota em que dizia que sua “relação familiar sempre se pautou pelo respeito e confiança” e que a ex-mulher o acusou porque ele ganhou a guarda da filha que tiveram. Já a denúncia de assédio sexual ele atribuiu a uma retaliação por ter demitido a funcionária.
Indicado pela bancada mineira do PMDB, Bruno Júlio tinha salário de R$ 13,9 mil para comandar a Secretaria Nacional da Juventude, órgão vinculado à Secretaria de Governo. Após a repercussão de suas declarações nessa sexta, o secretário divulgou nota sobre o assunto (leia a íntegra no final deste texto). “O que eu quis dizer era que, embora o presidiário também merecesse respeito e consideração, eu entendo que também temos de valorizar mais o combate à violência. Mecanismos que o Estado não tem conseguido colocar à disposição da população plenamente”, afirmou.
Condenações do pai
Em agosto de 2014, o pai de Bruno, o deputado estadual Cabo Júlio, foi condenado pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) a três meses de detenção em regime aberto por ter agredido, em 2009, sua ex-mulher. Mas, devido à demora para a instrução do processo, o crime prescreveu. O peemedebista foi acusado de bater na ex-mulher em duas ocasiões, em dias consecutivos. A Justiça reconheceu haver provas apenas da segunda agressão, quando o exame de corpo delito comprovou que ela levou um soco no olho. “Prescrição é absolvição. E eu continuo réu primário”, disse o deputado ao Estado de Minas na ocasião.
Dois meses depois, Cabo Júlio foi condenado por improbidade administrativa, em segunda instância na Justiça Federal, a dez anos de inelegibilidade por envolvimento com a máfia das ambulâncias, desbaratada em 2006 na Operação Sanguessuga, da Polícia Federal. O caso resultou na instalação de uma CPI na Câmara, em cassações de mandato e na abertura de processo na Justiça contra dezenas de parlamentares. Na época, Cabo Júlio era deputado federal. O peemedebista recorre da decisão.
Confira a nota divulgada por Bruno Júlio antes de deixar a Secretaria Nacional da Juventude:
Nota de esclarecimento
“Hoje, terminada a entrevista com a jornalista Amanda Almeida, e falando como cidadão, em caráter pessoal, quando fui questionado sobre a nova chacina em Roraima, eu disse o seguinte:
1. Está havendo uma valorização muito grande da morte de condenados, muito maior do que quando um bandido mata um pai de família que está saindo ou voltando do trabalho.
2. Sou filho de policial e entendo o dilema diário de todas as família, quando meu pai saía de casa vivíamos a incerteza de saber se ele iria voltar, em razão do crescimento da violência.
3. O que eu quis dizer foi que, embora o presidiário também mereça respeito e consideração, temos que valorizar mais o combate à violência com mecanismos que o Estado não tem conseguido colocar a disposição da população plenamente.
Bruno Julio”