Por unanimidade, a Executiva Nacional do PDT decidiu há pouco que o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força, não será afastado do partido. Paulinho é acusado pela Polícia Federal (PF) de participar de um esquema de desvio de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES). O partido decidiu que o deputado terá o tempo necessário para demonstrar, junto aos órgãos competentes, não ter qualquer envolvimento com a quadrilha que, segundo a PF, fraudava o BNDES.
Ao sair da reunião, Paulinho disse estar satisfeito com a solidariedade de seus pares. “Por unanimidade aqui [na reunião da Executiva], o partido me deu total apoio, até porque não existe nada contra a minha pessoa”, disse, lembrando que já se pôs à disposição da corregedoria da Câmara e protocolou no Ministério Público Federal (MPF) um pedido de quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico. “Fico muito satisfeito. Era isso que eu esperava.”
O pedetista ressaltou que tentou se reunir nesta tarde com o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, para pedir a quebra dos sigilos, mas não foi possível porque o procurador participava da posse do ministro Carlos Ayres Britto como presidente do Tribunal Superior Eleitoral. “Vou pedir ao procurador que investigue minha vida. Se tiver alguma coisa, que ele me puna”, desafiou.
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Nesta tarde, o deputado fez um discurso no plenário da Câmara em que negou qualquer envolvimento com o caso. “Não tenho nada a ver com isso, nada a esconder. Minha vida é limpa, clara, transparente”, destacou Paulinho. Para o líder do PDT na Câmara e presidente nacional interino do partido, Vieira da Cunha (RS), a decisão de Paulinho de ir ao plenário e ao MPF "pesou" para que o partido decidisse pelo apoio. "O que pesou foi a sua postura de hoje, de utilizar a tribuna da Câmara com tranqüilidade e convicção, e ato contínuo ir até o procurador-geral da República", disse, ressalvando que, "obviamente", o partido fica constrangido diante do fato de que uma das suas principais lideranças esteja com a ética questionada.
Paulinho voltou a afirmar que, no relatório da Polícia Federal que levou hoje ao plenário da Câmara, “existem algumas citações”, mas que a própria polícia apenas levantou a hipótese – por isso ele teria feito questão de comparecer à tribuna prestar esclarecimentos. Ele disse ainda querer rapidez na elucidação dos fatos, a fim de que possa provar sua inocência. “Não posso ficar nesse bombardeio da imprensa se eu não devo”, declarou, acrescentando que sempre esteve “bastante aliviado”, e que a própria imprensa estava mais “preocupada” do que ele.
Ao chegar à reunião desta noite, o ministro Carlos Lupi (Trabalho) já sinalizava o apoio irrestrito do partido ao líder da Força Sindical. "Vamos o deputado Paulinho, a pedido dele. Venho como militante do partido para ouvi-lo, com todo o carinho e com todo o respeito que ele merece", disse Lupi, ressaltando que os "trâmites constitucionais" devem ser observados, e que até o momento "não existe nenhuma acusação formal" contra o deputado. "Existem ilações, pressupõe-se que seja ele, mas não existe fato. Nós não podemos julgar e prejulgar ninguém antes dos fatos."
Incômodo
Na manhã de hoje (6), o senador Jefferson Peres (PDT-AM) defendeu o afastamento de Paulinho. Para o parlamentar amazonense, a situação de Paulinho é "desagradável e incômoda". "Pedir licença seria o mais cômodo para ele e para o partido", afirmou o senador, que é líder da bancada no Senado. Jefferson esteve reunido nesta tarde com o senador Osmar Dias (PDT-PR), um dos mais firmes em sugerir que Paulinho se afastasse temporariamente. "Conversamos e chegamos a essa conclusão. Entendo que não temos o direito de fazer pré-julgamento, mas nossa posição é que ele se licencie até que a questão seja esclarecida", ponderou Osmar.
O senador paranaense lembrou que, quando o ministro Lupi foi enquadrado, no começo deste ano, pela Comissão de Ética da Presidência da República por acumular dois cargos políticos – presidente nacional do PDT e ministro do Trabalho -, ele foi uma das poucas vozes da legenda a sugerir seu afastamento. O que se repetiria, segundo Dias, agora em relação ao deputado Paulinho. "Se ninguém fizer essa sugestão eu faço."
Na semana passada, o Ministério Público Federal ofereceu denúncia contra 13 pessoas acusadas de fraudes em financiamentos do BNDES, lavagem de dinheiro, exploração da prostituição e tráfico de mulheres. O caso veio à tona com a Operação Santa Tereza, da Polícia Federal.
A PF suspeita que o deputado tenha recebido dinheiro em troca da liberação de um empréstimo à prefeitura de Praia Grande (SP). Como parlamentar, Paulinho só pode ser investigado com a autorização do Supremo Tribunal Federal (STF). (Fábio Góis e Rodolfo Torres)
Matéria atualizada às 23:15.
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