Nos últimos anos a imprensa brasileira adquiriu “um viés muito partidarizado”. Teve má vontade com o governo Lula, movida por “interesse político”. Agiu, vez por outra, em dobradinha com a oposição. Em alguns momentos, perdeu “a noção do que é certo e do que é errado” e intoxicou o leitor com “jornalismo da pior qualidade”. Agora, precisa com urgência recuperar a credibilidade.
Todas essas opiniões são de Franklin Martins, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) até o próximo dia 31. No cargo, que ocupou durante todo o segundo mandato de Lula, Franklin tornou-se um dos mais influentes membros do governo e alvo eventual de ataques da oposição e de parte da imprensa. Os mais recentes, relacionados com os debates – que ele estimulou e capitaneou – com vistas à adoção de um novo marco regulatório na área de comunicações. Há quem qualifique como tentativa de censura a proposta de regulamentação que ele deixará para o novo governo, interpretação que o ministro repudia com veemência.
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Ao receber a equipe da TV Congresso em Foco em seu gabinete no Palácio do Planalto, no chuvoso fim de tarde da última segunda-feira, Franklin Martins falou durante 30 minutos e foi duro ao analisar a imprensa que viu “do lado de lá” do balcão. Ele usou números para apontar quem tem razão no embate entre setores da mídia e o governo Lula. “O governo terminou com aprovação de 80%. Lula, 87%. E os jornais estão vendendo menos do que vendiam antes”, disse.
Habilidade com as palavras é algo que até os inimigos sempre reconheceram nesse capixaba de 62 anos, nascido em Vitória, mas criado no Rio de Janeiro, onde se tornou um dos principais líderes estudantis da segunda metade dos anos 60 e participou do famoso sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick. Depois de atuar na clandestinidade contra a ditadura militar, como membro do MR-8, Franklin deixou a militância política para se tornar um dos mais prestigiados jornalistas políticos do país. “Do lado de cá do balcão”, além de repórter especial e comentarista de vários veículos, foi diretor da TV Globo e do jornal O Globo em Brasília.
Veja a seguir os principais momentos da entrevista dele à TV Congresso em Foco:
Primeira parte – “Perderam a noção do que é certo e do que é errado”
O ministro diz que “o governo diariamente era derrotado de cinco a zero pelos jornalões”, quando ele chegou à Secom. Para enfrentar o que define como “posição contrária ao governo”, da parte da imprensa, o presidente Lula passa a falar mais com os jornalistas, contrapondo a visão oficial às versões de veículos “partidarizados”, que demonstravam “má vontade” com o governo. Citando os jornais O Globo e Folha de S. Paulo e a TV Globo, dá exemplos de coberturas, como a do acidente da TAM (em julho de 2007) ou do objeto atirado no tucano José Serra (durante a disputa presidencial), que, no seu entender, caracterizaram “agressão a qualquer manual de jornalismo”.
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Segunda parte – A internet e o jornalismo da “era do aquário”
Franklin ressalta que o governo Lula “enfrentou de modo democrático” os ataques da imprensa e chegou ao final com elevada popularidade, enquanto a credibilidade dos jornais tradicionais caiu nos últimos anos. Isso ocorreu, segundo ele, porque “a manchete não é mais forte que a experiência das pessoas”, que condenaram setores da imprensa por demonstrarem “uma má vontade com o governo desproporcional aos erros do governo”. Acrescenta que a internet tirou do Olimpo o comando das redações, até então confortavelmente instalado em aquários (salas envidraçadas que costumam abrigar as chefias de redação). E prevê: “No frigir dos ovos, faremos um jornalismo melhor”.
Terceira parte – Primeiro projeto fora do governo é livro sobre música & política
Escrever um livro sobre a política na música brasileira é o primeiro projeto de Franklin Martins fora do governo. Ele diz não saber ainda se voltará ao jornalismo, no qual – ressalta – ganhava dez vezes mais do que recebeu no governo. “Mas valeu a pena, foi um dinheiro bem investido”, comenta.
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