Em entrevista dada ao repórter Leonardo Souza, da Folha de S. Paulo, o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira admitiu que sabia do esquema de recursos de campanha não-contabilizados pelo partido, e assegurou que todos os 21 integrantes da Executiva Nacional do partido também tinham conhecimento do caixa dois.
"Eu assumo a minha responsabilidade política. A minha responsabilidade não é diferente da de nenhum outro dos 21 membros da Executiva Nacional do PT. O nível de decisão que eu tinha não era diferente do de nenhum dos 21 membros da Executiva Nacional do PT", afirmou, em entrevista dada na noite da última sexta-feira (30) e publicada neste domingo (2) pelo jornal.
Silvio Pereira não acusou ninguém pessoalmente. Ao afirmar, porém, que os 21 membros que compunham a Executiva Nacional do partido antes da crise política sabiam do caixa dois, envolve várias estrelas do PT, como a ex-prefeita paulistana Marta Suplicy, o ex-secretário de Comunicação do partido Marcelo Sereno e até o líder do PT no Senado e presidente da CPI dos Correios, Delcídio Amaral (MS).
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O ex-secretário-geral do PT isentou o ex-ministro José Dirceu e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Não quero falar do Dirceu, na medida em que ele não estava na direção do partido", declarou. Segundo o ex-secretário, Lula não se envolve em questões partidárias.
Silvio confirmou a informação do ex-deputado Roberto Jefferson de que o PT tinha um acordo financeiro com o PT nas eleições municipais de 2004. Conforme Jefferson, o acerto foi de R$ 20 milhões, e o PT transferiu R$ 4 milhões. Silvio afirmou desconhecer o valor exato, mas disse que o objetivo era evitar que o PTB apoiasse o tucano José Serra, e não Marta Suplicy, na disputa pela Prefeitura de São Paulo.
O ex-secretário contou que, na última terça-feira, devolveu o jipe Land Rover que recebeu, em novembro de 2004, do dono da GDK, César Roberto Oliveira. A empresa foi escolhida em licitação para reformar, por US$ 90 milhões, a plataforma P-34 da Petrobras.
Leia a seguir as principais declarações de Silvio Pereira:
Responsabilidade política
"Eu assumo a responsabilidade como membro da direção do PT, em que pese a direção do PT ter realmente a noção do que estava acontecendo. Ninguém é hipócrita de achar que não sabia que existia caixa dois. Qual membro da direção do PT não sabia disso?".
Conhecimento por parte de José Genoíno
"Eu pergunto: qual o membro da alta direção do PT que não poderia supor que pudesse existir [o caixa dois]?".
Sobre o grau de envolvimento dos dirigentes
"A direção definia as prioridades: nós vamos investir nesse projeto, projeto A, projeto B, projeto C. Vamos fazer isso ou aquilo. Agora, como captar esse recurso, de onde vinha, como vinha, como se fazia, aí ninguém, ninguém, ninguém, exceto o gerente, tinha essas informações".
As pressões sobre o ex-tesoureiro Delúbio Soares
"Agora, uma coisa era verdade, 27 estados bateram à porta do Delúbio. Por que os estados não assumem isso, pô? Todo mundo pegava no pé do Delúbio para arrumar recursos, todo mundo, todo mundo. Agora ele está lá, sozinho. As pessoas não perguntavam: bom, de onde vem esse dinheiro? Por que não perguntavam, por que não perguntavam? Na época do sacrifício, todo mundo batia à porta dele, todo mundo. Agora ele virou o grande… sei lá".
O acordo com o PTB
"O custo político para trazer o PTB e o PL para a campanha da Marta foi alto. O partido cabeça-de-chapa [PT] tem que arcar com todos os custos"
Roberto Jefferson
"Ele não devia ter feito isso comigo, o Roberto Jefferson. Ele sabe que eu nunca operei financeiramente, que eu nunca operei para caixa dois", afirmou.
Land Rover presenteado pelo empresário César Oliveira
"O carro me detonou. A partir daquele momento eu não pude mais fazer a defesa do meu patrimônio, ficou uma coisa para as pessoas… Eu não fiz nenhum tipo de tráfico de influência. Que alguém se apresente e confirme, que diga, que prove, que dê algum indício disso".