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A estratégia era a mesma de um dia antes: negar. Assim foi o depoimento do tesoureiro licenciado do PT, Delúbio Soares, ontem à CPI dos Correios. Por mais de 12 horas, o ex-dirigente do partido confirmou que agiu sozinho quando pediu empréstimos bancários para as campanhas petistas, recusou-se a dizer o nome dos deputados que sacaram dinheiro nas contas do empresário Marcos Valério e foi enfático, assim como havia sido o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira na terça-feira: não existe mensalão. Munido de um hábeas-corpus e com a ajuda de três advogados – os mesmos que um dia antes haviam socorrido Silvio Pereira, ex-secretário-geral do partido –,Delúbio negou o pagamento de mesada a parlamentares em trocas de votos a projetos do governo, esquema denunciado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). E admitiu mais uma vez que o PT usou caixa dois para pagar campanhas do partido de aliados da base. Leia também Na última sexta-feira, em entrevista ao Jornal Nacional, o empresário Marcos Valério, apontado como um dos operadores do mensalão, denunciou ter feito cinco empréstimos bancários ao PT, que somados alcançam R$ 39 milhões. Na entrevista, Valério disse que repassou todo o dinheiro para o ex-tesoureiro do PT. Hoje a dívida do partido com o empresário está em R$ 90 milhões. Acareação com Valério Três dias antes, no dia 11, os dois se encontraram em Belo Horizonte (MG). Os integrantes da CPI suspeitam que os dois combinaram divulgar a versão de caixa dois a fim de acobertar outros crimes mais graves. Delúbio Soares disse ontem à noite que aceitaria fazer uma acareação com Valério. Os saques nas contas de Valério registrados pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), disse Delúbio, não eram feitos por parlamentares que recebiam o suposto mensalão, mas sim por petistas que tinham dívidas de campanha. O dinheiro ficava na conta de Valério e Delúbio indicava quem poderia sacá-lo. “Não tenho a menor idéia de como era o processo para receber o dinheiro”, afirmou o ex-tesoureiro, que não deu nomes aos sacadores. Delúbio tomou para si a responsabilidade pelos empréstimos e ressaltou que a existência de caixa dois em campanhas é uma prática corriqueira na política brasileira. Ao insinuar que os parlamentares sabem como funciona o processo, o petista provocou protestos de integrantes da CPI. Desculpou-se em seguida: “Desculpe, não quis ofender a ninguém.” Afirmou ainda que os únicos empréstimos reconhecidos pela Executiva Nacional do partido são aqueles realizados pelo Banco do Brasil, pelo Banco Rural (R$ 2,4 milhões) e pelo BMG (R$ 3 milhões). Delúbio negou-se a falar da denúncia feita pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de que o PT havia prometido R$ 20 milhões ao PTB. Depoimento questionável A dívida do PT cresce a cada dia. Ao BMG, além dos R$ 800 mil pagos em juros, o partido deve R$ 2,7 milhões e corre o risco de ser executado caso não quite o valor até o final do ano. No Banco Rural, a dívida chega a R$ 7 milhões. Delúbio disse desconhecer qualquer relação entre os gastos do Banco Popular com campanhas de publicidade feitas pela empresa DNA Propaganda e posteriores saques das contas da agência de publicidade em socorro ao PT. “Não existem recursos públicos envolvidos no processo. Não vejo essa conexão”, respondeu ao relator Osmar Serraglio. O ex-tesoureiro negou ter intermediado contratações para favorecer o Banco Rural junto ao governo ou os banqueiros Daniel Dantas e Carlos Rothemburg, ambos do Banco Opportunity. Ele entrou em contradição ao afirmar que não conhece oito das 11 pessoas citadas na lista entregue por Marcos Valério na semana passada ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza. A lista mostra o nome de pessoas apontadas como responsáveis pelos saques de dinheiro de contas bancárias das empresas de Valério. Entre os nomes listados estão os de Simone Vasconcelos e Geisa Dias, apontadas como realizadoras de grandes saques no Banco Rural. As duas fazem parte da diretoria financeira da DNA e da SMPB. Delúbio garantiu não conhecê-las, apesar de ser o único a saber dos empréstimos obtidos junto a Valério, com afirmou durante o depoimento. As afirmações irritaram o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA): “Quem o senhor acha que consegue enganar?”. |
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