Em entrevista coletiva concedida hoje (4), o deputado Raul Jungmann (PPS-PE) anunciou a abertura de suas contas referentes ao uso do cartão corporativo à época em que foi ministro extraordinário de política fundiária (entre 1996 e 1999) e ministro do Desenvolvimento Agrário (1999 a 2002) durante o governo Fernando Henrique Cardoso.
Ao Congresso em Foco, Jungmann disse que são dois os objetivos de sua iniciativa. “A intenção é dupla. Primeiro, é dizer para o cidadão que ele tem direitos, que eu sou igual a ele, independente de ser ministro ou deputado. O cidadão tem direito a cobrar explicações a respeito do que é dinheiro público”, explicou o deputado. “Quando estava ministro, estava para servir, e não para servir-me.”
Para Jungmann, a autoridade pública tem o dever de prestar contas de toda a movimentação que faz com dinheiro público, porque é o povo, por meio dos impostos que paga, o principal interessado na aplicação dos recursos.
A outra razão para a abertura das contas, esclareceu Jungmann, é destinada ao presidente Lula e aos chamados ecônomos do governo – membros do Executivo ou do Judiciário que dispõem do uso do cartão corporativo e dos suprimentos de fundo. “A segunda [razão] é dirigida ao presidente Lula. Que ele busque assimilar nosso gesto e divulgue absolutamente tudo”, sugeriu o deputado, para quem Lula ficará “moralmente derrotado” caso não divulgue suas contas, mesmo que use um “rolo compressor” para minimizar, na CPI Mista dos Cartões Corporativos, as denúncias sobre o dossiê supostamente elaborado na Casa Civil.
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Lula e Médici
Jungmann disse ainda que o presidente Lula deveria abandonar a estratégia da “chantagem” contra a oposição, e fez uma analogia histórica ao atual governo. “Estamos vivendo um tempo muito parecido ao tempo do governo Médici [general Emílio Garrastazu Médici, que governou o país entre 1969 a 1974], tirando a tortura”, comparou o deputado, dizendo que “a expansão grande na economia e um presidente muito popular, com a oposição sendo intimidada” são as principais semelhanças entre as duas administrações.
Questionado pela reportagem se a abertura de contas anunciada hoje levaria o governo a seguir o mesmo caminho, Jungmann recorreu ao dito popular. “Ficou muito claro que quem deve, não teme. Quem não teme, mostra”. Para ele, mesmo gozando de alta popularidade (a mais recente pesquisa CNI/Ibope apontou 58% de aprovação popular do governo Lula), o presidente deveria cumprir o seu “dever” e divulgar o mais rapidamente possível suas contas.
No início da noite de hoje, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, convocou uma entrevista coletiva para explicar em que termos se deu a compilação de informações sobre gastos com cartão corporativo do ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso. Ela considerou a hipótese de os computadores da secretaria terem sido invadidos com fins escusos. (Fábio Góis)