O deputado federal Júnior Bozzella(PSL-SP), vice-presidente nacional do partido e ex-aliado do presidente Jair Bolsonaro, afirmou que o Palácio do Planalto distribuiu R$ 92 milhões dentro do PSL, em dezembro do ano passado, em troca de apoio político. A declaração foi dada em entrevista ao repórter Patrik Camporez, da revista Crusoé em edição publicada nesta sexta-feira (4). Os recursos foram repassados via emendas para aliados e, conforme o parlamentar, trata-se de um escândalo “pior que o mensalão”.
Na avaliação de Bozzella, em dez anos o governo Bolsonaro será considerado o “mais corrupto da história”. “Quem acreditou nesse governo nunca imaginou que estaria construindo o governo mais corrupto da história, seja em áreas como o meio ambiente ou no toma lá da cá dentro do Parlamento”, disse, na entrevista.
O nome do deputado aparece na lista dos que indicaram o destino para verbas dentro do chamado “orçamento paralelo”. Esse esquema, revelado pelo jornal Estadão, envolve parlamentares beneficiados com emendas impositivas “secretas”, asseguradas por meio da chamada emenda do relator e em troca de apoio político.
Leia também
À Crusoé, o deputado relatou que o então líder do PSL, Felipe Francischini (PSL- PR), entrou em contato com seu gabinete informando que ele tinha o direito de indicar emendas e escolher para onde iriam os recursos. “Coube à liderança fazer a triagem com base na nossa relação política com prefeitos, com quem a gente tem ligação. Perguntaram quem a gente queria contemplar. Igual com as emendas impositivas”, alegou.
“Foi com base nesse entendimento que o [meu] gabinete fez a indicação de onze municípios pequenos com essas características. Foi bem em cima da hora. A gente não teve tempo de fazer o trabalho, o rastreamento. Coube à liderança do PSL fazer essa distribuição, beneficiando mais os deputados bolsonaristas”, destacou Bozzella, que diz ter sido um dos “menos contemplados” pelos valores.
Bozzella ainda falou que as ofertas de recursos do suposto “orçamento paralelo” para os parlamentares que apoiassem a candidatura do atual presidente da Câmara, Arthur Lira(PP-AL), ocorreram de forma “escancarada”. “Mas a cada pauta, a cada discussão, a cada revisão de orçamento, em todas essas discussões, são sempre levadas em conta as emendas extras que são apresentadas a deputados e senadores”, alegou.
Questionado se o Planalto cobrou apoio do presidente da Casa ao liberar essas verbas, o deputado respondeu que “cada caso tem um acordo específico”. “Numa determinada votação, liberação de ‘x’ milhões para aquela votação. A última (liberação) que teve foi por causa do auxílio emergencial. Aí teve mais um quantitativo para a eleição do Arthur [Lira]”, explicou Bozzella.
O vice-presidente do partido ainda revelou que, na época em que Bolsonaro integrava o PSL, buscava não apenas o controle político da sigla, mas também o financeiro. Segundo Bozzella, o presidente desejava que o diretório paulista – na época comandado por Eduardo Bolsonaro – recebesse, mensalmente, um “volume enorme” do fundo partidário.
O deputado rompeu com Bolsonaro em 2019, após racha interna no PSL. Ele também contou ter sido ameaçado “algumas vezes” pela família do presidente, chegando a receber escoltas da Polícia Legislativa. “Depois, quando o Arthur Lira ganhou a eleição legislativa, ele me tirou a escolta sem justificativa alguma”, acrescentou Bozzella.
> Parlamentares pedem instalação da “CPI do Bolsolão”
> Freixo pede que TCU investigue orçamento secreto de Bolsonaro
> PSL avança em processo de expulsão de deputados que apoiam Lira