Antecedendo a 21ª Parada do Orgulho LGBTS de Brasília, que será realizada no próximo domingo (25), seus organizadores realizam amanhã e quarta-feira (dias 20 e 21), no Museu da República, o seminário “Fé na democracia: a defesa da laicidade do Estado no Brasil e da cidadania LGBT”.
O seminário é apoiado pelo Congresso em Foco, que há um ano estampa em todas as suas páginas a bandeira que se tornou o principal símbolo da luta pelo respeito aos direitos e à dignidade de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT).
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Um dos coordenadores do evento e da parada, Welton Trindade explica a opção pelo tema do seminário: “A escolha vem de um alerta. Somam-se os políticos que têm usado as tribunas dos espaços públicos como se fossem púlpitos para pregação. Um religioso, claro, pode e deve estar na política, mas a religião não. Quando religião e política se misturam, ficam sob ameaça a cidadania e o próprio conceito de democracia”.
Embora a questão da laicidade – isto é, da separação entre igrejas e Estado – seja tratada de diferentes formas pelos países com longa tradição democrática, ela é vista por inúmeros teóricos e pensadores como uma ideia essencial à concretização da democracia. O pressuposto é que, numa sociedade democrática, cabe ao poder público garantir plena liberdade de culto e de crença, mas sem permitir a manipulação dos instrumentos do Estado por grupos religiosos.
No extremo oposto, estão os líderes fundamentalistas que se tornaram tristemente famosos nos últimos anos por se apropriarem de valores espirituais para empreender “guerras santas”, com frequência encampando o terrorismo mais brutal, ou impor regras de conduta mesmo àqueles que não seguem os seus dogmas.
Cidadania se respeita
PublicidadeWelton Trindade diz que a cidadania LGBT corre riscos gigantescos quando a laicidade não é respeitada: “Um exemplo claro: se uma religião considera que casamento deve ocorrer apenas entre homem e mulher, ok. É direito dela. Agora, essa visão não pode ir para as leis. Quando o debate é casamento civil, o legislador e jurista devem olhar a questão da igualdade e dos direitos de um casal pura e tão somente. E não essa ou aquele religião”.
Daí o lema da marcha de Brasília deste ano, produto tanto da reflexão quanto da vivência da comunidade LGBT sobre o assunto: “Religião não se impõe. Cidadania se respeita”.
Segundo os organizadores, a parada do Distrito Federal teve a participação de aproximadamente 55 mil pessoas no ano passado. A marcha brasiliense é a terceira mais antiga do Brasil e é realizada para celebrar o 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBT.
Para marcar a data, também foi aberta no último dia 15, na estação central do Metrô de Brasília, uma exposição de fotos sobre LGBT e religiosidade, que irá até 30 de junho. Será entregue ainda, no Museu da República, o Prêmio Beijo Livre de Direitos Humanos LGBT para pessoas e entidades que apoiam a causa arco-íris. Fecha a programação um panfletaço, na Rodoviária do Plano Piloto, sobre Estado laico.
A marcha será realizada a partir de 14h de domingo, com concentração em frente ao Congresso Nacional e caminhada rumo ao Palácio do Buriti.
O seminário, também apoiado pela Secretaria de Cultura do Distrito Federal e pela Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero do Conselho Federal da OAB, terá início sempre às 19h, com entrada é franca.
Veja a programação completa do seminário:
Terça 20/06 às 19h:
Mesa Origem e Momento Atual da Laicidade no Brasil e sua Relação com a Causa LGBT
– George Marques – site The Intercept
– Welton Trindade – Associação da Parada do Orgulho LGBTS de Brasília
– Andrey Lemos – Presidente UNA LGBT
– Leonardo Santana – mestre em Direito (UnB) e advogado de Direitos Humanos
– Ivana Siqueira – secretária de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do Ministério da Educação.
– Pollyana Gama – deputada federal (PPS-SP).
– Erika Kokay – deputada federal (PT-DF)
Quarta 21/06 às 19h:
Mesa Futuro da Laicidade no Brasil: união e estratégias de Resistência
– Eliseu Neto – PPS Diversidade
– Bernardo Mota – ativista trans masculino
– Michel Platini – Associação da Parada do Orgulho LGBTS de Brasília
– Fábio Felix- Secretário-geral do Psol
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