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Com a participação de shows com cantores cristãos e, claro, políticos das bancadas religiosas sobre os caminhões de som, o evento é aberto a todos os públicos. De acordo com anúncio veiculado em cartazes, emissoras de TV e na internet, “até ateus” podem participar. Em 2008, milhares de pessoas protestaram em frente ao Congresso contra projetos apoiados pela comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros).
A manifestação promete ser o primeiro grande ato contra a resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que obriga os cartórios de registro a reconhecer a união civil entre pessoas do mesmo sexo e celebrar o casamento homoafetivo. Parlamentares da bancada evangélica não gostaram da decisão por entender que a determinação deveria partir do Congresso. O PSC pediu a derrubada da ordem ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas o recurso acabou arquivado pelo ministro Luiz Fux.
Ativismo
O deputado João Campos (PSDB-GO), ex-presidente da Frente Parlamentar Evangélica, disse que a expectativa é de que 100 mil pessoas estejam no local. Ele afirmou que espera que “quase todos”, até os mais discretos membros da bancada evangélica, como Benedita da Silva (PT-RJ), estejam sobre caminhões de som. “Você sabe como político é”, lembra o deputado. O tucano diz que setores do PT tentam colocar uma “mordaça na imprensa”, a propor a regulação da mídia, e nas religiões. “O Estado laico não é o religioso nem o antirreligioso. É o que garante a liberdade de crença”, disse ele.
Ele afirmou ser contra o casamento gay por não considerar a situação de foro íntimo. “Namorar uma pessoas do mesmo sexo, morar junto, é do foro íntimo, mas consagrar isso como instituto da sociedade, não”, disse Campos. “O Congresso não deliberou porque esse não é o desejo da sociedade”, disse. Para o deputado, um dos problemas da união entre pessoas do mesmo sexo é a adoção de crianças por parceiros homossexuais. “A psicologia diz que o primeiro elemento que amplia a visão de mundo delas é a figura do pai. Há um prejuízo para a formação da criança.”
Campos entende que a decisão do CNJ não é o mais importante mote do protesto, embora o Judiciário e o Ministério Público também sejam alvo dos evangélicos. “Mas não vamos perder a oportunidade de exteriorizar nossa insatisfação com esse ativismo do STF, do CNJ e do CNMP [Conselho Nacional do Ministério Público].” Outro alvo da manifestação é o Projeto de Lei 122/06, que transforma a homofobia em crime. Ontem (4), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PDMB-AL), anunciou que a proposta deve ter sua tramitação acelerada na Casa.
Pressão sobre Dilma
Um dos coordenadores da Frente Parlamentar dos Direitos Humanos, Domingos Dutra (PT-MA) disse que a manifestação deveria ser mais propositiva. Para ele, o protesto tem como alvo também a presidenta Dilma Rousseff. “Além de uma pauta conservadora, tenta expor sua força para amedrontar a presidenta Dilma, às vésperas do pleito eleitoral”, analisa o deputado, em entrevista ao site. Malafaia negou a interpretação de Dutra: “Ele não sabe o que está falando. Ouviu o passarinho cantar e nem sabe o nome dele.” Veja a entrevista
Ele criticou o avanço das igrejas evangélicas ao retirar fieis da igreja católica por meio de meios de comunicação. “Têm usado a mídia e o charlatanismo”, afirmou Dutra. O deputado citou um exorcismo de uma pessoa na Igreja Universal do Reino de Deus, que, para ela, tratava-se de uma pessoa com fome. “E não tira [o demônio] de graça. Atrás dessas ações estão sempre presente o dízimo.”
Nascituro
O protesto está marcado para às 15h, horas depois da sessão da Comissão de Finanças e Tributação (CFT) da Câmara que tem como item na pauta o Estatuto do Nascituro. A proposta dá direitos aos embriões em formação como forma de inibir os abortos e cria a “bolsa estupro”, ajuda financeira para mães que optarem por ter as crianças mesmo após a violência sofrida. Pela lei brasileira, em caso de estupro, a mãe tem o direito de abortar o bebê. “Estamos trabalhando para aprovar”, disse ao Congresso em Foco o presidente de honra da bancada evangélica, deputado João Campos (PSDB-GO).
MOTIVOS PARA PROTESTAR
A favor de… | Significa ser contra… |
Liberdade de expressão | Debates sobre projeto de lei para controlar a mídia, defendido por setores do PT, embora rejeitados pelo governo Dilma Rousseff. |
Liberdade religiosa | Projeto de Lei 122/2006 no Senado, que torna crime a discriminação contra os homossexuais. Os religiosos dizem que a proposta os proíbe chamar o homossexualismo de pecado. |
Família tradicional | A favor da família formada por homem, mulher e filhos. Contra o casamento gay, aprovado pelo Conselho Nacional de Justiça em maio, sem passar por projeto de lei no Congresso Nacional. Contra a adoção de crianças por pessoas do mesmo sexo. |
Vida | Ampliação das possibilidades de aborto, como defendido no projeto de lei no novo Código Penal em tramitação no Senado. Contra a eutanásia e a ortotanásia. |
Fonte: pastor Silas Malafaia e deputado João Campos (PSDB-GO)