As eleições municipais de 2012 terminaram e já divulgados os resultados finais, majoritária e proporcional, depois do primeiro e segundo turnos, com vencedores satisfeitos e derrotados conformados. Muitas promessas ditas e não sabemos se serão cumpridas. O nosso ideal não pode apagar a luz de esperança, mas não queremos que o povo seja o grande perdedor, que vive na fome, na miséria e na ignorância.
O período de propaganda no rádio e na televisão, quando se busca a verdade de “propostas apresentadas”, numa análise acurada, sem o sectarismo partidário ou as recompensas de ordem pessoal, a nosso sentir, não são alentadoras.
Os nossos tímpanos se untaram de um óleo especial para ouvir as baboseiras de candidatos despreparados no horário da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão. Na verdade, vemos e ouvimos, acreditamos se quisermos nas palavras enganadoras de determinados candidatos que não têm a menor noção do que sejam os pilares do regime democrático tampouco o mínimo de respeito para com o povo. E maus coordenadores de campanha que não sabem exercer o seu fiel papel de organizador de campanha política. Coordenaram o deboche na mídia social, como se isso fosse o fator imprescindível para conquistar o voto, ledo engano!
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Esqueceram-se de pontuar questões sociais de cunho propositivo e passaram para a revanche pessoal. Criaram tanta ilusão que terminaram acreditando nas suas monstruosas criações. Em muitos casos, o monstro revoltou-se contra o seu criador. Pareciam saber tudo e não sabiam nada! E, justamente, os cidadãos são os construtores do ideal democrático, muitos deles são levados ao matadouro como uma fera bravia, quando o abate se dá depois do resultado das urnas.
Organizar uma campanha eleitoral é como abrir uma empresa que tem como meta a liderança de um setor. Mas em tempo recorde e sem direito a falhas. Sim, é como fundar uma empresa que começa do nada e tem que funcionar em poucas semanas, se não perfeitamente, ao menos muito melhor que as suas concorrentes. Essa tarefa inclui desde contratar um grande time que nunca trabalhou junto até estabelecer hierarquias, estruturas, fluxos, padrões, estratégia, táticas etc. E depois de tudo alcançado, mesmo que seja a campeã, esta empresa de sucesso está fadada ao mesmo fim das empresas fracassadas: fechar suas portas.
No jargão do jornalismo político “estelionato eleitoral” é quando um político promete muito e não cumpre nada do que se dispôs a fazer quando chega ao poder. Cada candidato é obrigado a apresentar por ocasião do registro da candidatura o plano de governo. Muitos fazem um emaranhando de tópicos genéricos apenas para não correrem riscos de cancelamento do registro por falta de cumprimento de uma exigência legal. A partir dessa exigência, poderíamos ter na lei uma punição bem severa para o estelionato eleitoral. A Lei do Estelionato Eleitoral só surgirá a partir de uma iniciativa popular tal qual a Lei da Compra de Votos nos anos 1990 e, mais recentemente, a chamada Lei da Ficha Limpa. A prática de estelionato eleitoral sendo crime tornaria a campanha eleitoral mais limpa e diminuiria o peso da propaganda (enganosa) nos palanques eletrônicos ou não.
Uma péssima coordenação leva ao caminho da derrota. O maior erro de uma coordenação de campanha é criar o excesso de confiança. A vitória de uma campanha eleitoral exige trabalho até o último minuto. Estupidez, ignorância, arrogância, queixo empinado, falta de consideração, confiança somente no dinheiro e no poder que exerce são fatores que denigrem a dignidade de muitos eleitores honestos. Este número de eleitores honestos pesa no resultado final, que se dá pela maioria.
Passamos por um daqueles momentos em que muito havia que se ouvir, pois muitos queriam falar, mas pouco ou nada havia a dizer, porque muitos queriam ver o que eles iam dizer.
A cada dia vemos algumas classes da nossa sociedade perdendo crédito, respeito e com moral cada vez mais baixa. No meio da plantação parece existir mais joio do que trigo. Alguém pode dizer: “Mas, você está julgando!” Não é questão de julgamento, é apenas não ser cego e ver o que estão fazendo, ou melhor, deixando de fazer.
A cada dia o uso da palavra se torna sempre mais rebuscado e requintado por indivíduos que aprendem a manipular seus ouvintes. Porém, a habilidade que têm em falar, não é a mesma que têm para viver o que dizem acreditar.
No horário da propaganda eleitoral, por exemplo, é de arrancar risos, para não dizer lágrimas ao ver e ouvir os velhos jargões “eu fiz”, “eu farei”, “vou lutar por vocês”, “pela educação, saúde e segurança”, “mais empregos para os jovens”, e por aí vai, a lista é interminável.
Para ser franco, tudo não passava de balela. Discurso pronto, bem pontuado, bem ensaiado, uma produção neuro linguisticamente calculada.
O resultado de verdade é bem conhecido: mensalão, maleta de dólar, cueca recheada de dinheiro, reuniões clandestinas em sofisticadas coberturas, empresas fictícias, talão de notas frias, ambulância que vale mais que ônibus etc. São apenas palavras belas, bem pronunciadas, mas pouco vividas. Há muito tempo, a incoerência entre o discurso e a prática era patente de político. Na Grécia antiga chamavam-se de sofistas. Estavam fora desse grupo os homens e mulheres que sempre foram conhecidos como pessoas de Deus, ou que usavam racionalmente a inteligência humana.
Infelizmente, essa distinção já está se tornando muito difícil de fazer. Muitos que dizem pregar amor, compaixão, perdão, humildade, servir ao próximo e batem no peito dizendo fazer como Cristo ensinou estão longe de saber o que é ser imitador do Mestre da Vida. Jesus jamais compactuou com qualquer atitude em que um homem tentasse sobrepor-se ao outro quer pela lei quer pela força.
Ele ensinou e viveu de tal forma a mostrar que, para Deus, não há acepção de pessoas. O apóstolo Tiago escreveu em sua carta que quem faz acepção de pessoas comete pecado. Muitos podem não saber ou fingir que não sabem, mas a presunção de dizer: “eu sou mais santo do que tu”, como profetizou Isaías, também é acepção de pessoas.
Não podemos generalizar, salvo pouquíssimas exceções, muitos discursos não só foram pecados porque estavam mentindo para si mesmo, mas crime que desrespeita a cidadania e a dignidade da pessoa humana.
Na vida real, a fome, a miséria, a escassez de atos acalentadores de atendimento à saúde, a educação sucateada e os desvios de dinheiro público não admitem enganação. Exigem ação concreta para que o cidadão seja reconhecido em sua dignidade humana e na valorização do seu estado de viver, e viver bem!
*Escritor e promotor de Justiça em João Pessoa.