Severino Coelho Viana *
Segundo o dicionário Houaiss, o significado de ESTADISTA é pessoa versada nos princípios ou na arte de governar, ativamente envolvida em conduzir os negócios de um governo e em moldar a sua política; ou ainda pessoa que exerce liderança política com sabedoria e sem limitações partidárias.
Enquanto que na visão de Platão, o governante deve ter um conhecimento elevado, acima dos demais cidadãos para que o mesmo possa governar com sabedoria.
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Nesta perspectiva Platão coloca como o governante da cidade Ideal aquele que tem um conhecimento amplo e necessário para bem conduzir o povo, aquele que sabe como distinguir através da razão entre o bem e o mal, e, consequentemente, ele terá menos inclinação para cometer injustiças e praticar o mal, evitando assim, de certa forma que o povo se rebele contra a ordem social, mas são poucos que têm essa capacidade e somente ao longo da formação serão identificados como possuidores de tal virtude. Na visão platônica o governante seria um filósofo-rei porque somente o homem sábio tem inteira ideia do bem, do belo e da justiça.
A justiça platônica é entendida como uma harmonia e ordem das partes em função da consecução de objetivos comunitários que são condição para a felicidade da comunidade e de seus membros. A justiça requer que o Estado construa sua legítima autoridade integrando os distintos grupos sociais em uma unidade sociopolítica. Um Estado onde o compromisso com os projetos comuns sejam racionalmente eleitos, ainda, que a partir da ação individual de cada membro da comunidade política desde que visem o bem-estar geral.
O mito da caverna
É talvez a mais famosa imagem-parábola de Platão, utilizável para todas as coisas com o fito de explicar a relação entre esse mundo e o mundo das formas, bem como a iluminação filosófica necessária aos reis-filósofos.
Platão imaginou vários prisioneiros acorrentados ao solo de uma caverna. E, bem atrás deles existia uma plataforma erguida, onde vários objetos são carregados de um lado para o outro, e, bem atrás desse vaivém existe uma fogueira.
Então, certo dia, um prisioneiro consegue se libertar, enxerga o que está acontecendo e percebe que quando estava no interior da caverna confundia meras ilusões com objetos reais. Assim que este prisioneiro saiu da caverna com muita dificuldade, logo se deparou com a ofuscante luz do Sol. Até que, com muito esforço, conseguiu ver a verdadeira natureza do mundo.
Na ótica platônica, somos como prisioneiros em uma caverna e o mundo dos objetos físicos não passavam de um mero vaivém de sombras comparado ao mundo imutável das formas perfeitas.
O filósofo que conseguiu se libertar, observou os objetos fora da caverna, as formas em si mesmas, finalmente vê o Sol, a forma da bondade, que a tudo ilumina.
Vale notar que o filósofo tem de retornar à caverna para libertar os demais prisioneiros, mas não há dúvida de que ele preferiria permanecer lá fora, contemplando tudo tranquilamente.
E, libertar a multidão não é tarefa fácil.
Este sofre, sendo acusado de louco por sua conversa sobre o chamado “mundo real”, logo sendo morto.
O homem que saiu da caverna é o filósofo, o governante, o líder que procura mostrar a realidade aos que viviam na escuridão e acreditavam naquela vida irreal que viviam. A metáfora do mito é que só aquele que questiona pode alcançar o conhecimento. A luz representa o conhecimento, os homens na caverna pensam que o mundo é como eles veem nas sombras, e o papel do filósofo é “iluminar” as sombras de suas ideias.
Com isto, Platão está sugerindo no Mito da Caverna que o rei-filósofo governasse não pelo senso de dever para com os sujeitos, mas porque se importava com eles. O que ele queria mais que a alegria que acompanhava a contemplação das formas, o que Platão queria era a justiça para a cidade.
O Mito da Caverna mantém-se muito contemporâneo nas diversas sociedades ao redor do mundo, que preferem permanecer alheios ao pensamento crítico na tentativa de libertar os homens dos seus grilhões.
Até hoje o ideal de Platão não foi realizado. Quanto mais o tempo passa e mais o homem se distancia do ideal platônico. Exatamente, à prática dá-se ao contrário.
Aqui no Brasil, nós estamos procurando este estadista ou esse governante platônico. Não é nem utopia, porém pura ilusão do irrealizável, pois na utopia há a possibilidade de projeção e realização da esperança.
* Escritor e promotor de Justiça em João Pessoa.
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