Em depoimento ao presidente do Conselho de Ética do Senado, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) afirmou que não declarou empréstimo de R$ 178 mil à Receita Federal porque a quantia foi destinada para o pagamento de despesas pessoais em Alagoas. A informação foi prestada na noite de hoje (23) no gabinete de Quintanilha, na presença dos três relatores de um de seus processos por quebra de ética e decoro parlamentar. Eles saíram divididos quanto às explicações dadas.
Renan estava acompanhado de um perito contábil e não apresentou novos documentos aos parlamentares.
Como era de se esperar, um dos relatores, Almeida Lima (PMDB-SE), afirmava estar convencido da inocência do correligionário. Já Marisa Serrano (PSDB-MS) e Renato Casagrande (PSB-ES) foram mais cuidadosos e afirmaram que precisam de mais tempo para elaborar um parecer.
“Eu não tenho elementos para a cassação de Renan Calheiros, já afirmei isso diversas vezes. As provas foram produzidas, e diante da apresentação dessas provas eu não tenho nenhum elemento para cassar Renan Calheiros”, afirmou Almeida Lima.
Marisa Serrano afirmou que vai contar com a ajuda de um técnico especializado para estudar o assunto. “Há muitos outros itens na perícia que precisam ser levados em conta. Vou trabalhar muito este final de semana ainda em cima de cada item da perícia. O senador Renan colocou a sua versão e cabe a nós cotejar a versão dele com aquilo que nós temos”, disse.
“Nós não temos muitas informações novas apresentadas nesse depoimento do senador Renan Calheiros. Portanto, caberá a nós agora, com os dados apresentados, e mais com as versões apresentadas, fazermos esse confronto entre a perícia da Polícia Federal e as novas versões apresentadas pelo senador Renan Calheiros”, afirmou Casagrande.
Segundo o parlamentar capixaba, o presidente do Senado utilizava o frigorífico Mafrial como “local de comercialização de gado”, mas a venda era feita com outras empresas. Segundo Renan, “a Mafrial apontava quais as empresas que compravam o gado”. “A responsabilidade é da relação dele com as empresas que ele comercializou”, complementou Casagrande.
Contradição
Ele afirmou haver contradição na “avaliação patrimonial”. “Nós temos uma quantidade imobilizada de recursos da renda do senador Renan Calheiros muito elevado. Ele justificou como um empréstimo feito à [locadora] Costa Dourada. O que nós temos que avaliar agora, com as informações que ele prestou para nós, é se esse empréstimo tem validade para cobrir qualquer irregularidade ou qualquer incongruência apresentadas na sua declaração de imposto de renda”, complementou.
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Na próxima terça-feira (28), os relatores se reúnem. Dois dias depois, apresentam o relatório do caso – ou os relatórios, já que Almeida Lima pode preparar um documento em separado.
Satisfação
Renan afirmou, na saída do gabinete de Quintanilha, que a perícia da Polícia Federal em sua documentação não apresenta ilegalidades. Ele disse estar “satisfeito” com o laudo policial.
O presidente do Senado declarou que não foi à reunião para fazer sua defesa, mas “esclarecer dúvidas”. Ele destacou que, desde o primeiro momento, esteve disposto a fazer isso.
O peemedebista afirmou que as “incongruências e inconsistências” da análise da PF não caracterizam quebra de decoro parlamentar (leia mais).
O parlamentar alagoano declarou confiar “na isenção dos senadores”. Depois, Renan afirmou crer na isenção do Conselho de Ética. (Rodolfo Torres)