As primeiras conversas sobre o acerto financeiro com o PT
Tudo começou nas negociações para fechar o apoio a Lula em 2002, com José Alencar, do PL, como vice. Tivemos muitas reuniões, em Brasília, na casa do José Dirceu. Sempre participavam o (deputado) João Paulo (PT), quase sempre o (ex-secretário-geral do PT) Silvio Pereira, sempre o (ex-tesoureiro do PT) Delúbio Soares, além do (vice-presidente) José Alencar. (…) A questão é que o PL precisava ter 5% dos votos para ter as verbas do fundo partidário. Com a verticalização, as nossas chances de chegar a 5% eram pequenas, porque só poderíamos nos coligar com o PT. Falei para o Zé: "Para isso, preciso de uma estrutura muito maior para segurar meu pessoal". Ele falou: "Mas quanto?". Eu falei: "R$ 15 milhões, R$ 20 milhões".
Lula entra em cena, após Dirceu dizer que não seria possível atender ao pedido
Já estávamos fazendo uma nota conjunta dizendo que a coligação PT-PL não ia sair quando me liga o Zé Alencar. Eu contei a ele que não conseguimos chegar a um número. "Não vou prejudicar nosso pessoal todo em troca de uma aliança", falei. O Zé Alencar disse para eu não assinar a nota conjunta. Daí a 15 minutos, ele ligou e disse que o Lula viria no dia seguinte a Brasília resolver o assunto.
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A reunião em que as cúpulas do PL e do PT fecharam a coligação de 2002
A reunião foi no apartamento do deputado Paulo Rocha (PT). Estavam lá o Lula, o José Alencar, o Dirceu e o Delúbio. O Lula chegou para mim e disse: "Quer dizer então que você é o nosso problema?". "Não posso matar o nosso pessoal", respondi. O Zé Dirceu não queria falar de dinheiro, queria negociar a participação no governo: "Valdemar, vamos governar juntos?". Respondi: "Mas, desse jeito, não vai sobrar ninguém na Câmara para governar junto com vocês". Depois o Lula até falou para o Zé Alencar: "Vamos sair porque esta conversa é entre partidos, não entre candidatos". Daí o Delúbio chegou perto de mim e disse: "Vamos conversar".
(…) O Lula e o Alencar ficaram na sala e fomos para o quarto eu, o Delúbio e o Dirceu. Eu comecei pedindo R$ 20 milhões para levar uns R$ 15 milhões. Daí, ficou aquela discussão. (…) Eles batiam tanto o pé comigo que eu pensei "ô povo firme. Esses vão me pagar rigorosamente em dia". Daí chamei o Zé Dirceu de volta para o quarto. O Zé Alencar veio junto. Falei: "Vamos acertar por R$ 10 milhões". Voltamos para a sala e avisamos: "Está fechado". Lembro ainda que o Zé Alencar falou "peça tudo por dentro" (doação legal).
Lula sabia qual era a conversa no quarto?
Ele sabia. O presidente sabia o que a gente estava negociando. Olha, ele e o Zé Dirceu construíram o PT juntos. O Lula sabia o que o Dirceu estava fazendo. O Lula foi lá para bater o martelo. Tudo que o Zé Dirceu fez foi para construir o partido.
(…) Quando saí, ele (Lula) me falou: "Então está liquidado o assunto". O Lula foi lá para autorizar a operação. E não vejo nada demais. O que ninguém esperava é que desse essa lambança.
Valdemar conta que não houve pagamento durante a campanha eleitoral de 2002
Na campanha, nem um centavo. Vi que a coisa estava ruim quando um dia fui a uma reunião no comitê de campanha e vi o Duda Mendonça cabisbaixo (conta rindo). Ele reclamava: "Eles não pagam meu pessoal. E eu não consigo criar sem dinheiro". Imagine se eu ia receber, quando atrasavam até para o Duda? Eu ia para as reuniões, reclamava com o Zé Dirceu, com o Delúbio. O Delúbio dizia: "Valdemar, eu vou pagar, você pode assumir com os deputados, eu vou atrasar, mas pago". Eu não acreditei. Eu ia para o Delúbio, ia para o Zé Dirceu, e dizia: "A gente não está vencendo pagar as contas". Eles receberam R$ 40 milhões. Foram R$ 20 milhões do Lula e R$ 20 milhões do PT, mas misturaram as contas dos estados com a nacional. Fizeram uma bagunça.
(…) Eu fiquei cobrando. Eles tiveram uma mudança grande comigo. Houve um boato de que "o PL já estava acertado". E a bancada me pressionava pensando que eu tinha embolsado algum. Tive de colocar uns dois deputados no pau.
O pagamento feito pelo PT, segundo o presidente nacional do PL
Em fevereiro de 2003, ele (Delúbio) falou que ia me dar a primeira parcela. Falou para eu mandar meu pessoal até a SMP&B, em Belo Horizonte, para pegar o dinheiro. Perguntei quanto era. Ele disse: "Eu não sei, vai lá". Mandei o Jacinto (Lamas, tesoureiro do PL). Chegou lá, o Jacinto me liga: "Não é dinheiro, me deram um envelope". Eu falei: "Nem abre" e liguei para o Delúbio. Falei: "Delúbio, é um envelope!". Ele falou: "Não tem problema, pode trazer". Mandei o Jacinto levar o envelope fechado para São Paulo, até o flat onde eu morava. Quando abri o envelope, eram cheques. O total era de R$ 800 mil. Todos cheques da SMP&B, para uma empresa chamada Garanhuns. Eu liguei de novo para o Delúbio. Ele falou: "Fica tranqüilo, que eu vou mandar buscar o cheque aí". Passa uma hora, vem um segurança, desse pessoal que mexe com dinheiro, e falou assim: "Vim resgatar". E me deixou o dinheiro. Dinheiro vivo, cash. Estava numa daquelas malinhas com rodinhas, de levar no aeroporto. Chamei alguns fornecedores de campanha e eles pegaram todo o dinheiro.
“R epetimos esse procedimento de mandar o Jacinto para Minas Gerais umas poucas vezes. Totalizou R$ 3,2 milhões, sempre em nome da Garanhuns. Depois, fui falar com o Delúbio. Porque eu esperava que o cheque fosse nominal ao PL e era para a Garanhuns.
A conclusão da entrega do dinheiro, que teria somado R$ 6,5 milhões
(…) teve dinheiro que eles entregaram para mim. Entregaram para o Jacinto em Brasília… O Jacinto chegou a receber em hotéis. Uma vez, em São Paulo, mandaram ele pegar o dinheiro num restaurante. Era sempre o Delúbio quem me avisava que o dinheiro estava liberado.
Foram R$ 6,5 milhões. Não chegou aos R$ 10,8 milhões que estão falando. Estão botando R$ 4 milhões a mais na minha conta. Dinheiro que foi repassado para a Garanhuns e um outro cheque, que não é nosso.
A acusação da ex-mulher, Maria Cristina Mendes Caldeira, de que Valdemar usou dinheiro do PL para pagar contas pessoais
Nós nunca fizemos nada com verba pública, e sim com a contribuição dos deputados do PL, que dá R$ 700 mil por ano, que eu uso para fazer as reuniões, para pagar aluguel da casa. Tenho tudo regularizado e documentado. A Maria Cristina precisa de cuidados médicos. Eu não quero falar porque ela já falou tanta coisa de mim que eu não quero nem reproduzir. Não falo de mulher. É mal.
A responsabilidade de Dirceu e Lula
O Zé Dirceu sempre comandou o PT. O Zé e o Lula. Eu cheguei a cobrar o Zé diversas vezes no Planalto. Falei: "Zé, meu dinheiro está vindo pingado, em conta-gotas". Falei que eu queria receber tudo de uma vez. O Zé disse: "Calma que o Delúbio está providenciando o dinheiro para te pagar. Ele vai arrumar o dinheiro e resolver tudo".
(…) Tenho certeza de que o Dirceu nunca fez nada que o presidente não aprovasse.
‘ O deputado Roberto Jefferson, ex-presidente nacional do PTB
O Zé Dirceu escolheu operar com o Roberto Jefferson. O Jefferson era o cara que estava sempre com eles, que andava com o Lula. Eles entraram nesta porque quiseram. Jefferson é um sujeito conhecido na praça.
Conhecido. Como um camarada mal-intencionado, perigoso. Para indicar diretor de estatal… Ele diz que indicava diretores de estatais para arrecadar dinheiro para o PTB. Em dois anos de governo Lula, o PTB arrecadou oficialmente R$ 200 mil. Ele diz que arrecadava R$ 400 mil por mês em uma estatal. Onde ele punha esse dinheiro? Ia para o bolso dele. Eles (o governo Lula) acabaram como tinham de acabar. Em Brasília, você é obrigado a conviver com pessoas de que você não gosta. Mas não precisa colocar dentro de sua casa. Eles escolheram conviver com um cidadão assim. Eles indicavam aos deputados para ir para o PTB. Tem de perguntar para eles por que esta preferência.
(…) O Roberto Jefferson deu a entrevista para a Folha de S.Paulo falando no mensalão numa segunda-feira. Na terça, eu entrei com o processo de cassação contra ele. E ele foi covarde. No mesmo dia, mandou um deputado procurar o Sandro Mabel. Ele se ofereceu para assinar um documento desmentindo as acusações contra o PL, se eu retirasse o pedido de cassação. Eu recusei. Agora, uma semana antes de eu renunciar, houve uma pressão violenta de muitos deputados para que eu retirasse o processo.
A campanha da então prefeita de SP, Marta Suplicy (PT), em 2004
O Lula fez um jantar. Porque ele sabia que não íamos apoiar a Marta. Nós não conseguíamos tocar nosso ministério (Transportes). Nosso ministério estava muito ruim, a estrutura não era nossa. Eu falei com o Lula que a gente não tinha liberdade. Mudamos alguns cargos e a coisa melhorou. Eu bati o pé até o final para liberar o nosso ministério. O PT queria dizer em que estradas era para colocar dinheiro.
Deram material para a gente em São Paulo. Nosso pessoal recebeu material. E, mesmo assim, não pagavam tudo. Eu pedi ao Delúbio um show do Zezé Di Camargo e Luciano em apoio a meu candidato em Mogi das Cruzes. O Delúbio chamou os dois e, na hora do show, queria que eu pagasse a conta! Eu falei: "Nem morto", e até hoje não paguei.
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