Emyr Costa, diretor de Contratos da Construtora Norberto Odebrecht, contou à força-tarefa da Operação Lava Jato que foi convocado pelo diretor superintendente da empreiteira em São Paulo, Carlos Armando Paschoal, para realizar uma reforma em um apartamento cobertura em São Bernardo do Campo (SP) e no sítio de Atibaia (SP) – espaço que seria utilizado pelo ex-presidente Lula aos finais de semana. Durante delação premiada à Procuradoria-Geral da República (PGR), o engenheiro civil garantiu que as revitalizações do local foram realizadas a pedido do petista e que Marisa Letícia era a responsável pelos detalhes da obra. As modificações foram negociadas em 2010, período em que Lula ainda ocupava a Presidência da República. De acordo com o depoimento, foram investidos R$ 700 mil nas obras realizadas (assista ao vídeo do depoimento de Emyr Costa ao fim da matéria).
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Aos investigadores, Emyr afirmou não ter tratado das reparações diretamente com o ex-presidente. Entretanto, destacou que a todo momento manteve contato com Rogério Aurélio Pimentel, ex-assessor especial da Presidência. Em uma visita ao sítio, Aurélio solicitou que constasse na reforma a construção de casa com quarto, sala e banheiro para abrigar a equipe de segurança de Lula; uma edícula com quatro suítes; um quarto de empregada e um depósito que seria utilizado pelo ex-presidente para uma adega. Além disso, estavam entre os pedidos o conserto de um vazamento e a expansão da piscina; sauna e campo de futebol society.
“Nosso pessoal nunca teve contato com ninguém da família do presidente Lula, nem com o Lula. A única coisa que a gente sabia é que, às vezes, o engenheiro ia perguntar algum detalhe técnico da obra, de acabamento, e esse Aurélio dizia que ia perguntar para a dona Marisa o que que efetivamente deveria ser feito”, relatou.
“Outra coisa importante é que esse senhor Aurélio pediu que esse trabalho fosse feito em um prazo muito curto, prazo de 30 dias. Que era para quando Lula saísse da Presidência já pudesse utilizar esse sítio. […] Então, peguei toda essa informação, voltei a estar com Carlos Armando Paschoal e expliquei a ele que seriam necessários R$ 500 mil. Ele, então, me autorizou a iniciar os trabalhos e disse que ia mandar entregar o dinheiro através dessa equipe de Operações Estruturadas [o chamado “departamento da propina” da Odebrecht]”, explicou Emyr.
PublicidadeO engenheiro contou que comprou um cofre “desses que vendem em caminhões na rua” especificamente para guardar o valor. “Semanalmente eu separava cerca de R$ 100 mil e colocava em um envelope fechado. Entregava para o Frederico [Barbosa, engenheiro destacado para realizar os referidos serviços] e ele, por sua vez, entregava ao senhor Aurélio [ex-assessor da Presidência da República] para que ele fizesse os pagamentos”, disse ao detalhar que o montante foi recebido em espécie.
“Problema”
“Pensei que tinha me livrado desse problema. Quando foi lá para março, abril de 2011, me procura um outro diretor da área institucional da Odebrecht, chamado Alexandre Lima Alencar, e me pede para acompanha-lo ao escritório de um advogado chamado Roberto Teixeira […] para a gente contar para o senhor Roberto como a obra tinha sido feita, de forma que ele pudesse bolar alguma forma de regularizar essa construção para que não parecesse que essa obra tinha sido feita para benefício do então presidente Lula, nem tão pouco pela Odebrecht”, detalhou Emyr.
Emyr conta que ao especificar ao senhor Teixeira como a obra foi feita, o advogado deu a ideia de procurar o empreiteiro contratado para realizar a parte de edificação das revitalizações, Carlos Rodrigues, para que ele assinasse um contrato em nome do proprietário que aparece na escritura do terreno: “Naquela data, eu fiquei sabendo que estava no nome do senhor Fernando Bittar”, relatou ao acrescentar que Roberto Teixeira pediu, inclusive, para que o valor do contrato fosse “mais baixo para ser compatível com a possibilidade de renda do senhor Bittar”.
Desde o início das investigações da Lava Jato, os advogados do ex-presidente negam quaisquer ligações de Lula com o sítio de Atibaia. Assim que as informações foram divulgadas, nesta quarta-feira (19), a equipe de defesa do petista convocou uma coletiva de imprensa para se posicionar sobre o caso. Em nota divulgada no início deste mês, o advogado Cristiano Zanin Martins ressaltou que a atribuição do sítio de Atibaia como propriedade do ex-presidente é “indevida”. “Lula já teve todos os seus sigilos quebrados, no Brasil e no exterior. E nenhum valor ilegal foi encontrado, porque ele não recebeu qualquer valor ilegal”, destacou.
Em nota, o advogado Roberto Teixeira ressaltou que jamais propôs, orientou ou executou “qualquer ato ilegal” durante os 47 como profissional do Direito. Teixeira também foi citado na delação de Alexandrino Alencar, que alegou que o advogado emitiu documentos falsos relativos às obras realizadas na propriedade.
“A verdade é que o próprio Alexandrino Alencar afirmou em sua delação o que eu mesmo sempre deixei claro: ‘Que o sítio é do Fernando Bittar’ e que minha atuação, enquanto seu advogado, era a de formalizar as obras realizadas como condição para que Fernando Bittar, meu cliente, fizesse o pagamento do valor devido pelos serviços”, explicou Roberto Teixeira.