Pode chegar a cem o número de parlamentares envolvidos na compra e venda de ambulâncias superfaturadas com recursos do orçamento da União, informou agora à tarde o deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ).
O dado consta do depoimento que o empresário Luiz Antonio Trevisan Vedoin concedeu durante sete dias à Justiça Federal, em troca da delação premiada.
A transcrição do depoimento, com 140 páginas, chegou à CPI dos Sanguessugas na última quinta-feira.
“O depoimento cita cerca de 90 nomes de parlamentares mais dez ex-parlamentares. São cem nomes para trabalharmos”, afirmou o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), que integra a comissão.
O deputado informou, no entanto, que ainda não é possível dizer se os cem envolvidos tiveram, de fato, participação na fraude. “Isso não quer dizer que todos são necessariamente culpados”, ressaltou.
Bancada evangélica
Gabeira disse que o empresário deu detalhes como o número dos gabinetes e a conta bancária de parlamentares que recebiam propina, o que deve facilitar o levantamento dos envolvidos. “Mas isso não vai servir para todos porque alguns recebiam os recursos pessoalmente”, ponderou.
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A maioria dos deputados citados são das bancadas do Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul, onde fica a Planam, empresa que desempenhou um papel central no esquema de compra e venda de ambulâncias superfaturadas. Ainda de acordo com Gabeira, há muitos nomes da bancada evangélica entre os parlamentares envolvidos.
Quanto aos senadores, Trevisan não citou nenhum além dos três suspeitos que já se tornaram públicos: Ney Suassuna (PMDB-PB), Magno Malta (PL-ES) e Serys Slhessarenko (PT-MT). A maioria dos envolvidos é do chamado “baixo clero”, grupo de parlamentares pouco conhecidos mas com atuação marcante na obtenção de vantagens diretas para suas bases eleitorais.
Gabeira confirmou também que 60 parlamentares deram suas senhas para acompanhamento de gastos do Executivo, via Siafi, aos sócios da Planam. “Revela um nível de envolvimento dos parlamentares (com os sócios da empresa)”, disse.
Sigilo
O relator da comissão, senador Amir Lando (PMDB-RO), disse que as investigações sobre a máfia das sanguessugas estão atrasadas por conta do sigilo que o Supremo Tribunal Federal (STF) decretou sobre o caso. “Mas ainda não chegou o momento de obrigar uma ruptura”, declarou.
O parlamentar deixou claro, porém, que o prazo inicial de 60 dias para o fim dos trabalhos não será suficiente e disse que a entrega do relatório parcial, previsto para o próximo dia 2, deve atrasar.
O deputado Gabeira disse considerar o sigilo um erro, mas afirmou que é preciso dar um voto de crédito ao STF. Segundo ele, o depoimento de Trevisan só ocorreu porque a presidente da Corte, Ellen Grace, determinou que os acusados fossem presos novamente, no início das investigações, quando a Justiça Federal pediu a liberação dos detidos na “Operação Sanguessuga”. (Diego Moraes)
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