Alvo da Operação Tira-Teima, deflagrada pela Polícia Federal na última terça-feira (10), a empresária Maurenízia Dias Andrade Alves, dona de um instituto em Salvador, confessou ter recebido dinheiro para a campanha do presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), em 2014. Naquele pleito, o emedebista tentou se eleger governador do Ceará, mas não conseguiu e retornou ao Senado. A confissão consta de um vídeo gravado por Maurenizia e veiculado no site da revista Veja nesta quinta-feira (12). Investigadores suspeitam que Eunício, alvo da Operação Lava Jato, cometeu os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
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No vídeo, a dona do Instituto Campus admitiu que, por solicitação de seu marido – Paulo Alves, marqueteiro da campanha de Eunício em 2014 – recebeu dinheiro da Hypermarcas, da JBS e da M. Dias Branco, líder na venda de biscoitos, sem ter prestado qualquer serviço para as corporações. Segundo a reportagem, as duas primeiras já confessaram ao Ministério Público a prática criminosa. “A fabricante de biscoitos foi alvo de buscas e apreensões realizadas pela Polícia Federal nessa terça-feira, 10”, acrescenta a revista.
“Em maio de 2013, o então senador do Ceará Eunício Oliveira, atual presidente do Congresso, prestou uma homenagem à M. Dias Branco, líder de vendas de biscoitos no país. Num discurso no Senado, o parlamentar do MDB lembrou que, aos 14 anos de idade, trabalhou na companhia cearense, ‘grande destaque na fabricação de alimentos e hoje sinônimo de sucesso em atividades distintas’. O laço entre o político e a empresa entrou na mira da Polícia Federal na última terça-feira, 10, com a deflagração da Operação ‘Tira-Teima’. A ação teve como objetivo apurar o caminho dos recursos nebulosos recebidos pela campanha de Eunício ao governo do Ceará em 2014”, registra a publicação.
Veja o vídeo obtido pela revista
Por meio da Tira-Teima, a PF investiga se as três empresas repassaram clandestinamente, em troca de favores no Congresso, dinheiro para a campanha do senador em 2014. A M. Dias Branco fez doação oficial, como consta na base de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), R$ 400 mil ao grupo do emedebista. Na investigação, destaca-se o envolvimento de uma empresa de segurança mencionada por Maurenizia que tem entre os sócios a Remmo Participações, de Eunício, e Ricardo Lopes Augusto, um sobrinho do senador.
“Independentemente dessas questões referentes à Hypermarcas, o Instituto Campus, em 2014, recebeu também 250 000 da empresa Dias Branco, 250 000 da empresa Corpvs Segurança e mais dois milhões de reais da empresa JBS […] que não houve, até o momento, nenhuma prestação de serviço para qualquer dessas três empresas acima mencionadas e foram feitas apenas os recebimentos sem os serviços correspondentes. No caso das empresas Dias Branco e Corpvs, houve o recebimento e a emissão das notas fiscais, mas não a formalização de contrato”, declarou a empresária.
Ainda segundo a reportagem, assinada por Thiago Bronzatto, o ex-diretor da Hypermarcas Nelson Mello disse em delação premiada que foi procurado por Ricardo Lopes Augusto, presidente da Confederal – empresa de segurança privada que também é de Eunício –, para que desse auxílio financeiro à campanha do senador. Segundo o delator, ficou acertado nesse encontro que a Hypermarcas reservaria R$ 5 milhões para tentar eleger Eunício governador do Ceará.
“Uma parte desses recursos foi destinada a bancar ‘despesas de empresas que prestavam serviços à campanha de Eunício Oliveira’ por meio de ‘contratos fictícios’. As empresas Instituto Campus, de Maureniza, e a Confirma Comunicação e Estratégia, de Paulo Alves, receberam 3,35 milhões de reais. O restante foi desembolsado pela Hypermarcas a partir de uma nota fiscal emitida no valor de 1,65 milhões de reais apresentada pela Confederal, de Eunício – que, após o caso vir à tona, quis devolver o dinheiro”, acrescenta a reportagem.
Rede nacional
O Jornal Nacional (TV Globo) também veiculou nesta quinta-feira (12) reportagem com a informação de que, ouvidos pela PF, “empresários confessaram ter recebido dinheiro irregularmente, por meio de contratos fictícios” durante a campanha de Eunício. Com menção ao vídeo obtido por Veja, o telejornal lembra que o senador responde, nesse caso, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro em inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal (STF).
Na menção ao vídeo de Maurenízia Alves, o telejornal diz que a empresária admitiu a formalização de contratos com quatro empresas, pelo menos, e que o objetivo era justamente receber por serviços a Eunício no pleito de 2014. “Essa seria a forma viável de que Paulo Alves recebesse naquele momento pelo trabalho que ele vinha executando para a campanha de Eunício Oliveira”, acrescenta a investigada.
“O inquérito [que envolve Eunício] foi aberto a partir da delação de Nelson Melo, ex-diretor de Relações Institucionais da Hypermarcas, hoje, Hypera Pharma. […] O sobrinho de Eunício, Ricardo Lopes Augusto, também foi ouvido. Ele admitiu que a Confederal, uma empresa que já pertenceu a ele, fez um contrato com a Hypermarcas – e que esse contrato foi pago, mas que ele recebeu sem nunca ter prestado o serviço. A empresa do sobrinho de Eunício fez muitas doações à campanha dele em 2014”, relata a repórter Camila Bomfim.
Doação empresarial
Por meio de sua assessoria de imprensa, Eunício diz que “as contas da campanha do PMDB ao governo do Ceará em 2014 foram aprovadas pela Justiça Eleitoral e que todas as empresas citadas doaram legitimamente para o PMDB naquele ano, pois a legislação assim permitia na época”.
Já a M. Dias Branco admite ter sido alvo de buscas e apreensões e acrescenta que “tem colaborado com as autoridades”. No entanto, a empresa nega ter efetuado pagamentos ao Instituto Campus, de Maurenizia Dias.
Também por meio de nota, a Hypermarcas/Hypera Pharma confirma a realização de diligências da PF em seu escritório em São Paulo, e diz as buscas se prestaram à coleta de “documentos relacionados à colaboração [delação premiada]” de Nelson Mello. Nesse sentido, a companhia diz que não foi beneficiada por “quaisquer atos praticados” por seu ex-executivo.
Controladora da JBS, a J&F afirmou que os delatores do grupo já relataram à Justiça tudo o que sabiam em relação ao assunto, e que continuam à disposição dos investigadores. Por sua vez, a Corpvs Segurança preferiu não comentar a investigação.
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