Roseann Kennedy
O nível da campanha presidencial deste ano parece uma reedição mais tecnológica das eleições de 1989. Isso porque, além das declarações, agora há as ferramentas de internet. Os sites, blogs, microblogs e as redes sociais viraram campos de acolhimento para as tropas de choque dos candidatos e palco de muito bate-boca virtual.
Naquele pleito, o primeiro após a redemocratização, até hábitos de consumo e relacionamentos amorosos foram pauta de troca de ofensas entre os candidatos. Agora, a baixaria inclui de suspeita de elaboração de dossiê contra os tucanos à acusação sem prova de que o PT teria envolvimento com o narcotráfico.
Os dois casos, obviamente, geram processos que seguem para a judicialização da campanha. Mas o problema maior é que a discussão não se limita a exigir explicações de ambos os lados e investigações das denúncias nas esferas competentes. O debate segue para a baixaria verbal.
É impressionante ouvir os políticos se tratando com termos como idiota, mentiroso, babaca. Um desrespeito que ultrapassa a relação entre eles e chega ao eleitor.
Algumas das declarações disparadas esta semana por petistas e tucanos foram questionadas nos núcleos de campanha e consideradas equivocadas internamente, segundo informações de bastidores.
No PSDB, a afirmação do candidato a vice na chapa de José Serra, Índio da Costa, ligando o PT ao narcotráfico foi considerada excessiva. No núcleo petista, a ideia do presidente do partido, José Eduardo Dutra, de mover ação contra a vice-procuradora geral eleitoral, Sandra Cureau, também não conseguiu respaldo em toda a legenda.
Por isso, esta semana as coordenações avaliam os alvos a atirar para evitar tiro no pé. Mas se engana quem pensa que o clima vai acalmar. Por enquanto, mantido o empate na corrida eleitoral entre os dois principais adversários de acordo com as pesquisas de intenção de voto, a tendência é que o festival de chute na canela continue.
A situação é tal qual uma partida de futebol. Quando o jogo já tem um adversário vencendo, disparado na frente e está perto do final, os jogadores até seguram a bola e ficam mais tranqüilos. Mas com o zero a zero a tendência maior é de partir para o tudo ou nada.
No entanto, assim como no esporte, em política golpe baixo também deve ser repudiado.
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