Ricardo Taffner
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Marco Aurélio de Mello, diplomou, na noite desta quinta-feira (14), o presidente Lula e o vice-presidente José Alencar. O petista assume o seu segundo mandato como presidente da Répública, após vencer as eleições de outubro, com discurso de crescimento econômico e de justiça social.
O presidente Lula se emocionou ao ser diplomado no TSE. Segundo Lula, o novo mandato exigirá mais responsabilidade na condução do país. “Quando digo mais responsabilidade é porque não tenho mais que me comparar com os outros, mas me comparar comigo mesmo”, disse.
Para o presidente, o desafio nos próximos quatros anos é fazer a economia crescer com inflação baixa. “Se tem uma coisa que faz o povo comer mais é a inflação ser baixa.” Lula citou o crescimento econômico do país de 1968 a 1973 e a gestão de Juscelino Kubitschek quando, segundo o presidente, houve crescimento econômico médio de 9% ao ano, mas com índices muito altos de inflação e concentração de renda. “O salário mínimo sequer acompanhava a inflação”, comentou.
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Segundo Lula, para melhorar a situação econômica do país é necessário compreender três pontos: circulação de capital para aumentar os investimentos; política de crédito; e crescimento acompanhado de política social com distribuição de renda. “Senão o Brasil vai perder o bonde do século XXI. O Brasil precisa deixar de ser uma eterna promessa para se tornar uma realidade”, disse Lula após receber os cumprimentos dos convidados.
Durante a cerimônia, o presidente também afirmou que o povo brasileiro aprendeu a votar. “O povo mais humilde do Brasil deu uma lição e não precisou de intermediário para dizer a ele em quem votar", disse emocionado.
Lula chorou mesmo após dizer que essa diplomação não permitia a ele se emocionar como na primeira vez. Mas, ao partir para o improviso, Lula não conseguiu segurar as lágrimas. “Eu devia ter parado no texto escrito”, brincou o presidente.
“Acabou-se o tempo em que algumas pessoas ousavam dizer que eles diziam ao povo em quem se devia votar. Acabou-se o tempo do voto de cabresto neste país”, complementou. Ainda durante o discurso, Lula afirmou que as eleições comprovaram a solidez e a maturidade política do país.
Convidados
A sessão solene foi conduzida pelo presidente do TSE, ministro Marco Aurélio Mello, no plenário do tribunal. Depois da diplomação, Lula recebeu os cumprimentos dos convidados no Salão Vermelho do tribunal.
Foram convidadas 137 pessoas selecionadas pelo Planalto e TSE. Entre os presentes estavam a presidente do Supremo Tribunal Federal, Ellen Gracie, o procurador-geral Eleitoral, Antonio Fernando Souza, além de ministros do TSE, os chefes dos três podres, ministros de Estado, governadores eleitos e representantes de partidos e entidades de classe.
Leia a íntegra do discurso de Lula
"As eleições que o Brasil acaba de realizar comprovaram de forma inequívoca a solidez e a maturidade da democracia política em nosso país. O processo eleitoral, tal como já acontece desde a segunda metade dos anos 80, transcorreu dentro da mais perfeita normalidade e com inquestionável lisura, sem falar da eficiência e agilidade do sistema eletrônico de votação, motivo de orgulho para todos nós e referência inovadora para diversos países do mundo.
Dou os parabéns aos mais de 100 milhões de brasileiros e brasileiras que, nos dias 1º e 29 de outubro, foram às urnas para manifestar, de forma livre e soberana, a sua vontade política. Eles são, a um só tempo, arquitetos e pilares da democracia. Felicito, igualmente, o Tribunal Superior Eleitoral pela dedicada e competente condução do processo.
Agradeço, do fundo do coração, aos que me elegeram para continuar presidindo os destinos da República. Agradeço também, fraternalmente, aos que optaram por outras candidaturas. Afinal de contas, é essa pluralidade e diversidade que consolida o processo democrático brasileiro. O êxito do processo eleitoral é fruto da contribuição de todos.
Temos, agora, o desafio de acelerar o crescimento econômico e avançar ainda mais na construção da justiça social, de modo a que o País garanta a todos os seus filhos e filhas os direitos essenciais da cidadania.
Que Deus abençoe o nosso esforço coletivo para fazer do Brasil uma nação cada vez mais próspera e justa.
Eu queria, ministro Marco Aurélio, dizer, e todo mundo está constatando, que há uma diferença desta diplomação da primeira diplomação. O primeiro diploma que recebi aqui, na verdade, eu, pelo menos, estava tomado de um estado emocional que, quatro anos mais velho, não me permite ter o mesmo estado emocional.
Segundo porque, se no primeiro mandato era uma boa ventura provar que nós tínhamos competência para governar o Brasil, o segundo mandato é a comprovação, primeiro, da legitimidade conquistada e que nos foi dada pelo povo brasileiro e, segundo, é a demonstração de que o povo brasileiro espera que José Alencar e eu façamos mais e muito melhor do que fizemos no primeiro mandato.
Eu digo que este segundo diploma que eu recebo não me permite ficar com a mesma emoção que eu estava naquele, porque naquele eu ainda tinha um sonho, neste eu já sei que a responsabilidade do segundo mandato é infinitamente maior do que a do primeiro, porque agora eu não tenho que me comparar com ninguém, eu agora tenho que comparar o segundo mandato com o meu primeiro mandato. Agora, é José Alencar e Lula contra José Alencar e Lula em benefício do povo brasileiro.
Estou feliz, e quero agradecer o sacrifício que todos vocês fizeram. Quero agradecer a compreensão do povo brasileiro que em momentos muito difíceis, em momentos muito… Eu devia ter parado no texto escrito. Mas eu queria dizer que, num tempo, em momentos muito difíceis, eu acho que o povo mais humilde do Brasil deu uma lição no Brasil. O povo mais humilde não precisou de intermediário para dizer a ele o que fazer no processo eleitoral. Ele assumiu a responsabilidade de dizer, em alto e bom som, sem intermediação: eu quero votar do jeito que eu sei votar. E foi isso que garantiu a vitória de José Alencar e de Lula e, por isso, a nossa responsabilidade é muito maior.
Acabou-se o tempo, e quero afirmar isso com a maior convicção, acabou-se o tempo em que algumas pessoas ousavam dizer neste país, que eles diziam para o povo como é que o povo tinha que votar, acabou-se o tempo do voto de cabresto neste país, acabou-se o tempo em que o povo ia perguntar o que fazer na época da eleição, como votar. Primeiro, porque a urna eletrônica é uma mágica para as pessoas mais humildes do mundo, todo mundo aprendeu a apertar dois números e confirmar, todo mundo aprendeu. Segundo, o povo aprendeu a formar a sua própria opinião, o povo está mais inteligente, o povo está mais consciente. E é isso, ministro Marco Aurélio, presidente Ellen, que vai definir e garantir este país como uma das maiores democracias do mundo.
Eu agradeço a Deus por ter vivido este momento pela segunda vez. E, se Deus quiser, outros presidentes irão passar pelo mesmo estado de espírito que eu passei nessas eleições.
Eu queria agradecer, por fim, as duas Marisas, aqui na frente, porque eu sei que, no fundo, no fundo, nas costas delas é que rebentou muitas das coisas que José Alencar e eu sofremos. Enfim, que Deus nos abençoe e que o Brasil tenha de nós o melhor que nós pudermos dar.
Muito obrigado."
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