Rodolfo Torres, Lúcio Lambranho e Diego Moraes
O último debate entre os candidatos à Presidência da República, promovido até a meia-noite de ontem (sexta, 27) pela TV Globo, trouxe um novo formato em relação aos outros três debates realizados durante o segundo turno. O Ibope selecionou dezenas de eleitores indecisos que formularam perguntas diretamente para os presidenciáveis. Porém, a nova roupagem deixou pouco tempo para as perguntas dos candidatos, o que tirou a dinâmica do confronto e deixou vários questionamentos sem resposta.
Temas como educação primária, impostos, saúde pública, corrupção, segurança, emprego foram abordados, mas jamais aprofundados. O primeiro tema discutido foi a educação. "No governo passado, foi feito o Fundef e nós universalizamos o ensino fundamental. A tarefa agora é ir para o ensino infantil. Para isso a necessidade do Fundeb. Infelizmente, o presidente Lula teve quatro anos, mas não aprovou o Fundeb", disse o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. Lula (PT) admitiu que o ensino no Brasil está longe do ideal, mas disse que seu governo investiu na área mais do que os anteriores.
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O tema desemprego também foi abordado no último encontro entre Lula e Alckmin antes da eleição presidencial. "O desemprego tem diminuído não na conta que nós precisamos. E por isso a economia brasileira está preparada para que, no próximo período, cresça muito para que possamos criar empregos. Foram gerados 7 milhões e setecentos. É pouco, mas é muito mais do que os empregos que foram gerados nos últimos 20 anos. E nós agora estamos recuperando a economia com bases muito sólidas", afirmou o presidente.
Alckmin rebateu, afirmando que "o Brasil está perdendo a oportunidade. Como pode o Brasil crescer menos que o Paraguai, que a Bolívia, o Brasil crescer 2% e a Argentina 9%? Quando o Lula entrou, tinham 8 milhões de desempregados e agora têm 9 milhões".
A discussão sobre a ética também apareceu no último confronto televisionado entre Lula e Alckmin antes do pleito de domingo. Alckmin afirmou que o Brasil não vai crescer enquanto não erradicar "essa praga" e que a impunidade incentiva o roubo dos cofres públicos. "Uma nação precisa ter princípios, ter valores. Eu viajei no Brasil inteiro e senti uma indignação com o que aconteceu no país nesses últimos anos. O dinheiro da corrupção é o que falta na escola, o que falta no hospital", afirmou o tucano.
"A corrupção está aparecendo agora porque era um tumor que estava enrustido e que, na hora que metemos a agulha e começamos a espremer, começou a sair o pus. Nós resolvemos combater a corrupção", respondeu o presidente Lula.
Confira o debate bloco a bloco:
Primeiro bloco
A primeira pergunta do debate foi sobre a educação. O candidato tucano, primeiro a responder, disse que sua prioridade, caso eleito, será o investimento na educação básica. "No governo passado, foi feito o Fundef e nós universalizamos o ensino fundamental. A tarefa agora é ir para o ensino infantil. Para isso a necessidade do Fundeb, infelizmente o presidente Lula teve quatro anos, mas não aprovou o Fundeb", afirmou o tucano, com o petista rindo ao fundo.
Lula afirmou que a educação no Brasil não está boa, mas disse que seu governo investiu mais do que os anteriores. O petista listou investimento na educação superior, em escolas técnicas, prometeu faculdades em cada cidade pólo, mas falou pouco de educação de base. Alckmin alfinetou.
"O que a gente fica triste no Brasil é saber que tem 2 milhões e meio de crianças fora da escola, um milhão e meio no Nordeste. Como pode um país com a força do Brasil não cuidar bem das nossas crianças." O petista atribuiu a não aprovação do Fundeb ao Congresso.
O Fundeb, que está a um ano e meio no Congresso, vai resolver o problema da creche, do ensino fundamental e o problema do salário dos professores", afirmou o presidente.
A segunda pergunta aos candidatos se referia à Previdência no Brasil. Lula afirmou que o déficit do setor só será sanado com o crescimento econômico e com ajustes no modelo previdenciário.
"A previdência, apesar das criticas, tem uma cobertura extraordinária. Tão grande que na Constituição de 88 incluímos 6 milhões de trabalhadores que não contribuíram. Hoje nós temos déficit que vai ser corrigido quando a economia gerar mais emprego", afirmou o petista.
Alckmin disse que o Brasil cresce pouco e que a solução para a Previdência é desonerar o contribuinte. "Num debate como esse, as pessoas nem sempre medem as palavras. O meu adversário fala como se nunca tivesse governado o Brasil. O dado concreto é que, em 2001, por conta de uma greve, se acabou a figura do médico perito", rebateu Lula.
O tucano perguntou porque Lula repassou R$ 9 bilhões ao fundo de pensão Petrus, da Petrobras, e negou o reajuste de 16,6% aos aposentados. "Os trabalhadores negociaram com a Petrobras e fizeram um acordo. A previdência social no Brasil houve um tempo em que ela tinha muito dinheiro. A Transamazônica foi construída com dinheiro da previdência, a ponte Rio-Niterói, Brasília, porque tinha um número de contribuintes maior e menos beneficiários. À medida em que as pessoas ficam velhas, obviamente aumenta a demanda", respondeu o petista.
Na terceira pergunta do primeiro bloco, referente à saúde, o candidato tucano e o presidente Lula trocaram farpas repetidas de outros debates. A principal delas é a frase de Lula, usada pelo ex-governador de São Paulo, de que a saúde no país beira a perfeição. "A primeira coisa para melhorar é reconhecer que o problema existe", atacou Alckmin. Lula preferiu falar sobre as farmácias populares e contra-atacou dizendo que nos mutirões do ex-ministro da Saúde José Serra, os oftalmologistas não ficam nas cidades para saber se os pacientes estão passando bem depois das consultas de catarata.
Na quarta pergunta, sobre saneamento básico, Lula lembrou das casas onde morou em São Paulo, onde teria sofrido com enchentes na capital paulista. O tucano disse que fez as obras do rebaixamento da calha do Rio Tietê e que, depois disso, as enchentes acabaram. "Depois da criação do Ministério das Cidades nós priorizamos o saneamento básico no Brasil.", rebateu Lula.
Segundo bloco
No segundo bloco do debate, os presidenciáveis falaram sobre o desemprego. O presidente Lula ressaltou que seu governo criou postos de trabalho nos últimos quatro anos, mas aquém da demanda do país. Ele afirmou, porém, que o crescimento econômico vai gerar mais postos de trabalho nos próximos quatro anos.
"O desemprego tem diminuído não na conta que nós precisamos. E por isso a economia brasileira está preparada para que, no próximo período, cresça muito para que possamos criar empregos. Foram gerados 7 milhões e setecentos. É pouco, mas é muito mais do foram geradas nos últimos 20 anos. E nós agora estamos recuperando a economia com bases muito sólidas", afirmou.
Alckmin rebateu. "O Brasil está perdendo a oportunidade. Como pode o Brasil crescer menos que o Paraguai, que a Bolívia, o Brasil crescer 2% e a Argentina 9%? Quando o Lula entrou tinha 8 milhões de desempregados e agora tem 9 milhões", afirmou o tucano.
Lula, enfático, passou a encarar o Alckmin olho no olho – a possibilidade existe, já que os dois ficam de pé no palco, um ao lado do outro. "O Alckmin agora brinca com números possivelmente porque ele acredita que o povo não vai checar. O desemprego tem crescido no Brasil. Nós estamos recuperando a economia brasileira. Não dá para comprar aqui, dessa forma jocosa – pergunta se o Serra compara o Brasil com o Paraguai. A economia do Brasil é grande sólida. Quebraram a economia desse país duas vezes e nós a recuperamos".
Alckmin retrucou Lula: "A realidade não é essa. A população toda sabe. Agricultura em crise, o povo sofrendo no interior, pobreza nas regiões metropolitanas, a maior taxa de juros do mundo". O petista rebateu e disse que, quando assumiu o governo, a taxa de juros estava mais alta e que os tucanos querem remar contra a maré.
"Lamentavelmente, você não está falando a coisa séria. Foi esse governo que ele disse que não vale nada que fez o juro baixar. Porque no governo dele, quando eu peguei, o juro era 55%. A economia eu quero que fique muito melhor, mas dizer que está pior é remar contra a maré", ressaltou Lula.
Alckmin afirmou que a Amazônia sofreu, durante o governo Lula, um dos piores períodos de desmatamento. Segundo o tucano, a área atingida é idêntica a do estado de Pernambuco. Ele defendeu o zoneamento ecológico para combater a exploração ilegal das florestas.
"O Brasil está sendo recordista no desmatamento da Amazônia. Foram 856 mil quilômetros de floresta devastada, o que é muito triste. Um estado de Pernambuco ser devastado. Eu defendo desenvolvimento sustentável", afirmou.
Lula rebateu e citou dados divulgados ontem que apontam diminuição no desmatamento da floresta. "Você parece que não leu o jornal hoje. O desmatamento na Amazônia caiu 30% no passado e 31% esse ano. Nós criamos 30 milhões de hectares de reserva", afirmou o petista.
"Ele acha que está tudo uma maravilha. Publicaram hoje, em véspera da eleição, baseada em 14 fotos. Não está nem apurado ainda. O fato é que o governo dele teve recorde de desmatamento da Amazônia", disse o tucano.
Alckmin falou também sobre o projeto que concede áreas da Amazônia para exploração por empresas multinacionais. "Essa lei foi aprovada pelo PSDB, pelo PT, pelos partidos políticos, e é necessária para gente acabar com a grilagem nas terras. Pessoas sem critérios que derrubam mogno de 200 anos. Essa pessoas vão ter que cuidar, ao tirar uma árvore, plantar outra no lugar. Essa lei é do Congresso Nacional", respondeu o presidente.
"Está errado. É privatização que ele quer mudar de nome e chamar de concessão. Faz concessão para empresa estrangeira, de 30 anos, e para prorrogar por mais 30. Sabe qual é a área? Seis vezes o estado do Acre. Eu vou trabalhar no zoneamento econômico ecológico", disse o tucano.
A segurança pública e os transportes levaram o debate para a comparação entre o governo paulista do candidato do PSDB e a gestão petista nas duas área no governo federal. Lula começou destacando que os problemas de segurança são parte do descaso dos governos anteriores com a distribuição de renda e a educação.
Alckmin voltou a bater na tecla do controle das fronteiras e de os principais problemas da segurança estão relacionados com o tráfico de drogas e o contrabando de armas. "Eu fui na fronteira e está tudo abandonado", disse o candidato do PSDB. Lula rebateu dizendo que 80% das armas apreendidas no Brasil são de fabricação nacional. "A perfeição da polícia de São Paulo resultou no PPC. A política dele para os jovens acabou na Febem.", responde Lula.
Na questão dos transportes, o debate girou em torno das obras de construção dos metrôs de Fortaleza, Salvador e Recife. Alckmin bateu no governo considerando que as obras ficaram paralisados por três anos e só foram retomadas agora no período eleitoral. "Não é um problema fácil de resolver. Se fosse fácil alguém já tinha resolvido", rebateu Lula. O metrô do Recife, disse Lula, começou a funcionar hoje. O candidato petista disse que as obras foram paradas, pois o governo anterior deixou um rombo de R$ 24 bilhões de reais no Orçamento da União.
Terceiro bloco
Os candidatos iniciaram o terceiro bloco do debate falando sobre corrupção. Alckmin afirmou que o Brasil não vai crescer enquanto não erradicar "essa praga" e que a impunidade incentiva o roubo dos cofres públicos.
"Uma nação precisa ter princípios, ter valores. Eu viajei no Brasil inteiro e senti uma indignação com o que aconteceu no país nesses últimos anos. O dinheiro da corrupção é o que falta na escola, o que falta no hospital", afirmou.
O presidente Lula retomou o discurso de que nunca a corrupção foi combatida como no atual governo. "A corrupção está aparecendo agora porque era um tumor que estava enrustido e que, na hora que metemos a agulha e começamos a espremer, começou a sair o pus. Nós resolvemos combater a corrupção", disse o petista.
Alckmin rebateu e disse que os escândalos no atual governo não param e eles continuam a esconder tudo – inclusive a origem do dinheiro que compraria o dossiê. "As coisas começaram no Planalto e não é possível o mandatário não saber o que aconteceu", provocou.
"Deve ter uma técnica de psicodrama que ele fez. Ele chuta as coisas. Falar é fácil, mas você sabe, quando você deita a cabeça no travesseiro, sabe que ninguém nesse país fez investigação como a gente fez", respondeu o petista.
Lula afirmou que a Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, que deve ser aprovada pelo Congresso até o fim do ano, vai desonerar os micro empresários. O petista afirmou ainda que a carga tributária no governo anterior era mais alta. "No governo deles, foi o maior aumento de imposto da história do Brasil. Já desoneramos R$ 32 bilhões de impostos", afirmou.
Alckmin afirmou que reduziu impostos quando era governador de São Paulo e disse que vai fazer o mesmo no governo federal. Lula rebateu: "Nesse país sequer tinha credito para pequeno e micro empreendedor. É a primeira vez que o BNDES destina uma parcela grande para ajudar o micro e pequeno empreendedor", alfinetou o petista.
"O Brasil, que já tinha carga tributária altíssima, passou no atual governo para 38% [do PIB]. Ele aumentou o PIS, a Cofins, o Pasep, a Contribuição sobre o Lucro Líquido. Eu reduzi de 200 produtos", afirmou o tucano. Lula criticou a política tributária de Alckmin e afirmou que defende a guerra fiscal entre os estados e não apóia a aprovação da reforma tributária no Congresso.
As duas perguntas finais do terceiro bloco foram sobre política habitacional e legislação trabalhista. Em relação à política habitacional, pela primeira vez, o presidente Lula contestou os números citados pelo candidato do PSDB. O tucano disse que tinha construído 225 mil casas no seu governo e Lula rebateu dizendo que o número correto era de 59 mil casas.
"Ele está contando desde o início do governo Covas", disse Lula. Alckmin disse que é cauteloso com os números e contra-atacou dizendo que o governo paulista investe um 1% do ICM em moradias populares, o que renderia R$ 1 bilhão. O candidato do PSDB bateu no governo federal dizendo que o governo reservou apenas R$ 45 milhões para o setor de habitação no orçamento da União.
Na questão trabalhista, Lula voltou a jogar a culpa do trabalho informal para os governos anteriores e que, segundo ele, foi quando os trabalhadores começaram a perder empregos. O tucano destacou que metade dos trabalhadores está na economia informal e defendeu que só o crescimento pode gerar novos empregos. "O Brasil pode crescer 5 a 6% do PIB. Não podemos jogar fora a agenda do crescimento", disse o ex-governador de São Paulo. Lula retrucou com o fortalecimento da economia e o fim da dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Quarto bloco
No último bloco do debate da TV Globo, Lula falou novamente dos programas sociais do governo e disse que a maioria das ações são do governo federal. Ele disse que sua gestão iniciou uma mudança que poderia ter sido feita a 40, 50 anos atrás.
"Não existe hoje um programa social deste pais, com exceção dos seus 170 cheque não sei das quantas, que não seja do governo federal. Nós estamos começando a fazer aquilo que poderia ter sido feito há 40, 50 anos. As pessoas sentem que tem uma melhora substancial", afirmou.
Alckmin criticou a ironia com o programa social de seu governo e criticou novamente o governo. "Não tem 160 e qualquer coisa. São 170 mil pessoas que estão recebendo o Renda Cidadã, que precisam desse recurso. Agora, ele acha que está uma beleza. A saúde não está boa, a educação não está boa, a segurança piorou e o desemprego."
Lula questionou Alckmin sobre a segurança, mas, em uma gafe, abriu espaço para uma alfinetada do tucano. Quando perguntava sobre o programa para segurança, o petista encaixou no meio da frase a pergunta "de onde veio o dinheiro".
"Quando o candidato Lula falou de onde veio o dinheiro, achei que ele fosse explicar pra você, telespectador. 45 dias e eles não contam", destilou. Na resposta, Alckmin ressaltou que o PCC não é ligado ao PSDB.
"A segurança pública, eu trabalhei. São Paulo reduziu em 72% homicídio. O PCC não é ligado ao meu partido. Nós temos 130 mil policias, 90 mil bandidos, investimos R$ 10 bilhões. Não é numerologia, são vidas."
Lula rebateu as afirmações do tucano e disse que a Febem, na gestão dele em São Paulo, virou uma fábrica de criminosos. O petista disse ainda que o episódio do dossiê só beneficiou a candidatura tucana e citou o caso da testemunha falsa desvendada hoje pela Polícia Federal.
"O fato é que a polícia pegou os petistas com a boca na botija. A quadrilha do PCC está em penitenciária. Agora, a quadrilha que o procurador-geral da República denunciou está toda solta. Eu vou reduzir todos os índices de criminalidade", respondeu o tucano.
Considerações finais
Nas suas considerações finais, o candidato do PSDB destacou novamente o crescimento da economia e a questão ética. "O Brasil não pode mais continuar com o retrocesso de natureza ética.", disse. "O Brasil pode mais", emendou ao falar sobre o crescimento de 2% brasileiro em relação ao PIB. O tucano também disse que o povo sabe o que não está certo e disse que o slogan do seu adversário "não troque o certo pelo duvido" é uma mentira. Depois do debate no jornal da Globo, Alckmin disse que teve a oportunidade de expor suas idéia e pedir a mudança.
O presidente Lula, em suas considerações finais, agradeceu e afirmou: "De um lado tem um governo que vocês conhecem, que as coisas estão acontecendo nesse país. Nós estamos fazendo e poderemos fazer muito mais". O Presidente Lula prometeu 300 mil vagas no Prouni , e afirmou que no seu governo fará "com que os afro-decentes tenham cidadania plena nesse país". "Nós vamos fazer acontecer nesse país. Nós queremos dar continuidade a uma coisa que está acontecendo no Brasil", finalizou o presidente.
O debate entre os presidenciáveis da TV Globo acabou faltando 1 minuto para a meia-noite.
Reações ao debate
Lula
"Nós temos duas posições diferenciadas. São dois projetos distintos. E eu espero que o povo brasileiro saiba tomar a sua decisão de forma madura. Nós precisamos ter a certeza de que o futuro será muito melhor para o povo brasileiro".
Alckmin
"Os eleitores que vieram participar do debate trouxeram os problemas do país. Discutimos as questões nacionais. Acho que o Brasil não pode continuar do jeito que está. O Brasil pode mais. O que está em discussão não é o passado, é o futuro, quem pode fazer mais pelo país".