Fábio Góis
O jogo político produz episódios de todos os matizes. Solenes, patéticos, constrangedores, estranhos, inusitados, o certo é que, seja qual for sua natureza, sempre há protagonista (s) a produzi-los. E a opinião pública brasileira, a cada dia mais atenta ao turbilhão dos fatos – e factóides, reveladores coadjuvantes de uma disputa nem sempre limpa –, assiste atônita à consecução dos capítulos da velha novela.
A locomotiva de notícias não pára no Congresso Nacional, um dos pilares da nossa democracia pós-moderna. Desde que, pela primeira vez no Brasil, um governo de esquerda se estabeleceu no poder, com a vitória do presidente Lula em
Nesta semana em que os descontos nos repasses federais para a educação foram eliminados no Congresso e o ingresso da Venezuela no Mercosul foi aprovado em uma comissão do Senado, o Congresso em Foco leva ao leitor um vídeo que, embalado, entre outras, na trilha sonora de “Um samba no Bixiga”, samba de breque à moda antiga composto por Adoniran Barbosa e interpretado pelos Demônios da Garoa, resgata alguns momentos recentes de nossa combalida República.
“Estão dizendo que esta CPI [da Petrobras] acaba em pizza temperada com pré-sal”, quis saber de Lula um repórter antenado. “Depende. Todos eles [senadores] são bons pizzaiolos”, rebateu o presidente, ao melhor estilo “o que der na telha”, provocando a revolta dos profissionais da iguaria italiana. E, obviamente, dos próprios parlamentares. “Ele vai continuar usando e abusando da sua popularidade. Ele não tem princípios. É pior do que o pior dos generais que exerceram a ditadura neste país”, ataca Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), um dos mais ferrenhos opositores de Lula no Parlamento. O que se vê em seguida é uma imagem curiosa: Lula se curva fortuitamente, as mãos como se aparassem uma boa de basquete, qual um bom malandro-bamba a se esquivar de um golpe de pandeiro.
Em outra situação (quase) surreal, não a tivéssemos vivenciado, o vídeo mostra a tropa de choque do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), manifestando a fidelidade canina. Comédia pastelão das piores. “Ato secreto é bobagem”, sapeca o escudeiro e suplente de suplente Paulo Duque (PMDB-RJ), maestro de uma das maiores pizzas já produzidas em qualquer conselho de ética de qualquer instituição de qualquer país. Deste ou de qualquer outro planeta.
O Senado, que padeceu durante cerca de sete meses em uma das mais graves crises de sua história, estrela o hilário filmete de 5 minutos e 6 segundos. Você, caro internauta, a ele pode assistir enquanto se veste para aproveitar o dia. Bom sábado!
Abaixo, a letra de Um samba no Bixiga, do saudoso Adoniran:
Um samba no Bixiga
(Adoniran Barbosa)
Domingo nóis fumo num samba no Bixiga
Na Rua Major, na casa do Nicola
Á mezza notte o’clock saiu uma baita duma briga
Era só pizza que avoava junto com as brajola
Nóis era estranho no lugar
E não quisemo se meter
Não fumo lá pra brigar
Nóis fumo lá pra comer
Na hora H se enfiemo debaixo da mesa
Fiquemo ali de beleza, vendo o Nicola brigar
Dali a pouco escuitemo a patrulha chegar
E o sargento Oliveira falar:
“Num tem importância, vou chamar duas ambulância!”
Calma pessoar! A situação aqui tá muito cínica!
Os mais pior vai pras Clínica
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