As eleições municipais demonstram que o eleitor está desanimado com os políticos. Vários prefeitos eleitos tiveram menos votos do que os nulos e em branco, e a abstenção superou os índices das eleições anteriores.
A discussão sobre o financiamento público de campanha e o fundo partidário vai além da política e pode encobrir a participação do crime organizado na escolha de candidatos ficha limpa; porém, servidores das quadrilhas que transformaram o país num campo de guerra.
Os caminhos abertos pela Operação Lava Jato desvendaram o saque aos cofres públicos e a atuação de políticos corruptos mancomunados com empreiteiros corruptores que formaram a maior quadrilha já desbaratada em terras d’ além-mar, desde a chegada de Cabral – o de 1.500!
Centenas de prefeitos, vereadores, deputados, senadores já trocaram o terno bem talhado pelo uniforme laranja que identifica os submetidos à prisão. A delação dos executivos da Odebrecht implodirá o caixa-eletrônico do poder, espalhando milhões de reais e moedas estrangeiras marcadas em cores exuberantes para que se saiba que foram desviadas do erário.
Sobre essas questões, o eleitor sabe de tudo e escolheu candidatos que poderão melhorar as suas vidas. A eleição de políticos idosos e experientes, como Humberto Souto, Iris Rezende e alguns mais, reflete que a população idosa se manifesta, elegendo candidatos conhecedores dos problemas dessa parcela que sofre sem atendimento digno na saúde e na segurança pública. Os prefeitos mais velhos conhecem as necessidades dos aposentados ou dos beneficiários de miseráveis rendimentos.
De fato, o único privilégio que o idoso possui é a prioridade no atendimento em órgãos públicos e, se tiver veículo, tentar estacionar numa vaga, muitas das vezes ocupada por motoristas arrogantes e agressivos.
A maioria dos denominados “da melhor idade”, sabe que a vida, como uma vela, está se apagando, mas necessitam trabalhar para colaborar na renda familiar ou manter netos e bisnetos que não sabem se poderão contribuir para a previdência pela falta de emprego formal.
Em encontro informal, ouvi de um participante de grandes momentos da política nacional que Miguel Arraes, no seu retorno ao governo de Pernambuco, perguntado quem apoiaria na disputa da presidência da República, respondeu: “Com Brizola tenho diferenças históricas, é difícil apoiá-lo. Lula, não é um líder político é, na verdade, um pelego defensor dos ‘carteiras assinadas'”. E encerrou a conversa com uma baforada de charuto dizendo: “Está difícil!”.
O velho cacique sabia das coisas e, naqueles tempos, já avaliava o desastre que nos seria imposto pelos companheiros. Felizmente, parece que o povo está procurando novos rumos.
Estas eleições, como tantas outras que realizamos desde a redemocratização do país, foram difíceis; e as próximas, mais difíceis serão. O esvaziamento do Congresso Nacional devido ao afastamento de políticos envolvidos com as empreiteiras seguirá em ritmo acelerado, devastando carreiras e jogando na cadeia inúmeros investigados, denunciados, ou réus que hoje gozam do abrangente foro privilegiado.
Neste momento complexo da vida nacional surgiram os representantes de fiéis que, em nome de Deus, ocuparão cargos importantes nos governos. O Estado laico, que não é respeitado, a cada dia terá legislação baseada em fundamentos religiosos, dividindo ainda mais as relações entre fiéis das nossas várias religiões e seitas que, hoje, tentam harmonizar a convivência entre os cidadãos. Que, em nome do Pai, possamos superar os obstáculos dos nossos indecifráveis caminhos.