O ex-presidente da Câmara e deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) rebateu declarações do presidente Michel Temer (PMDB) em entrevista à TV Bandeirantes, concedida no último sábado (15). Por meio de carta escrita de próprio punho e datada de ontem (segunda-feira, 17), o peemedebista diz que “não existiu o diálogo descrito pelo presidente com relação aos fatos sobre o impeachment”, ocorrido dias antes da abertura do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). A carta foi revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo desta terça-feira (18).
De acordo com Eduardo Cunha, que está preso no Complexo Médico-Penal em Pinhais desde outubro de 2016, o encontro ocorreu para submeter a Temer o parecer de abertura do impeachment da petista, preparado por “advogados de confiança” dos dois, dias antes de aceitar a abertura do processo de afastamento na Câmara.
Leia também
“O verdadeiro diálogo ocorrido sobre o impeachment com o então vice-presidente, às 14h da segunda-feira 30 de novembro de 2015, na varanda do Palácio do Jaburu, 48 horas antes da aceitação da abertura do processo de impeachment, foi submeter a ele o parecer preparado por advogados de confiança mútua, foi debatido e considerado por ele correto do ponto de vista jurídico”, diz em trecho da carta.
Na versão relatada por Temer, o presidente contou o seguinte: “Em uma ocasião, ele [Cunha] foi me procurar – e isso era umas duas horas da tarde, mais ou menos – dizendo: ‘Olha, eu hoje vou arquivar todos os pedidos de impeachment da presidente – e eram dez ou 12 pedidos –, porque prometeram-me os três votos do PT no Conselho de Ética’. Eu disse: ‘Ora, que bom. Muito bom. Assim acaba com essa história de você estar na oposição, etc. Até porque, convenhamos, eu sou o vice-presidente da República, do PMDB, e fica muito mal essa situação de você, a todo momento, estar se posicionando como oposicionista’”, relatou.
Ex-aliado do deputado cassado Eduardo Cunha, na entrevista concedida no último sábado (15) à emissora, Temer admitiu que o ex-presidente da Câmara só deu andamento a um dos pedidos de impeachment da então presidente Dilma porque os três petistas do Conselho de Ética que o julgou por cerca de dez meses – Léo de Brito (PT-AC), Valmir Prascidelli (PT-SP) e Zé Geraldo (PT-PA) – não aceitaram votar pela sua absolvição.
Na carta, Cunha negou ainda que o encontro relatado pelo ex-executivos da Odebrecht Márcio Faria da Silva, no escritório de Temer em São Paulo, em 15 de julho de 2010, tenha sido marcado por ele – conforme Temer afirmou em nota enviada à imprensa na última semana. De acordo com o delator da Odebrecht, da conversa surgiu o pagamento de US$ 40 milhões referentes a um contrato da empreiteira com a Petrobras. Temer nega ainda que tenha falado em valores durante a reunião. Neste ponto, Cunha também concorda. O Palácio do Planalto informou que não vai se pronunciar sobre a carta de Cunha.
PublicidadeConfira abaixo carta escrita por Cunha e divulgada pelo jornal O Estado de S. Paulo:
“Com relação a entrevista do sr. Presidente da República à Rede Bandeirantes no último sábado, dia 15 de abril, repetida no domingo, tenho a esclarecer o que se segue:
Lamento que nesta data, onde se completa um ano da votação da abertura do processo de impeachment na Câmara dos Deputados, comandada por mim, tenha de vir a público desmentir o presidente que assumiu o cargo em decorrência desse processo.
Não existiu o diálogo descrito pelo presidente com relação aos fatos sobre o impeachment e o meu livro detalhará todos os fatos reais sobre o impeachment em ordem cronológica com farta comprovação.
O verdadeiro diálogo ocorrido sobre o impeachment com o então vice-presidente, às 14h da segunda-feira 30 de novembro de 2015, na varanda do Palácio do Jaburu, 48 horas antes da aceitação da abertura do processo de impeachment, foi submeter a ele o parecer preparado por advogados de confiança mútua, foi debatido e considerado por ele correto do ponto de vista jurídico.
Com relação a reunião com o Executivo da Odebrecht, o presidente se equivocou nos detalhes. A referida reunião não foi por mim marcada, embora tivesse tido várias outras reuniões sobre doações marcadas por mim. Nesse caso, o fato é que estava em São Paulo, juntamente com Henrique Alves e almoçamos os três juntos no restaurante Senzala, ao lado do escritório político dele após outra reunião e fomos convidados eu e o Henrique a participar dessa reunião já agendada diretamente com ele.
Efetivamente na referida reunião não se tratou de valores nem referência a qualquer contrato daquela empresa. A conversa girou sobre a possibilidade de possível doação e não corresponde a verdade o depoimento do executivo.”