A Secretaria de Justiça e da Cidadania do Ceará informou ao Congresso em Foco que o serviço de inteligência da pasta analisa a veracidade de uma gravação atribuída a presidiários que se identificam como lideranças da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) no estado. No áudio, que circula pelo Whatsapp, eles comemoram o massacre que resultou na decapitação de 26 detentos da Penitenciária Estadual de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte, no último fim de semana, afirmam que a “guerra não acabou” e fazem uma oração pelos colegas de facção assassinados em confrontos em outros presídios no início deste ano.
No início da gravação, um dos interlocutores declara que fala diretamente da Privação Provisória de Liberdade (CPPL) III, em Itaitinga, “QG (Quartel General) do 15 (PCC)” para “dar um grito de guerra em vitória aos nossos irmãos do Rio Grande do Norte”. Em seguida, um preso que se apresenta como “Irmão Trovão” anuncia como uma vitória o massacre no Rio Grande do Norte. “Vencemos hoje o nosso maior inimigo do Nordeste, o Sindicato do RN não existe mais. Tá ligado (sic), meus parceiros?” A fala é sucedida por gritos de comemoração.
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Ouça o áudio:
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PublicidadeEm seguida, o interlocutor diz que a facção pode dar a “volta por cima, com inteligência, sabedoria e disciplina” no Ceará e ainda sugere uma estratégia para que isso ocorra: “Nessa hora temos de ser muito cautelosos, batizar em sigilo nas cadeias desse estado do Ceará. Nós não perdemos a guerra, só a batalha”. “Vamos ter cautela. Os que nós perdeu (sic) nós vamos recuperar, dia e noite, nós vamos recuperar”, acrescenta.
Salmo 17
O criminoso, então, passa a fazer uma oração – uma versão resumida do Salmo 17 – pelos companheiros de facção mortos e em homenagem aos seus familiares. “Vamos fazer oração aos nossos irmãos que se foi (sic) nessa luta, nessa guerra, que é o nosso sangue. Vamos incansavelmente lutando dia e noite pela nossa família do PCC. Suas famílias ficaram aí, seus parentes, nós estamos aqui”.
“Ouve, Senhor, a justiça; atende ao meu clamor; dá ouvidos à minha oração, que não é feita com lábios enganosos. Saia a minha sentença perante o teu rosto e a razão. Provaste o meu coração; visitaste-me de noite e nada acha. Propus que meu coração não transgredirá tanto pelo trato quanto pela tua palavra. Me guarde das veredas do destruidor. Dirige os meus passos nos teus caminhos, para que as minhas pegadas não vacilem. Eu te invoquei, ó Deus, pois me queres ouvir. Guarda-me como a menina que dá sobeja às suas crianças. Quanto a mim, contemplarei a tua face na justiça quando eu acordar”, lê o presidiário.
Segundo a Secretaria estadual de Justiça e Cidadania, o material será analisado e, caso seja confirmada a sua veracidade, “as medidas necessárias serão adotadas”. No Ceará, os presos foram separados por facções para evitar confronto logo após o massacre que resultou em 56 mortes no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, na virada do ano. Os crimes no Amazonas foram atribuídos à Família do Norte (FDN), ligada ao Comando Vermelho, do Rio de Janeiro, rival do Primeiro Comando da Capital. Uma semana depois, em Roraima, novo massacre resultou em 31 mortos, vinculados ao Comando Vermelho e à FDN. A autoria foi atribuída ao PCC. Até o momento não houve registro de incidentes nas cadeias do Ceará. Após a divulgação do áudio, porém, policiais reforçaram a vigilância de algumas unidades prisionais no estado.
No último sábado, 26 presos foram assassinados e decapitados no Rio Grande do Norte pela organização criminosa paulista. Os mortos eram do Comando Vermelho, da FDN e do Sindicato do Rio Grande do Norte.
Em seguida, outro preso, que se apresenta como “Irmão Cigano” faz ameaças. “Não pensem nossos inimigos que estaremos de brincadeira. Quem tocar em um PCC será morto. Se tocar em nossas famílias, receberão a resposta à altura, porque unidos…”, afirma. “Venceremos”, completam os demais presidiários. O áudio é encerrado aos gritos de 1533 – em alusão ao P (15ª letra do alfabeto) e ao C (terceira letra).