Daniella Borges
O grupo talvez não seja tão musical nem tão sincronizado quanto àquele que fez meninas de todo o mundo se descabelarem há mais de 20 anos, mas certamente os deputados menudos da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) não teriam grande dificuldade para entoar o refrão da principal música dos porto-riquenhos: “Sobe, desce como quiser. Sonha, vive como eu. Pula, grita, ôooo, como eu. Não se reprima. Não se reprima”.
No plenário da comissão mais importante da Câmara, os jovens deputados não se reprimem. Há duas semanas, Bruno Araújo (PSDB-PE), Efraim Filho (DEM-PB) e Felipe Maia (DEM-RN) – acompanhados de outros parlamentares da oposição nem tão jovens assim – não perderam o ritmo da batucada liderada por ACM Neto (DEM-BA) – que até lembra o ex-menudo Robbie Rosa – e se revelaram afinadíssimos ao entoar o coro de “golpista, golpista, golpista” contra o presidente da comissão, Leonardo Picciani (PMDB-RJ).
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Picciani foi acusado de patrocinar uma manobra para garantir a aprovação de recurso do PT que impedia a implantação da CPI do Apagão Aéreo. Do grupo, restou a ele apenas a solidariedade do também governista Maurício Quintella Lessa (PR-AL). O presidente da CCJ até que tentou restabelecer a ordem. "A CCJ não é palco para histeria e histéricos", disse, elevando o tom da voz, ao repreender o colega baiano. Histeria, aliás, era a palavra que melhor caracterizava a reação das fãs diante dos Menudos nos anos 80.
Banda em conflito
ACM Neto herdou do avô o estilo de criar “confusões” por onde passa. Provocativo, conhece bem os meandros da Câmara. O advogado, que está em seu segundo mandato, tem bom conhecimento do regimento interno da Casa e das questões que permeiam a CCJ. Aos 28 anos, comporta-se como um veterano da política. Não é para menos, além de neto de senador, é sobrinho do ex-presidente da Câmara Luís Eduardo Magalhães, que morreu em 1998. O seu pai, Antonio Carlos Magalhães Filho, é suplente de ACM. O primo Paulo Magalhães (DEM-BA), de 55 anos, também é seu colega de comissão.
Ao lado de deputados mais experientes, ACM Neto tem questionado o preparo de Picciani para presidir o mais poderoso colegiado do Legislativo. “Nenhum deputado da oposição terá vergonha na cara se deixar o senhor continuar a dirigir a CCJ depois desse episódio", disse o baiano, dirigindo-se a Picciani, logo após a aprovação do arquivamento da CPI.
O líder do DEM na Câmara, Onyx Lorenzoni (RS), de 52 anos, endossou as críticas ao peemedebista. “Picciani tem demonstrado inadequação para o exercício do cargo. Não está à altura. Talvez a juventude seja uma dificuldade. A pouca experiência, talvez outra, e a pouca solidez dos conhecimentos constitucionais e jurídicos”, emendou.
O presidente da CCJ por pouco não foi agredido fisicamente pelo líder da oposição, Júlio Redecker (PSDB-RS), que partiu pra cima de Picciani ao ser chamado de “leviano” pelo deputado fluminense. O gaúcho foi contido pelos colegas, e só se acalmou após ouvir o pedido de desculpas do peemedebista.
Efraim Filho também questiona a atuação do colega. “Picciani cometeu alguns erros de condução em virtude do conflito do Apagão Aéreo”. O deputado Bruno Araújo concorda, mas tenta estimular o presidente da comissão: “Ele tem vivido momentos difíceis, sobretudo por conta da CPI do Apagão, mas acredito que ele amadurecerá na presidência e passará a exercê-la de forma mais neutra, porque houve excesso do partido dele”.
O presidente da Comissão de Constituição e Justiça é recém-formado em direito. Mas o sítio da Câmara registra que ele é estudante universitário e agropecuarista. Na biografia do deputado, consta apenas a data de início, mas não a da conclusão do curso na Faculdade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro.
Em seu quinto mandato de deputado estadual no Rio, o pai de Leonardo Picciani é dono da fazenda Agrovás, em São Felix do Araguaia (MT). Em junho de 2003, a fazenda foi alvo da fiscalização do Ministério do Trabalho, que flagrou 39 trabalhadores em condições análogas à de escravo.
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